Sábado, 01 Fevereiro 2025
O Estado brasileiro, com base nos desejos da sociedade civil, necessita definir o que quer para o sistema portuário nacional, incluindo a questão dos portos públicos e as diretrizes para um planejamento seguro visando os próximos 50 anos. Esse é o ponto fundamental para o desenvolvimento do segmento no Brasil segundo avaliação do diretor-executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), José Roberto Sampaio Campos. Para ele, as Autoridades Portuárias ainda caminham para se tornarem verdadeiras “autoridades portuárias”, como na expressão da palavra, já que ainda se comportam como meras administradoras das Docas.

 

Em entrevista exclusiva à reportagem de PortoGente, Campos - membro do Conselho de Autoridade Portuária (CAP) do Porto de Santos - afirmou que a Secretaria Especial de Portos (SEP) deve desenvolver estudos para definir a posição do Estado no sentido de atender a comunidade portuária e a população brasileira, independente das preferências das autoridades governamentais. “Temos que parar de brincar e de mexer com marcos regulatórios. É preciso desenvolver uma política permanente, que venha atender ao Estado, não ao governo. O Estado suplanta governos”. 

 

Como representante de uma entidade que defende os interesses da iniciativa privada, Campos analisa que a partir do momento em que o poder público não cumpre com suas obrigações, o empresariado investe em obras que, a princípio, não deveriam receber verbas privadas. Isto é inevitável, pois, caso não seja feito, as empresas poderão enfrentar dificuldades econômicas e ‘quebrar’. “O setor privado faz isso para resolver seu problema particular”. A inversão de valores, explica o diretor-executivo, surge da falta de planejamento do Estado, já que a cada mudança nas administrações, alteram-se procedimentos básicos ligados à logística portuária.

 

Os principais gargalos que prejudicam o desenvolvimento da atividade portuária no País são conhecidos por todos. Até por isso, lembra Campos, o “setor não tem divisões. Existe o bem comum, que não divide, ele soma para todos. O setor não tem divisões, tem brigas, cada um com interesse lícito por melhores resultados”. Todavia, nas questões macro, ele avalia que todas as esferas estão trabalhando por melhores acessos terrestres e marítimos e por diversas outras melhorias que só beneficiariam a todos os envolvidos.

 

Qualificação

A falta de conhecimento técnico portuário, aponta o representante da Abtra, é um dos grandes problemas que ainda dificultam o bom funcionamentos dos portos brasileiros. Segundo ele, a necessidade de qualificação abrange todos os envolvidos, desde os trabalhadores, passando pelos usuários dos portos e pelos administradores das atividades portuárias. “Há seis meses, questionei um engenheiro da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo) sobre o último curso que ele tinha feito. Ele me respondeu que estava fazendo MBA, mas que a Docas nunca pagou qualquer curso. Nas Docas, não há investimento no treinamento dos funcionários”. Para Campos, essa lacuna é um equívoco, pois cada profissional acaba buscando o treinamento por si só, sem orientação. “Na (época da) CDS (Companhia Docas de Santos) tínhamos um sistema evoluído, mas que foi abandonado quando a Companhia foi transferida para o governo federal”.

 

Ainda sobre o Porto de Santos, o executivo considera que a atual diretoria da Codesp tem um “nível técnico alto”, mas ainda não contempla da experiência política necessária para gerir a estatal. “Aí acontecem problemas diversos; mas com certeza a diretoria está no caminho de colocar a Codesp nos trilhos”.

 

Para propiciar um conhecimento técnico alto, também, aos demais envolvidos com o cais santista, Campos aponta a criação do Centro de Excelência Portuária (Cenep) como um “grande passo”. Denominando a instituição como um “marco divisor no setor”, ele prevê que o Centro irá resolver inúmeros temas em questão hoje no principal porto da América Latina. “O Cenep, entre outras coisas, vai facilitar o entendimento da relação capital-trabalho”.

 

Como início desse processo, a Secretaria Municipal de Assuntos Portuários e Marítimos, organizou uma delegação para visitar portos holandeses e belgas, no final de novembro de 2007, o que já preparou sindicalistas, operadores portuários e demais participantes sobre a transição para a nova realidade do sistema portuário mundial. Assim, espera-se que conflitos entre empregado e empregador sejam reduzidos e acordos sejam mais facilmente elaborados.

 

A respeito da emenda à MP 412, apresentada pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que altera a Lei 8.630/93 ao propor que os terminais privativos localizados fora da área de porto organizado possam trabalhar com cargas de terceiros sem comprovar que tem carga própria, Campos cita mais uma vez a ação imprescindível do Estado brasileiro. Ele lembra que caso se opte por alterações na questão dos portos públicos, será necessário redigir um Projeto de Emenda à Constituição Federal (PEC), já que a mudança bate de frente com aspectos presentes no principal documento da República.

 

“Se o governo analisar e constatar que é isso (mudanças nas regras dos terminais privativos) que a sociedade precisa, terá que fazer um PEC. Marco regulatório não pode ser mudado de acordo com pequenas necessidades. No mundo todos, os marcos estão estabelecidos há muito tempo. Isso facilita o planejamento. Qual empresa vai assinar um contrato por 50 anos, se no décimo-terceiro as regras do jogo mudam?”.

 

Fonte: PortoGente - 18 MAR 08

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