Domingo, 02 Fevereiro 2025

A Tramontina está desafiando a lógica do capitalismo moderno. Enquanto o mundo inteiro transfere fábricas para a Ásia, onde os custos são mais baixos, a brasileira resolveu fazer o caminho contrário. Ela já produz 50 mil panelas de alumínio por dia na mesma planta do Estado de Wisconsin, nos Estados Unidos, ocupada até pouco tempo atrás por uma de suas principais concorrentes, a americana Mirro, que fechou os portões para tentar a sorte na China e no México. A estratégia às avessas ainda pode ir além: a Tramontina já comprou terreno e estuda a possibilidade de construir, dentro de cinco anos, uma segunda fábrica, em Houston, no Texas, ao lado da sede e do centro de distribuição da companhia nos EUA.

A empresa fez as contas e concluiu que fazer uma panela na China e levá-la até os EUA, seu principal mercado fora do Brasil, sairia mais caro do que fabricá-la localmente. Ou seja: a empresa optou por perder em mão-de-obra, mas ganhar em agilidade e não pagar pela burocracia e nem pelas tarifas de importação e de transporte. “Foi uma boa oportunidade que surgiu. A fábrica era completamente automatizada, o que aliviaria os custos de mão-de-obra, e exigiu um investimento mínimo”, diz o presidente da companhia, Clovis Tramontina.

No mercado americano, a lógica dominante é oposta: mais da metade das panelas vendidas no país é fabricada no exterior. A aposta, ousada à primeira vista, está dando certo por enquanto. A Tramontina alugou a fábrica no fim de 2006, passou a produzir em plena carga a partir do ano passado e já está, neste início de ano, com a produção vendida até julho. Ela atualmente produz no país um terço de suas vendas locais. O resto vem do Brasil.

Enquanto as vendas de panelas aumentaram entre 2% e 3% nos EUA, a Tramontina cresceu, em média, 20% ao ano nos últimos cinco anos. De cada 100 panelas vendidas no mercado mais concorrido do mundo, pelo menos 15 são da marca Tramontina - sim, nenhum de seus produtos sai de fábrica sem o nome da família de Carlos Barbosa, cidadezinha da Serra Gaúcha com pouco mais de 20 mil habitantes.

A marca é uma das principais fornecedoras de grandes cadeias de varejo como Wal-Mart, Costco, Target e Sears. “Nós crescemos às custas das perdas dos outros fabricantes. A decisão da Mirro, por exemplo, se mostrou errada com o tempo. Ela perdeu muito mercado e acabou sendo vendida”, diz o presidente da Tramontina USA, Antonio Galafassi.

SORTE OU PERSPICÁCIA

No último ano, quando vieram à tona escândalos de contaminação e de defeitos em produtos chineses, o tempo da estratégia contou a favor da Tramontina. “O produto que tem estampado o ‘made in USA’ é agora sinônimo de qualidade e segurança. Por causa disso, fabricar nos Estados Unidos virou uma tendência nova entre as empresas”, diz Galafassi. “Tivemos sorte, ou perspicácia, de sermos pioneiros nesse movimento.”

Apesar de os chineses e o câmbio jogarem contra a companhia há pelo menos dois anos, a Tramontina consegue manter o faturamento e o volume de suas exportações mais ou menos constantes, o que faz dela uma sobrevivente. Desde 2005, as vendas externas ficam ao redor de US$ 150 milhões. A companhia compensou a perda em alguns mercados com a descoberta de outros, como os países árabes, onde já se falsificam facas com a marca Tramontina. A empresa acaba de inaugurar um centro de distribuição em Dubai, que vai abastecer o Oriente Médio e o Leste Europeu.

O faturamento, de R$ 2 bilhões, foi exatamente o mesmo em 2006 e em 2007. Há cinco anos, porém, era duas vezes menor. O lucro da empresa no ano passado foi melhor que o do anterior, mas ainda um pouco abaixo do de 2005, quando a empresa foi obrigada a rever seus preços e algumas de suas linhas de produtos que concorrem diretamente com os chineses.

“Por enquanto, o resultado não nos preocupa. O importante é que a empresa continue dando lucro”, diz Clovis, fã do best seller O Segredo e entusiasta da teoria do pensamento positivo. “Pensar positivo atrai boas coisas.”

Fonte: O Estado de S.Paulo - 21 JAN 08

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