Segunda, 03 Fevereiro 2025
BRASÍLIA – Na sessão pública mais tensa em quase cinco meses de crise no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), ouviu ontem apelos de 12 colegas para que se afaste do cargo, bateu boca com outros três e passou a enfrentar uma quinta representação que pede sua cassação por quebra de decoro, assinada por PSDB e DEM. Foram duas horas de bombardeio contra Renan, em protesto orquestrado por 19 senadores de seis partidos – PSDB, DEM, PMDB, PSB, PT e PDT. A avaliação de opositores e governistas é que a situação do peemedebista nunca foi tão complicada, com perda de apoio no PMDB e PT.

Além de cobrar a saída de Renan, o grupo de senadores também fez um ultimato para que o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), indicasse o relator do terceiro processo contra Renan – uso de laranjas para comprar rádios. Também deu prazo até 2 de novembro para concluir todos os casos sob pena de obstrução generalizada, com o apoio de siglas da base. Caso isso ocorra, complicará a votação da emenda da CPMF na Casa.

A quinta representação, protocolada ontem, aponta que Renan abusou do poder de presidente do Senado em benefício próprio. O estopim é a denúncia de que ele teria mandado espionar os senador Marconi Perillo (PSDB-GO) e Demóstenes Torres (DEM-GO).

O embate entre Renan e senadores começou às 16h30, com um relato do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), de que ele também estaria sendo alvo de ameaças sobre irregularidades no passado como parlamentar.

Virgílio interpelou Renan: “Quero lhe falar, olhando olho no olho, que chegamos a uma situação que dela não dá para ir a lugar qualquer”.

O painel do plenário registrava a presença de 56 senadores. Nenhum senador saiu em defesa de Renan. O principal símbolo do isolamento dele foram as manifestações de Aloizio Mercadante (PT-SP), Eduardo Suplicy (PT-SP) e da líder do partido, Ideli Salvatti (SC). Dizendo falar por ela e não pela bancada, Ideli cobrou a demissão do assessor Francisco Escórcio, pivô da denúncia de arapongagem. Durante o seu pronunciamento, no entanto, Renan anunciou apenas o afastamento temporário do assessor do cargo e a abertura de uma sindicância para apurar as denúncias de espionagem.

Após dizer que se absteve na votação do caso Mônica Veloso, Mercadante cobrou que Renan deixasse o posto. “O sentimento de cada um dos senadores é de que o melhor para esta Casa seria o afastamento. E esse é o sentimento amplamente majoritário neste plenário. Alguns, pela amizade, têm dificuldade em expressar isso.” Acuado, Renan afirmou que iria se “abster de comentar” o pedido do petista. Em outras vezes tentou reagir, muitas vezes falando fora do microfone. Chegou a irritar os opositores quando disse que se sentia “bastante confortável” na cadeira de presidente. Depois, bateu boca com o próprio Mercadante, Demóstenes e Cristovam Buarque (PDT-DF).

Nos momentos mais tensos, cortou a palavra dos opositores. Chegou a apontar o dedo a Demóstenes, exigindo que descesse da tribuna: “Seu tempo está esgotado, é isso que Vossa Excelência quer fazer com o Senado? Transformar a Casa numa delegacia?”.

Renan deixou o plenário às 18h30 para seguir à abertura de uma exposição na Casa. Mais tarde, classificou o dia como “difícil”. “Já tínhamos tido outros embates. É preciso lidar com isso com naturalidade, faz parte do jogo”, afirmou, acrescentando que permanece no comando da Casa.

Fonte: Jornal do Commercio - 10 SET 07

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

Deixe sua opinião! Comente!