Domingo, 02 Fevereiro 2025

O plano da Gerdau de investir US$ 400 milhões em uma usina de aços planos no Brasil já suscita intensa disputa entre governos estaduais para levar o empreendimento. Nessa briga, a principal arma para conquistar os "açodólares" da multinacional gaúcha devem ser os incentivos fiscais. A expectativa é de que diversos estados ofereçam propostas de benefícios à siderúrgica, e o Rio Grande do Sul já se coloca como candidato natural.

"O governo vai fazer o possível e o impossível para ter o investimento aqui", revela o secretário do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais, Renan Proença, confirmando a intenção de entrar na guerra pela nova fábrica da Gerdau. O investimento é considerado estratégico para a economia do Estado, uma vez que o laminador poderia ser um complemento para o nascente pólo naval do Rio Grande.

Se o projeto viesse para o Estado, a Gerdau estaria se redimindo de um investimento alardeado em 1998 e que não se concretizou. Há 10 anos, a empresa chegou a anunciar a implantação de uma unidade de laminados a frio (insumo para linha branca e setor automotivo) em Nova Santa Rita. O projeto, no entanto, foi abortado devido à desistência da Ford de implantar uma planta no município de Guaíba.

Para o presidente da Assembléia Legislativa, Frederico Antunes, a operação para conquistar a preferência da Gerdau deve exigir uma união de esforços entre governo, legislativo e o setor privado. "Temos que ter esse tipo de atitude. Juntar forças para fazermos com que exista um entendimento de todas as partes para que o Rio Grande do Sul consiga atrair esse avanço", destaca.

Quem também deve procurar a Gerdau buscando sediar o investimento é a prefeitura de Nova Santa Rita. No município, a esperança é de que a companhia ocupe a área de 750 hectares adquirida para receber o projeto planejado em 1998. O prefeito Amilton da Silva Amorim está confiante. Ele acredita que a origem gaúcha da companhia deve pesar para que o Rio Grande do Sul seja escolhido.

Apesar da disposição demonstrada por Proença, o governo pode enfrentar dificuldades para ser um competidor forte na batalha dos incentivos fiscais por conta dos problemas de caixa de tesouro estadual, que deve enfrentar um déficit de R$ 1,3 bilhão em 2008. "Não creio que, na atual situação, o Estado tenha muitas condições de competir nessa guerra fiscal", avalia o presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Adelar Fochezatto.

Os principais trunfos do Estado para conquistar o empreendimento da Gerdau passam longe da batalha de isenções tributárias, na opinião de Fochezatto. Para garantir o empreendimento, as principais virtudes seriam a qualificação da mão-de-obra e o potencial de demanda por aço do pólo naval rio-grandino.

Frete encarece em 6% a aquisição
de aços planos no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul não produz aços planos, o que onera em 6% as companhias gaúchas para trazer o produto de outros estados, informa o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico e Eletrônico do Estado (Sinmetal-RS), Gilberto Petry.

As usinas que fabricam o produto atualmente no País estão localizadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Santa Catarina. Para Petry, seria uma excelente vantagem estratégica, para alguns setores da economia gaúcha, se a nova unidade da Gerdau vier para o Estado. "Vamos torcer para que esse investimento fique no Rio Grande do Sul", enfatiza o dirigente.

Petry acredita que fatores como incentivos fiscais, logística e mercado consumidor definirão a localização do novo investimento do Grupo. O presidente do Sinmetal-RS calcula que o consumo de aços planos no Estado gira em torno de 1 milhão de toneladas ao ano. São consumidores do material setores como o metalmecânico e de máquinas agrícolas. Entre as empresas que adquirem o produto estão nomes como Randon, GM, Marcopolo, entre outras.

A construção naval é outro segmento que utiliza os aços planos. O Dique Seco que está sendo implementado no município do Rio Grande pela empresa WTorre, por exemplo, demandará o insumo já em sua primeira encomenda: o casco da plataforma oceânica P-55 da Petrobras. A Gerdau pode ser uma eventual fornecedora do produto, mas resta saber se a espessura do material que será produzido pela companhia será adequada às necessidades da P-55. O Dique Seco deve iniciar suas operações em outubro do próximo ano.

O presidente da Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS), José Antônio Martins, ressalta que um investimento em uma nova siderúrgica é elevado e aponta que o empreendedor já realizou pesquisas de mercado que demonstram que haverá mercado para a oferta. De forma geral, a expectativa para a siderurgia brasileira para 2008 é positiva.

O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) estima que a produção atinja a 37,6 milhões de toneladas de aço bruto no próximo ano, representando um crescimento de 10,8% em relação a 2007. O vice-presidente executivo do IBS, Marco Polo de Mello, argumenta que tal crescimento tem como objetivo atender às expectativas dos diversos setores consumidores, assim como manter as exportações. Estas devem atingir a 12,4 milhões de toneladas, representando um aumento de 17,9%. Esse crescimento será possível devido, em parte, ao aumento da capacidade de produção com a entrada em operação de novos projetos de expansão. No final de 2007, a capacidade instalada da siderurgia brasileira atingiu a 41 milhões de toneladas de aço bruto.

Fonte: Jornal do Comércio - 10 DEZ 07

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