Na última semana, São Paulo enfrentou quatro acidentes com caminhões que transportavam cargas perigosas. Ontem, foi a vez da Rodovia Régis Bittencourt, na altura de Itapecerica da Serra, no km 296, ser o local de mais uma ocorrência desse tipo. O produto tolueno diisocianato (TDI) transportado no tanque vazou e equipes da Companhia de Tecnologia Ambiental (Cetesb) precisaram isolar a área para evitar um desastre ecológico. Trata-se de um líquido combustível que forma com o ar uma atmosfera explosiva. Tem efeitos tóxicos , mas não houve vítimas. A empresa pode ser multada.
Segundo o Instituto de Pesos e Medidas de São Paulo (Ipem) há uma explicação para o perigo constante nas rodovias paulistas: três em cada dez veículos que transportam cargas perigosas nas estradas circulam de forma irregular.
Entre janeiro e junho deste ano foram inspecionados 1.192 caminhões que transportavam cargas tóxicas e inflamáveis, como gasolina, ácido e inseticidas. Desse total, 384 não estavam em condições ideais, uma média de 30%. Em um único dia, 10 mil caminhões desse tipo circulam pela Capital e Grande São Paulo.
’’Os principais problemas constatados nos caminhões são relacionados à manutenção dos veículos. Pneus carecas, furos no tanque, falhas no sistema de direção’’, conta o chefe da Divisão de Produtos Perigosos do Ipem, Jair Camporeze. ’’A agravante é que os caminhões circulam por vias com muito movimento e, em qualquer acidente, podem contaminar o solo, a água ou o ar e causar danos à saúde.’’
Quinta-feira da semana passada pode servir como termômetro do perigo provocado pelos ’’caminhões-bomba’’. Um acidente na Rodovia dos Bandeirantes derramou ácido clorídrico no asfalto. Horas antes, às 9h20, um caminhão que transportava água oxigenada deixou 1.300 litros em plena Marginal do Pinheiros, próximo à Ponte João Dias. O resultado foi o registro de 9 quilômetros de congestionamento.
Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), apenas este ano quatro acidentes com caminhões de carga tóxica foram registrados nas ruas e avenidas da Cidade, envolvendo enxofre, ácido acrílico, hidróxido de sódio, derivados de petróleo e tintas. Em 2006, foram dez acidentes desse tipo no total. A Cetesb, de janeiro até a última sexta-feira deste ano, precisou atender 141 ocorrências de emergências químicas, provocadas pelas falhas de manutenção no transporte de cargas perigosas nas estradas que servem a Capital paulista.
No ano passado, foram 198 atendimentos químicos. A estrada campeã de acidentes foi a Régis Bittencourt, com 27 ocorrências, seguida pela Anhangüera ( 22) e pela Dutra(13).
O excesso de acidentes com caminhões que transportam produtos perigosos fez a Polícia Rodoviária Estadual, que atua na Dutra, reforçar a fiscalização. Os dados das inspeções realizadas nessa estrada também assustam. De acordo com a concessionária Nova Dutra, dos 174 caminhões avaliados, 99 estavam irregulares, uma média de 56%.’’Um simples vazamento de carga química implica na mobilização de policiais rodoviários, bombeiros, equipes da Cetesb, Polícias Civil e Militar, além de empresas especializadas em contenção de danos ambientais’’, disse o inspetor chefe da Polícia Rodoviária da Nova Dutra, Normildo Oliveira.
O presidente da Associação Brasileira de Transporte de Carga (ABTC), Newton Guido, aponta mais um componente. ’’As péssimas condições das estradas contribuem, e muito, para o perigo. Você precisa de um motorista altamente qualificado, além de realizar troca constante de equipamentos.’’
ONDE OCORREM MAIS ACIDENTES
RODOVIAS
Régis Bittencourt (27)
Anhangüera (22)
Presidente Dutra (13)
Castello Branco (11)
Bandeirantes (9)
Washington Luiz (7)
Marechal Rondon (6)
Dom Pedro I (5)
Raposo Tavares (5)
Piaçagüera Guarujá (5)
Raposo Tavares (5)
Imigrantes (4)
Índio Tibiriçá (3)
Transbasiliana (3)
Padre Manuel da Nóbrega (2)
Fernão Dias (1)
Tamoios (1)
Santos Dumont (1)
RUAS E AVENIDAS
19 ocorrências registradas
BALANÇO DOS ACIDENTES
47% das cargas envolvidas em acidentes eram de produtos inflamáveis
8% dos produtos das ocorrências químicas eram de ácidos e substâncias
Corrosivas
5% das substâncias derramadas nas rodovias de São Paulo e avenidas da Capital eram tóxicas e infectantes
Fonte: Jornal da Tarde - 22 AGO 07