Segunda, 03 Fevereiro 2025

Problemas e mais problemas. É assim que se referem às Cias. Docas em todo o Brasil. Mas, para o novo presidente da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), Ângelo José de Carvalho Baptista, existe luz no fim do túnel. “O Espírito Santo tem uma vocação logística muito forte e fico, particularmente, feliz em vir para o estado”. A afirmação foi feita em entrevista, exclusiva, para o site PortoGente, durante a ExpoPortos 2007, que ocorreu na última semana, em Vitória (ES).

 

Ângelo Baptista falou sobre seus primeiros dias à frente da empresa e da forma como pretende gerir a Codesa. Dentre elas, as cobranças de desempenho e resultado junto aos trabalhadores. Baptista fala em nova Codesa. Confira.

 

PortoGente – Quem o indicou para a presidência da Codesa?

Ângelo José de Carvalho Baptista – O ministro Pedro Brito, que conheceu nossa atividade técnica, no período em que estávamos na Cia. Ferroviária do Nordeste, quando era ministro da Integração. Chegamos a trabalhar juntos no projeto da Transnordestina. Também, por afinidade com o partido Socialista Brasileiro (PSB), que nossa indicação foi referendada pelo senador Renato Casagrande, que tem dado apoio bastante importante.

 

PortoGente – Sua experiência na iniciativa privada é muito forte. O Sr. acha que vai conseguir aplicar o mesmo modelo de gestão numa empresa pública?

Ângelo Baptista – Não tenho a intenção, nem pretensão, de transformar a Codesa numa empresa privada. Não quero transformar uma empresa pública numa empresa privada, é obvio. As empresas públicas têm suas características e as privadas as suas. Mas é possível, e tem um movimento que cresce no mundo inteiro, não é só no Brasil, você dotar a empresa pública de alguns conceitos e mentalidade de uma empresa privada, principalmente no que diz respeito à busca pela eficiência, busca por atingir metas objetivas. Isso deveria ser uma obrigação de todo mundo, não só de todas as empresas, mas dos órgãos da atividade pública. Eu acho, sim, possível. Vamos ter dificuldades, mas acho isso possível, sim.

 

PortoGente – Além dos passivos trabalhistas, qual o maior problema da Codesa?

Ângelo Baptista - A Codesa é uma empresa que tem passivos trabalhistas, passivos relacionados aos trabalhadores como, por exemplo, dívidas que eu não sei dizer se são da companhia ou da União, com o fundo de pensão, Portus.

 

PortoGente – De quanto é esta dívida?

Ângelo Baptista – Eu não sei direito, ainda. Estou avaliando números. São dívidas de tamanho razoável. Não poderia informar agora porque eu preciso saber se os números foram auditados, se os valores são corretos. São de dezenas de milhares de reais. Uma ordem de grandeza alta. Tem problemas de natureza financeira hoje de bloqueios judiciais sobre a receita, justamente para pagar dívidas trabalhistas. É uma empresa que não está equilibrada financeiramente, então temos que tomar medidas pra sanear.

 

PortoGente – Qual a diferença financeira mensal na Codesa?

Ângelo Baptista – Também não sei lhe informar, mas anualmente é uma diferença que deve estar girando entre cinco e dez milhões de reais. Não tenho precisão dos números, ainda.

 

PortoGente – E os funcionários “fantasmas”? Como pretende reverter esta situação? E o que pretende fazer para motivar o quadro de pessoal?

Ângelo Baptista – Olha, não sei se existem funcionários fantasmas, não sei. O que eu sei é o seguinte: as pessoas que são empregadas da Codesa têm que trabalhar. Então, se tem ou não tem... Não estou preocupado com o que vinha acontecendo sobre este aspecto com a empresa até a data que assumi. Mas daqui para frente o compromisso que eu espero de todos e que eu vou cobrar, porque é minha obrigação, será: primeiro, não vou tolerar que haja, se é que há, não posso afirmar isso, empregados na empresa que não apareçam para trabalhar. Nós vamos cobrar o ponto, que é o mínimo que qualquer empresa séria faz com seus empregados. Segundo, não basta aparecer lá para trabalhar. Tem que produzir. E se isto estiver acontecendo vamos atuar estabelecendo padrões objetivos, instituindo e cobrando metas de desempenho e resultados. É preciso que a gente busque formas de motivar as pessoas para o trabalho. Não basta ir lá e cumprir sua rotina de trabalho. É preciso que elas estejam motivadas e acreditando nos objetivos da empresa, que ela esteja no caminho certo e que todos vão se beneficiar do crescimento junto com a companhia. O que vamos fazer é trabalhar de forma transparente mostrando, claramente, quais são nossos objetivos.

 

PortoGente – O senhor falou aos trabalhadores em não assumir os erros cometidos no passado da Codesa. E como o senhor pretende administrar estes problemas decorrentes de gestões anteriores?

Ângelo Baptista – Eu não disse que não assumiria erros do passado. Eu disse que não serei responsável por nada que tenha acontecido na empresa até a minha posse. Quero levantar, identificar quais são os problemas, quem são os responsáveis e responsabilizá-los por isso. Da minha posse em diante eu vou assumir a responsabilidade, como presidente, de todos os atos que a empresa tome. Mas para trás, não. Se, eventualmente, a gente encontrar problemas que estejam refletindo no desempenho da empresa daqui para frente, vamos ter que atuar para definir e estabelecer formas para solucionar o problema e responsabilizar quem tem que ser responsabilizado.

 

PortoGente – O senhor falou em auditoria na Codesa. Quando ela começa? Quem vai realizar?

Ângelo Baptista – Eu pretendo, exatamente, para identificar, ter clareza da situação da empresa até a data da minha posse, poder contratar um serviço de auditoria financeira, de investimento, para a gente saber, de fato, qual a situação da companhia. Ainda não temos definido qual seria esta empresa. Teremos que fazer uma licitação.

 

PortoGente – O senhor estipulou prazo para a mudança no modelo gestor da empresa até dezembro próximo. É prazo suficiente para mudar uma empresa que muitos adjetivam de viciada?

Ângelo Baptista – Até dezembro nós não vamos conseguir mudar a empresa. Claro que não. Mas os sinais de algumas coisas que a gente vai ter que fazer vão aparecer até dezembro. É preciso dar sinal de que a empresa está mudando. Algumas coisas a gente já começa a dar encaminhamento para solucionar. Quero aproveitar e dar o exemplo das operações no cais de Paul. Operações de exportação de ferro gusa. Um problema que vinha se arrastando e a gente, com uma semana de mandato, fazendo, principalmente, o trabalho de aproximação, intermediação entre as partes envolvidas (exportadores, donos da carga, operadores portuários e os provedores de serviços logísticos, como a Companhia Vale do Rio Doce, CVRD) a gente conseguiu ajudar e achar uma solução para que as operações fossem retomadas e tivessem sua continuidade. Alguns problemas que encontramos têm de ter solução em curtíssimo espaço de tempo e dar sinal de que vamos enfrentar problemas que venham.

 

PortoGente – E os contratos de arrendamento?

Ângelo Baptista – O Porto de Vitória é um porto que tem, ainda, um potencial de crescimento, mas tem restrições de natureza técnica, física. Mas mesmo com estas restrições ele é um porto que não está otimizado. Existem oportunidades. Existem áreas disponíveis que a gente pode arrendar, existem contratos que precisam ser reavaliados, renegociados, alguns estão até em andamento. Vamos analisar as oportunidades de crescimento do porto. Exemplo é Barra do Riacho que é um potencial de crescimento da companhia.

 

PortoGente – Em relação à diretoria da Codesa, a Secretaria Especial de Portos (SEP) só promoveu mudança na presidência. E os outros dois cargos, o senhor pretende acatar a indicação dos trabalhadores?

Ângelo Baptista – As indicações da Intersindical da Orla Portuária-ES já passaram pelo filtro da própria entidade que encaminhou nomes de perfis técnicos. De empregados da empresa com grandes experiências, com capacidade. Eu não vejo problema nisso. Eu vou participar das discussões, vou conversar com os sindicatos. Agora, para estes sindicatos vale o mesmo que vale para mim e para qualquer empregado da empresa: quem não der resultado não vai continuar. Se tiver perfil técnico, se tem capacidade de gestão, capacidade de dar resultado para a empresa vai ser muito bom. Agora, vamos estabelecer critérios, indicadores de desempenho.

 

PortoGente – Dentre as indicações que foram e possam ser feitas, o senhor aceitaria trabalhar com Henrique Zimmer?

Ângelo Baptista – Olha, com Zimmer ou qualquer outro empregado da empresa que seja indicado e referendado pela SEP, com o aval do ministro. Eu não tenho problema algum. Eu trabalho com qualquer pessoa. Até porque tem outras pessoas que já foram diretores, presidentes da companhia e continuam trabalhando nela. Para mim não há dificuldade quanto a isto.

 

PortoGente – O senhor fala em oxigenar a Codesa. Teremos concurso público ou pretende aumentar o quadro de comissionados?

Ângelo Baptista – Acho que os dois. A Codesa é uma empresa que tem idade média elevada. Mas, mais importante que isto é uma empresa que não teve renovação dos seus quadros por muitos anos. Em qualquer organização, até num time de futebol, é salutar que você mescle experiência com pessoas mais jovens, pessoas com perfil mais agressivo e pessoas com perfil mais conservador, isto é natural. A Codesa, hoje, não tem esta característica. A empresa tem cerca de 20% do quadro formado por pessoas que já estão aposentadas. Não faz sentido continuarem a trabalhar na empresa. É melhor darem o lugar para pessoas mais jovens. Naturalmente vamos ter que fazer concurso público e, eventualmente, para cargos de confiança, iremos trabalhar com comissionados que, até o momento, não houve mudança. Não trouxe ninguém, não mudei qualquer cargo de confiança. Vou fazê-lo à medida que tiver referências objetivas de que as pessoas que estão lá não estão atendendo aos critérios e ao perfil que iremos determinar para estes cargos que a nova Codesa vai exigir.

 

PortoGente – Quando o senhor fala em plano de cargos e salários. O que o pretende desenvolver?

 

Ângelo Baptista – Também vamos contratar, através de licitação, na modalidade preço e técnica. Pois vai ser um trabalho de natureza bastante técnico, serviço especializado para desenvolver – provavelmente serão dois serviços diferentes, assim duas licitações – não só serviço de formulação do plano de cargos e salários, da tabela salarial, mas também de definição e avaliação do perfil dos ocupantes das principais funções da empresa, para que a gente possa ter critérios objetivos de avaliação de perfil, desempenho. Servirá para que tenhamos as pessoas certas nos lugares certos. Forma consagrada de trabalhar em qualquer empresa. Não estou inventando nada. Vou procurar eliminar ou reduzir ao mínimo o critério subjetivo na escolha de pessoal na empresa.

 

PortoGente – Como o senhor pretende levar o relacionamento com os trabalhadores no tocante à política sindical e do trabalho e a relação capital-trabalho?

Ângelo Baptista – Espero ter uma relação com os trabalhadores, com a Intersindical, a mais transparente possível. Vamos conversar, trocar idéias. Eu vou procurar ouvir, não só os trabalhadores, mas a classe empresarial, os operadores. Acho que a atividade portuária envolve diversos participantes, são vários atores. Mas vai ter determinados momentos que caberá à Autoridade Portuária tomar decisões. Eu falei com os trabalhadores que a gente vai concordar em muitas coisas e vai divergir em outras. E na hora que a gente divergir vai colocar em pauta, de forma clara, e a minha obrigação vai ser tomar a decisão mais adequada para a companhia.

 

PortoGente – Na abertura da ExpoPortos 2007, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, falou na realização, simultânea, de grandes empreendimentos no setor portuário – Porto de Ubu, Porto de Barra do Riacho e o projeto da Intersindical de um Porto de Águas Profundas. Existe viabilidade técnica, econômica e política para isso?

Ângelo Baptista – Vejo que cada porto tem sua vocação e suas vantagens competitivas. Claramente que não pode se esperar que o Porto de Vitória receba navios com calado de 15 metros. Não há espaço físico, não só de profundidade, mas pela boca da baía. Cada porto tem sua vocação e terá seu espaço. Se a economia brasileira e capixaba vai ter demanda para tudo isso e em que time, eu ainda não sei responder, espero que sim. O que tenho observado é que o Espírito Santo está vivendo um grande momento. A demanda por crescimento da atividade portuária, crescimento em volume movimentado por navios com maiores calados, em área, retro-área. A gente vê empreendimentos, como novas usinas siderúrgicas, sendo instaladas aqui e a ampliação do parque fabril de celulose. O Espírito Santo tem uma vocação logística muito forte e fico, particularmente, feliz em vir para o estado.

 

PortoGente – Mas com a sua experiência na área de logística de transporte o senhor vê a possibilidade da realização de três megaempreendimentos simultaneamente, conforme citado na pelo governador?

Ângelo Baptista – Não são mega empreendimentos. O Porto de Ubu vai ser desenvolvido em função da necessidade da nova usina siderúrgica. Em Barra do Riacho também já há necessidade da Portocel, da Selibra e da Petrobrás. O Porto de Vitória também tem o seu. Em Praia Mole também tem potencial, sim. Tem que ver qual é o time. Tem que ver que vem primeiro, qual vem em segundo. Eu só tenho dez dias no estado e não tenho condições de avaliar, tecnicamente, estas questões. Eu espero que todos os empreendimentos sejam um sucesso.

 
Fonte: PortoGente - 16 OUT 07
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