Sábado, 01 Fevereiro 2025

A Metalfrio despachou recentemente um time de dez brasileiros para Kalingrado, um pequeno território russo entre a Polônia e a Lituânia. Engenheiros e técnicos foram para a terra gelada mostrar aos funcionários locais de uma das quatro fábricas da companhia no exterior como produzir freezers de forma mais eficiente. O grupo de desbravadores sairá de cena seis meses depois do início da missão. Foi assim no México e na Turquia, onde a Metalfrio também adquiriu empresas.

Desde que a companhia saiu para explorar o mundo, há pouco mais de um ano, eles passam mais tempo fora que dentro do Brasil. Embora não seja gigante - seu faturamento é de R$ 576 milhões -, a Metalfrio já deve encerrar o ano com metade da produção fora do País, o que a colocará entre as empresas brasileiras mais globalizadas.

A companhia estuda agora oportunidades de aquisição na Ásia, segundo fontes próximas à Metalfrio. Depois de ocupar a Europa e o México, o continente asiático passou a ser um destino natural, diz o presidente da empresa, Luiz Eduardo Moreira Caio. A saga é exemplar do esforço de internacionalização das empresas brasileiras nos últimos anos.

Quatro anos atrás, a companhia era uma subsidiária modesta da multinacional alemã BSH, dona da Bosch. Era líder em vendas de freezers comerciais no Brasil e exportava uma pequena fração da sua produção, mas tinha receita três vezes menor. Em janeiro de 2004, foi vendida por R$ 16 milhões para a Artesia, gestora de recursos que tem, entre outros negócios, a rede de moda feminina Le Lis Blanc. No ano passado, abriu seu capital. Suas ações ficaram entre as que mais se valorizaram considerando-se as novatas da Bolsa em 2007. Hoje, a multinacional brasileira, que está entre as três maiores do ramo no mundo, vale R$ 900 milhões.

“A Metalfrio tem um projeto ambicioso e claro de internacionalização, que é baseado na competitividade tecnológica e de produção”, diz Luiz Carlos de Carvalho, professor da Fundação Dom Cabral e um dos responsáveis pelo ranking anual das empresas transacionais. Segundo Carvalho, é difícil dizer quantos degraus ela pode saltar, até porque as outras empresas também evoluem. Em 2006, a primeira do ranking, a Gerdau, tinha 54% das suas receitas fora do País.

O que chama a atenção na estratégia expansionista da Metalfrio é a velocidade com que ela ocorre. Na última lista, que leva em conta os dados de 2006, a companhia aparecia na 14ª posição. Naquele ano, menos de 2% da produção e da receita estavam fora do Brasil - as fábricas da Dinamarca e da Rússia haviam sido compradas, mas não totalmente incorporadas. Em 2007, esse percentual subiu para 26,6%. A previsão de chegar a 50% leva em conta o aumento da produção nas fábricas já existentes no exterior e a aquisição, no fim do ano passado, da Senocak Holding, maior empresa do ramo na Turquia.

SOBREVIVÊNCIA

A Metalfrio escolheu esse caminho por uma questão de sobrevivência. No mundo, inúmeras fabricantes de freezers comerciais já estavam debilitadas, com balanços no vermelho, gestões antiquadas, problemas de escala e de sucessão familiar - boa parte delas nasceu na mesma época da Metalfrio, entre os anos 50 e 60. “Com a chegada do novo dono, passamos o primeiro ano conversando com gente do setor em todo o mundo. Várias empresas estavam à venda”, diz Caio. “Há cinco anos, não havia nenhuma grande empresa nessa área. Hoje existem três ou quatro. E a Metalfrio é uma delas.”

A tecnologia de fabricação de freezers já não tem mais mistério. Carvalho, da Dom Cabral, diz que o que tem feito a diferença é a eficiência de produção. Comprar plantas no exterior foi um dos caminhos que a Metalfrio encontrou para baratear os custos de entrega nos vários cantos do mundo onde estão seus clientes. “No fim das contas, vivemos de menos de dez clientes”, diz Caio. São fabricantes de sorvetes, como Nestlé e Häagen-Dazs, e cervejarias, como InBev e Heineken.

Segundo Carvalho, a saga da Metalfrio lembra, em alguma medida, a da empresa Duas Rodas, que também aparece bem colocada no ranking. Trata-se de uma fabricante brasileira de aromas, aditivos e condimentos com unidades na Argentina, Chile e Peru. “A Duas Rodas descobriu sua capacidade ao seguir clientes fora do Brasil. É assim que caem alguns mitos. Os brasileiros têm muito a ensinar”, diz.

Fonte: O Estado de S.Paulo - 17 MAR 08

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