Domingo, 02 Fevereiro 2025
Poluição atmosférica resultante do armazenamento de coque verde, tipo de carvão mineral, no Porto do Recife está atingindo uma escola estadual com 790 alunos no bairro de Santo Amaro, área central. O pó preto que se espalha pelo ar tem causado problemas respiratórios em estudantes, professores e funcionários da Almirante Tamandaré, a menos de um quilômetro do terminal onde o subproduto de petróleo é armazenado a céu aberto. As queixas se tornaram mais freqüentes nos últimos três meses e, em outubro, os alunos do turno da tarde chegaram a ser liberados às 16h, duas horas e meia antes do horário normal, por causa da fuligem.

Uma professora chegou a tirar licença-médica de seis dias por causa de alergia respiratória. “Sentia a garganta seca e tosse freqüente. Um dia perdi a voz e tive que me afastar da sala de aula”, conta Glauciene Lira, que ensina história. O diagnóstico foi alergia respiratória. A educadora está tomando medicamentos, mas ainda apresenta os sintomas quando está na escola, localizada na vila naval.

A poeira escura alcança as bancas, cadeiras, estantes e até as roupas das pessoas. “Quando se acumula numa superfície a gente limpa. Pior é dentro do pulmão. Aí a gente não tem como passar um pano úmido”, reclama a professora de biologia Verônica Luzia de Souza. A auxiliar de serviços gerais Vânia Maria Moraes também sofre com o problema. Ela é um dos funcionários responsáveis pela limpeza das 11 salas de aula da escola de ensinos fundamental I e médio. “Meu nariz está sempre assim, obstruído. É começar a tirar o pó preto que fico doente. Não sei até quando vou agüentar”, diz.

Para os estudantes, a poluição atmosférica atrapalha o rendimento escolar. Willian José Domingos, 17 anos, espirra durante toda a aula. “Sinto dor de garganta e, frequentemente, fico afônico”, relata. A alergia respiratória causou uma infecção nas cordas vocais e William, estudante da 6ª série, está tomando antibiótico. “É amoxilina. Passaram no posto de saúde. Já estou terminando e me sinto um pouco melhor da garganta. A rinite, no entanto, persiste”, relata.

O professor de português Pedro Henrique de Melo não tem alergia à poeira emanada pelos montes de coque verde, usado como combustível na indústria cimenteira, mas atribui ao problema a ausência constante de alunos. “Doentes, eles acabam faltando aula. Sem a assiduidade diminui o rendimento”, justifica. Pedro Henrique conta, ainda, que os alunos são obrigados a rasgar folhas dos cadernos para limpar as cadeiras antes de sentar. “As auxiliares passam pano mas e seguida está tudo sujo de novo.”

A Agência Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH) divulgou, ontem, relatório de vistoria realizada dia 30 no porto, a partir de denúncia do Jornal do Commercio. “Constatamos a poluição atmosférica e estamos autuando a empresa responsável”, diz o presidente em exercício da CPRH, Waldecy Farias.

O valor da multa será definido em reunião de diretoria depois de amanhã. Waldecy adianta que será maior que os R$ 2 mil aplicados em maio, quando a Votorantim Cimentos Norte e Nordeste foi autuada e multada pela CPRH, porque a empresa é reincidente.

A recomendação da CPRH é a empresa umedecer o coque para evitar que partículas do produto alcancem o ar. “Também é preciso impermeabilizar o solo para evitar infiltração e orientamos a Votorantim a implantar um sistema de drenagem e captação do efluente (resíduo líquido) e uma passagem molhada para evitar que os caminhões, ao deixar o porto, espalhem o coque.” A Votorantim informou, por meio da assessoria de imprensa, que apenas se pronunciará sobre o assunto quando receber o auto da CPRH.

Fonte: Jornal do Commercio - 06 NOV 07

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