Domingo, 02 Fevereiro 2025

O subsecretário de Planejamento e Desenvolvimento Portuário da Secretaria Especial de Portos (SEP), Carlos Alberto La Selva, participou de comitiva que visitou os portos de Gênova, na Itália, de Barcelona, na Espanha, e de Antuérpia, na Bélgica. O grupo era formado pelos prefeitos de Santos, Guarujá e Cubatão, além de empresários e outras autoridades portuárias. Em entrevista ao PortoGente, La Selva destaca alguns pontos, como a gestão por resultados, “uma idéia que estamos implantando nos portos nacionais”, a integração harmônica entre os portos e as cidades, “a cidade sempre é beneficiada pelos negócios portuários” e o ISPS Code, uma questão já superada nos portos visitados.

 

PortoGente – Como foi a visita aos portos europeus? Os portos brasileiros estão muito atrasados com relação aos portos visitados?

Carlos Alberto La Selva – É óbvio que a gente não pode fazer comparações diretas (entre os portos visitados e o de Santos), porque o Porto de Santos eventualmente pode ter uns 150 anos, um pouco mais ou pouco menos, mas é muito difícil comparar com os portos de Gênova (Itália), Barcelona (Espanha) e Antuérpia (Bélgica), que são portos praticamente milenares, que vêm do ano de 1.200, 1.300, alguns até do ano de 900. Então, eles têm uma experiência, uma vivência de porto muito maior. Antes de o Brasil ser descoberto, já existia porto lá e já existia atividade portuária naquela região. Nós não fomos lá para comparar ou para saber quem é melhor, mas para obter experiência, o que eles têm feito de melhor para poder trazer para os nossos portos. Acho que isso é que foi importante.

 

PortoGente – E quais são essas experiências que poderiam ser trazidas para os portos do Brasil?

Carlos Alberto La Selva – Vamos falar o que basicamente foi visto em todos os portos. Eu diria que um ponto muito importante, até pela presença dos prefeitos e do pessoal do CAP, foi ver a perfeita integração existente entre o porto e a cidade, compatibilizando o crescimento do porto com o crescimento da cidade. Um não sendo concorrente do outro, muito pelo contrário, sempre sendo entidades que devem se apoiar e se ajudar, porque um depende do outro. Eu acho que nós estamos vivenciando uma fase muito interessante que mostra que a gente precisa cada vez mais integrar o porto com a cidade e a cidade com o porto. As cidades, basicamente, isso deu para ver nitidamente em todos os portos visitados, vivem, respiram, convivem, trabalham diretamente com o porto. Em várias situações, como no Porto de Barcelona, por exemplo, que é um porto extremamente complexo, com muitas atividades industriais, a expansão do porto é sempre benéfica para a cidade, porque ela gera não só impostos diretos (pelas atividades comerciais e industriais), mas principalmente empregos. Eu acho que esse é um ponto fundamental. Quanto maior é o porto, quanto maior é a atividade portuária numa cidade, maior é a quantidade de empregos e de impostos. Não há concorrência com a cidade, não é uma coisa assim de a cidade estreitar o porto porque a cidade quer construir um prédio, muito pelo contrário, a agregação de valor que se coloca num porto é infinitamente superior a qualquer outra atividade que você pode trabalhar dentro da cidade como comércio. É perfeita a convivência entre o crescimento e a expansão do porto ao longo dos anos, os portos cresceram exponencialmente. Você vê nitidamente que o porto avançou em áreas da cidade, mas sempre trazendo benefícios.

 

PortoGente – E esse crescimento não gerou problemas ambientais?

Carlos Alberto La Selva – Foi crescimento sustentável, porque em todos os países, sem exceção, os problemas ambientais são exatamente iguais aos que nós temos aqui. O respeito ao meio ambiente, o respeito a você fazer as atividades dentro da legislação, é tão complicado lá quanto aqui. Isso ficou muito claro. Agora isso é uma coisa que a gente precisa aprender também: normalmente quando se pensa num grande projeto lá, eles já pensam na parte ambiental antecipadamente. Isso leva tempo realmente. Você começa a maturar os projetos, você sabe que tem projetos que vão enfrentar problemas ambientais, lá também a legislação é tão rígida quanto aqui, e todos chegam a um meio termo quando se faz um bom projeto baseado num projeto ambiental também para os portos. Lá o porto avança sobre o mar, o porto avança sobre a cidade. Lá eles têm também problema de dragagem, lá eles têm também problema de resíduos contaminados. Mas eles resolvem isso perfeitamente. Leva tempo, tem um custo, mas é um custo que tem de ser incorporado aos projetos, mas mesmo assim você vê que todos são viáveis. Respeitando-se sempre, usando tecnologia, fazendo bons projetos e respeitando as leis ambientais, o crescimento é sustentável. E quanto mais o porto cresce sempre vai gerar mais emprego.

 

PortoGente – Como o Porto de Santos é visto pelos portos visitados?

Carlos Alberto La Selva – Como um grande porto do Brasil, com grande oportunidade de investimentos, com possibilidade de expansão. Muitas empresas têm interesse em participar de novos investimentos no Porto de Santos, e mesmo em outros portos brasileiros.

 

PortoGente – E a questão do ISPS Code já está superada nos portos visitados?

Carlos Alberto La Selva – Sim, está superado em todos eles. Nós vimos o ISPS Code implantado, são portos bem maiores e mais complexos. Mas Santos tem uma particularidade atípica por ter margens diferentes, segregado de um lado e do outro. Mas com técnica e com trabalho se supera qualquer coisa. Eu vejo que lá tem uma conscientização maior  dos trabalhadores portuários na necessidade e da importância do ISPS Code para a sua própria segurança. É uma coisa que a gente talvez tenha que trabalhar um pouco com o nosso trabalhador para mostrar que o ISPS Code não é um entrave ao seu trabalho, pelo contrário, é um benefício porque está gerando oportunidade de se trabalhar com segurança. E o porto, internacionalmente, está credenciado para atuar em trocas comerciais.

 

PortoGente – De prático o que o senhor está trazendo dessa visita para ser implantado pela SEP nos portos brasileiros?

Carlos Alberto La Selva – Existem muitas idéias para implantar aqui, como novos modelos de gestão.

 

PortoGente – Por exemplo?

Carlos Alberto La Selva – Como já temos enfatizado, a questão de gestão por resultado já é praxe em outros países. Eles são cobrados por resultados. E é o que a gente pretende colocar aqui. Então a gente vê que o nosso modelo é correto e plenamente possível estarmos colocando no Porto de Santos e em todos os portos. Um modelo de gestão moderno e eficiente para que o porto dê resultado e seja economicamente rentável. Outra coisa interessante é que esses portos já superaram essa barreira da dependência do Estado, porque eles são plenamente autônomos em seus investimentos.

 

Fonte: PortoGente - 06 NOV 07

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