Nessa época, de acordo com parecer da Advocacia Geral da União, duas empresas estavam operando de maneira ilegal, sem contrato, no cais público do Porto de Santos, Guarujá e Cubatão: Salmac e Cirne.
A Lei de Modernização dos Portos é de 1993. Estabeleceu um prazo de 180 dias para que os arrendatários de áreas portuárias tivessem seus contratos adaptados. Salmac e Cirne não cumpriram o prazo. Os contratos de arrendamento dos armazéns 12 e 17 externos expiraram. Mesmo assim, as duas empresas continuaram operando normalmente, numa situação definida como “anômala” pela AGU.
Em 99, Salmac e Cirne, agora juntas, celebram contrato com a Codesp. Sem licitação. Às duas áreas de 9200 m2 que cada uma delas arrendava isoladamente, o consórcio das duas teve acrescentada uma outra de 27600 m2 que inclui o Terminal de Sal. As expressões empregadas no parecer da AGU para definir esse contrato são “ofensa aos ditames constitucionais” e “eivado de ilegalidades”.
Em 2002, a diretoria da Codesp acata determinação do Tribunal de Contas da União e declara a nulidade do contrato. Mas as duas empresas continuam operando. Em 2004, a diretoria atual revoga a nulidade determinada pelo TCU. Essa decisão é classificada pela AGU no parecer como “viciada”.
Neste 2007, o Cruzeiro Real e a presidência de itamar Franco estão esfumaçados no tempo. Salmac e Cirne, não. Continuam operando de maneira definida pela AGU e pelo TCU como ilegal no Porto de Santos.
Numa das 18 páginas do parecer, o advogado da União se espanta com o fato da Codesp não promover uma licitação para arrendar essas áreas apesar de todas as ilegalidades apontadas. Diz ele que o procedimento que se espera do agente público é o de preparar nova licitação sempre que um contrato esteja se aproximando do final.
Essa pergunta fica no ar. Por que se evita a licitação? Por que uma ilicitude dessa dimensão desafia a determinação do TCU, o parecer da AGU e perdura por tanto tempo sem produzir conseqüências para os autores e os beneficiários da situação ilegal?
Fonte: PortoGente - Paulo Schiff