Esqueça as pernas-de-pau e os ganchos na mão. Os piratas que este ano já realizaram nove invasões a navios atracados na barra do Porto de Santos usam capuzes. Sem deixar cordas ou outras pistas, a maneira como o grupo entra nas embarcações ainda é uma incógnita para a Polícia Federal (PF), mas é certo que eles chegam em pequenos barcos e usam serras e alicates para abrir contêineres em incursões entre as duas e três horas da madrugada.
Os grupos vão atrás das mercadorias transportadas, mas, segundo a polícia, não possuem informações privilegiadas ou compradores para um produto específico e abrem os contêineres aleatoriamente. Na quarta-feira, oito homens que invadiram o navio HS Chopin, de bandeira liberiana, arrombaram 30 contêineres e, por enquanto, não se sabe o que foi roubado, pois parte da carga só será vistoriada quando o desembaraço aduaneiro for feito, seja em Santos ou em Buenos Aires e Montevidéu, para onde a mercadoria seguiu. Como o conteúdo dos contêineres era basicamente de produtos químicos, a polícia acredita até na possibilidade de nada ter sido roubado.
A invasão ao HS Chopin foi a terceira em um período de 15 dias. No fim de outubro, os navios Conrad e Cap Finisterre também foram atacados por piratas enquanto aguardavam um berço para atracar. Neste ano, já foram violados 112 contêineres em nove incursões, duas a menos que as 11 em 2006. O delegado Antônio Juenides Santos, responsável pela Delegacia Especial de Polícia Marítima (Depom) da PF na Baixada Santista, diz que os números são pequenos se for considerado que cinco mil navios atracam no Porto de Santos por ano.
Neste mês, o delegado passou a centralizar todos os inquéritos de invasões a navios. Ele não revela detalhes das investigações, mas acredita que todos os crimes tenham sido realizados pela mesma quadrilha.
Santos afirma que a última morte ocorrida nesse tipo de crime foi em 2004, quando a PF prendeu pela última vez uma quadrilha do gênero. “Aquele bando tinha uma outra característica, que era roubar a tripulação, jóias, dinheiro, celular e rádio”, diz. Segundo ele, esse tipo de crime deixou de ocorrer após a prisão.
A PF não adota o termo pirata. Para a instituição, piratas são criminosos que atacam em alto-mar, com abordagem violenta, e tomam posse do navio.
O vice-presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado (Sindamar), José Roque, afirma que os prejuízos causados pelos piratas são incalculáveis. “A imagem e a credibilidade do porto perante o importador e o exportador e até perante as seguradoras internacionais fica manchada.”
Fonte: O Estado de S.Paulo - 12 NOV 07