As empresas brasileiras deixam de ganhar US$ 40 bilhões por ano em decorrência dos custos elevados e da precariedade da infra-estrutura de transporte e logística no País. A estimativa é do Centro de Estudos em Logística (CEL) do Coppead/UFRJ. O dado faz parte de estudos que serão apresentados hoje, durante evento organizado por um grupo de dez entidades do setor.
Para essas entidades, os investimentos previstos pelo governo na infra-estrutura são insuficientes e, mantido o programa atualmente previsto, a economia do País não terá condições de crescer, de forma sustentada, acima de 4% ao ano nos próximos anos.
’’Estamos à beira de um apagão logístico. O Brasil não tem condições de crescer de forma sustentada. Esse apagão não ocorreu antes apenas porque o País não cresceu tanto quanto poderia. Há uma seqüência de falhas que precisa ser abordada’’, disse, ao Estado, o presidente do Conselho Consultivo da 2ª Conferência Nacional de Infra-estrutura Logística, Robert Caracik Jr. O evento transcorre hoje, em São Paulo.
O professor do Coppead/UFRJ Paulo Fleury explica que, nos Estados Unidos, o custo da logística representa 8% do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, é de 12% do PIB. A diferença de quatro pontos porcentuais equivale a US$ 40 bilhões por ano. ’’Custos mais altos representam perdas e, se você gasta mais, está sendo menos competitivo’’, diz Fleury.
Esse gasto adicional é conseqüência de deficiências na infra-estrutura brasileira e também do fato de que nos Estados Unidos o peso do transporte rodoviário é de 26%, inferior à participação no Brasil, que chega a 55%.
Além de apresentar dados setoriais, as entidades pretendem cobrar um balanço do que tem sido feito em infra-estrutura no País e deverão apontar falhas do Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT).
ACANHADO
Segundo Caracik Jr., o plano, que prevê investimentos anuais até 2023, projeta um País com PIB de R$ 3,566 trilhões ao fim desse período, o que representaria um crescimento médio anual abaixo de 2% ao ano para a economia. ’’Acho que aqui está a maior falha. Estamos projetando um país muito pequeno. Parece que todo esse plano é muito acanhado. O número do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), de 5% ao ano, não bate com esse número’’, diz.
Levantamento da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística (MTC&Logística) mostra que os investimentos previstos pelo PNLT de 2008 a 2023 somam R$ 172,4 bilhões, ou R$ 9,6 bilhões ao ano, e projeta que a necessidade seria de R$ 46,6 bilhões anuais.
Os investimentos previstos representam 23% do que seria necessário. ’’Os valores já avançaram, mas ainda não são suficientes’’, afirma o superintendente da NTC, Neuto Gonçalves dos Reis.
AVIÕES E TRENS
No mesmo documento, a entidade justifica a ampliação dos investimentos no País: ’’No caso do apagão aéreo, a deficiência de infra-estrutura levou o governo a combater a crise reprimindo a demanda por esse serviço. No caso mais geral do transporte de cargas, essa contenção pode significar reprimir o crescimento do PIB’’, diz o texto.
A avaliação do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) também cita o problema. Segundo a entidade, ’’a tragédia que se abateu sobre o modal aéreo ocorre todos os dias nas estradas brasileiras’’.
Já o setor de transporte ferroviário defenderá a eliminação dos gargalos existentes na malha atual e a solução das invasões de famílias nas áreas de segurança junto às margens das ferrovias, conta o diretor executivo da Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça. Segundo ele, há hoje 200 mil famílias no País nessas condições.
FRASE
’’Estamos à beira de um apagão logístico. O Brasil não tem condições de
crescer de forma sustentada. Esse apagão não ocorreu antes apenas porque o País não cresceu tanto quanto poderia. Há uma seqüência de falhas que precisa ser abordada’’
Robert Caracik Jr.
Presidente do Conselho Consultivo da 2ª Conferência Nacional de Infra-estrutura Logística
Fonte: O Estado de S.Paulo - 04 SET 07