Uma professora chegou a tirar licença-médica de seis dias por causa de alergia respiratória. “Sentia a garganta seca e tosse freqüente. Um dia perdi a voz e tive que me afastar da sala de aula”, conta Glauciene Lira, que ensina história. O diagnóstico foi alergia respiratória. A educadora está tomando medicamentos, mas ainda apresenta os sintomas quando está na escola, localizada na vila naval.
A poeira escura alcança as bancas, cadeiras, estantes e até as roupas das pessoas. “Quando se acumula numa superfície a gente limpa. Pior é dentro do pulmão. Aí a gente não tem como passar um pano úmido”, reclama a professora de biologia Verônica Luzia de Souza. A auxiliar de serviços gerais Vânia Maria Moraes também sofre com o problema. Ela é um dos funcionários responsáveis pela limpeza das 11 salas de aula da escola de ensinos fundamental I e médio. “Meu nariz está sempre assim, obstruído. É começar a tirar o pó preto que fico doente. Não sei até quando vou agüentar”, diz.
Para os estudantes, a poluição atmosférica atrapalha o rendimento escolar. Willian José Domingos, 17 anos, espirra durante toda a aula. “Sinto dor de garganta e, frequentemente, fico afônico”, relata. A alergia respiratória causou uma infecção nas cordas vocais e William, estudante da 6ª série, está tomando antibiótico. “É amoxilina. Passaram no posto de saúde. Já estou terminando e me sinto um pouco melhor da garganta. A rinite, no entanto, persiste”, relata.
O professor de português Pedro Henrique de Melo não tem alergia à poeira emanada pelos montes de coque verde, usado como combustível na indústria cimenteira, mas atribui ao problema a ausência constante de alunos. “Doentes, eles acabam faltando aula. Sem a assiduidade diminui o rendimento”, justifica. Pedro Henrique conta, ainda, que os alunos são obrigados a rasgar folhas dos cadernos para limpar as cadeiras antes de sentar. “As auxiliares passam pano mas e seguida está tudo sujo de novo.”
A Agência Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH) divulgou, ontem, relatório de vistoria realizada dia 30 no porto, a partir de denúncia do Jornal do Commercio. “Constatamos a poluição atmosférica e estamos autuando a empresa responsável”, diz o presidente em exercício da CPRH, Waldecy Farias.
O valor da multa será definido em reunião de diretoria depois de amanhã. Waldecy adianta que será maior que os R$ 2 mil aplicados em maio, quando a Votorantim Cimentos Norte e Nordeste foi autuada e multada pela CPRH, porque a empresa é reincidente.
A recomendação da CPRH é a empresa umedecer o coque para evitar que partículas do produto alcancem o ar. “Também é preciso impermeabilizar o solo para evitar infiltração e orientamos a Votorantim a implantar um sistema de drenagem e captação do efluente (resíduo líquido) e uma passagem molhada para evitar que os caminhões, ao deixar o porto, espalhem o coque.” A Votorantim informou, por meio da assessoria de imprensa, que apenas se pronunciará sobre o assunto quando receber o auto da CPRH.
Fonte: Jornal do Commercio - 06 NOV 07