Ainda é cedo para avaliar se as transformações introduzidas na condução da atividade portuária vão produzir os resultados esperados ou não. Mas é inegável que elas aconteceram. Quatro delas, marcantes:
1) A visibilidade que as questões portuárias ganharam nesse período no plano nacional. De coadjuvantes entre os problemas ferroviários e rodoviários do Ministério dos Transportes, elas passaram à condição de estrelas no elenco da Secretaria dos Portos. Antes eclipsadas pelos dramas desenrolados nos aeroportos nos últimos meses, as questões portuárias ganharam destaque nos meios de comunicação de abrangência nacional. Contribuiu muito para esse processo a freqüência com que o secretário/ministro visita os portos brasileiros e em especial o nosso terminal de Santos, Guarujá e Cubatão.
2) A mudança radical nas regras de licitação da dragagem. A imagem desse serviço oscilava entre turva e nebulosa. A relação com os organismos de meio ambiente tem um histórico recente complicado, baseado na desconfiança. O prestador de serviço joga a lama dragada no bota-fora determinado? E a relação com a opinião pública sobre a lisura dos pagamentos tem a mesma textura do material dragado: lamacenta. Quem mede esse material usa critérios confiáveis? Quem acompanha o despejo merece confiança? A resultante dessas dúvidas todas joga as empresas de dragagem no mesmo patamar de desconfiança que o contribuinte brasileiro tem em relação aos serviços de coleta e destinação do lixo na maior parte dos municípios do Brasil. A Medida Provisória da Dragagem muda tudo: abre espaço para a participação de empresas internacionais e remunera as vencedoras pelo resultado: a manutenção do canal dentro das medidas estipuladas e não mais pela retirada de lama.
3) A redução de custos como meta bem definida. Neste campo, além do ataque ao reduzido e articulado grupo de empresas brasileiras de dragagem, a jóia mais reluzente da Secretaria é a concorrência anunciada para os serviços de praticagem. Como foi dito no início, ainda é cedo para saber se os tiros vão ou não atingir o alvo, mas a decisão tem esse espírito de combater os custos altos onde pelo menos se desconfia que eles estejam alojados. E o serviço de praticagem, justa ou injustamente, há muito tempo é olhado com esse tipo de desconfiança.
4) A mais forte de todas: o fim do loteamento político das diretorias de companhias docas. Pedro Brito enfrentou a ira e as ameaças de uma turminha brava e emplacou indicações técnicas. Aqui em Santos, o esquema de indicações políticas era comandado pelo nefasto Valdemar da Costa Neto, o Boy de Mogi das Cruzes, deputado que renunciou logo no início do escândalo do mensalão e depois voltou pelas urnas. Esse pessoal estava acostumado a nomear diretores que se reportavam a eles. E que, independentemente das qualidades ou defeitos pessoais, pensava primeiro nos interesses do padrinho e depois (se desse tempo) no interesse do Porto.
Como se vê, mudanças importantes aconteceram. Numa primeira análise, parecem todas do bem. Mas para ter certeza convém esperar mais um pouquinho. Foram tantas emoções/decepções nos últimos tempos que a comunidade portuária está com um pé atrás. Sabe como é, né? Gato escaldado tem medo de água fria.
Fonte: PortoGente - 27 NOV 07