Segunda, 03 Fevereiro 2025
A Corrente Sindical Classista (CSC), do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), prepara-se para sair da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Pascoal Carneiro, da coordenação nacional da Corrente e diretor executivo da CUT nacional, em entrevista exclusiva a Debate Sindical, fala sobre as razões que levam a tendência comunista a marchar em retirada da central depois de mais de dez anos de convivência e lutas em conjunto.

 

Debate Sindical – Na última semana, saiu uma nota no jornal Folha de S.Paulo falando que a CSC estaria sendo assediada pela Força Sindical, já que a corrente estaria de “malas prontas” para sair da CUT. Isso é possível?

Pascoal Carneiro – Não. Essa nota que saiu na Folha nós questionamos o Paulinho (presidente da Força Sindical e deputado federal pelo PDT). Ele disse que foi ele quem soltou essa nota porque ele queria conversar conosco, porque ele sabia que estava tendo um movimento da Corrente de sair da CUT e ele queria saber se existia a possibilidade da gente ir para a Força. Nós respondemos a ele que isso não tem nenhuma possibilidade. A gente pode conversar a qualquer momento, nós estamos abertos a conversar com qualquer outra central, mas se fosse para ficarmos em uma central nós ficaríamos na CUT mesmo.

 

Debate Sindical – Então não há possibilidade da CSC entrar na Força Sindical...

Pascoal Carneiro – Não, não tem essa possibilidade. Nós queremos conversar com qualquer central sindical mas para fazer unidade de ação, de luta, de reivindicação mais geral dos trabalhadores, mas para engrossar a fileira de outra central sindical não.

 

Debate Sindical – Por que não dá na Força Sindical?

Pascoal Carneiro – Porque nós estamos saindo da CUT, estamos organizando um movimento mais amplo com outros setores do sindicalismo, portanto não é só a CSC, tem outros setores que não estão em outras centrais sindicais porque não concordam com o pensamento, com o que propõem para a sociedade do ponto de vista de organização sindical. Então, estão vindo conosco porque concordam com a nossa proposta para o momento atual. Nós vamos trilhar um caminho próprio.

 

Debate Sindical – Quais são esses outros setores que podem estar indo com vocês para essa nova central sindical?

Pascoal Carneiro – Olha tem o PSB, nós estamos conversando com os sindicalistas do PSB. Nós estamos conversando com federações de trabalhadores rurais de alguns estados, de Minas Gerais, de Santa Catarina, Paraná, Bahia. E tem federações de trabalhadores da indústria, que não estão filiadas a nenhuma central sindical, mas estão vindo conosco porque nós defendemos a unicidade sindical.

 

Debate Sindical – Já está decidida a saída, em definitivo, da CUT, ou existe a possibilidade de permanência na central?

Pascoal Carneiro – Isso é um movimento que está sendo feito pela base. Então, muitos sindicalistas ligados à Corrente e a sindicalistas desses setores que eu falei na pergunta anterior, têm nos pressionado a decidir a saída nossa da CUT. Agora nós vamos definir isso mesmo no encontro nacional da Corrente que deve acontecer em final de setembro e início de outubro.

 

Debate Sindical – Então, se é uma coisa que ainda está em discussão, por que as bases estão pedindo para sair da CUT?

Pascoal Carneiro – As bases estão reclamando de vários posicionamentos que a CUT vem assumindo. Então, a CUT passa a ter uma posição muito hegemonista com a corrente majoritária da CUT.

 

Debate Sindical – A Articulação Sindical...

Pascoal Carneiro – É, a Articulação Sindical. E ela se caracteriza cada vez mais como uma central ligada ao PT. E nós achamos que o movimento sindical tem de ter autonomia em relação aos partidos políticos, ao Estado, aos governos. Essa é uma grande discussão da nossa base que questiona estarmos dentro da CUT quando é uma central que está muito afinada com o PT.

 

Debate Sindical – Mas essa também não poderia ser uma crítica à CSC que é ligada ao PCdoB?

Pascoal Carneiro – Não porque nós não estamos discutindo uma central sindical ligada ao PCdoB. O que nós estamos discutindo é uma central sindical plural, com vários pensamentos políticos e que nós não sabemos nem se vamos ser maioria dentro dessa central. A gente pode ser até minoria, porque nós estamos aceitando discussão com todas as federações, inclusive com confederações.

 

Debate Sindical – Hoje na CUT vocês são minoria?

Pascoal Carneiro – Hoje na CUT nós somos a segunda força.

 

Debate Sindical – Em termos de número de cargos?

Pascoal Carneiro – Eu posso lhe dizer o seguinte: hoje tem em torno de 400 sindicatos filiados à central que são dirigidos por nós, da Corrente Sindical Classista. Então isso representa em torno de 20% dos sindicatos filiados à CUT.

 

Debate Sindical – Quais são as forças que estão dentro da CUT hoje?

Pascoal Carneiro – Hoje tem a Articulação Sindical. Tem a CSD (que era a antiga DS), também ligada ao PT. Tem a corrente O Trabalho. Tem a TM e tem Articulação de Esquerda. Todas do PT.

 

Debate Sindical – Há a possibilidade de vocês ficarem na CUT?

Pascoal Carneiro – Pelos contatos que temos feito com os nossos sindicatos de base nós achamos que essa decisão de sair (da CUT) ela vai ser majoritária no encontro da Corrente.

 

Debate Sindical – É mais no estado do Rio de Janeiro que existe essa posição de sair da CUT?

Pascoal Carneiro – Não, ela hoje permeia o Brasil inteiro. E essa pressão vem do Brasil inteiro. Ela vem desde o último congresso da CUT. No último congresso da CUT nós fizemos uma chapa nossa. Nós aglutinamos nessa chapa a corrente O Trabalho, a Articulação de Esquerda e a TM. Nós tivemos 28% dos votos do congresso. Saiu outra chapa que era a Articulação Sindical e a CSD. Essa chapa que teve 28% ela depois do congresso diminuiu a presença nossa do ponto de vista dos fóruns da central. Antes nós tínhamos 15%, nós tínhamos muito mais representatividade nos fóruns internos da CUT do que hoje.

 

Debate Sindical – Quando você fala “nós” é a Corrente Sindical Classista...

Pascoal Carneiro – A Articulação Sindical, por conta de termos feito uma chapa, ela retirou da gente a vice-presidência. Ou melhor, para não deixar a gente com a vice-presidência, a AS criou outra vice-presidência. Então tem duas vice-presidências na CUT. E não definiu o que é a primeira e o que é a segunda. Quando o presidente se afasta evidentemente assume alguém ligado a eles. E uma secretaria que nós tínhamos, a de políticas sociais, foi esvaziada. Então esse questionamento a nossa base nos faz.

 

Debate Sindical – Há uma perseguição da corrente majoritária, a Articulação Sindical, contra vocês?

Pascoal Carneiro – Não, eu não digo que é uma perseguição. Porque por incrível que pareça na maioria das políticas mais estratégicas tem aliança conosco.

 

Debate Sindical – Por exemplo?

Pascoal Carneiro – Por exemplo, pensar ações de apoio ao governo em medidas que venham de encontro aos trabalhadores. Nisso nós estamos juntos com a Articulação.

 

Debate Sindical – Existe alguma medida concreta do governo Lula nesse sentido?

Pascoal Carneiro – O veto à Emenda 3. A reforma da Previdência Social, aqui na CUT, de certa forma há um entendimento entre nós e a Articulação Sindical de que não deve permanecer nesse fórum da previdência. Isso tem acordo conosco. Portanto, eu não digo que há perseguição. O que há é um pensamento hegemonista da corrente Articulação. E esse pensamento hegemonista tem disputa até internamente. Até eles mesmos têm disputa por cargos.

 

Debate Sindical – Se você pudesse resumir em uma frase a saída da CSC da CUT qual seria essa frase?

Pascoal Carneiro – A saída da CSC da CUT em uma frase? Eu diria o seguinte: A central é identificada claramente com um partido político e o hegemonismo da corrente majoritária da central, isso nos baliza sair da CUT.

 

Debate Sindical – Como você definiria hoje a CUT?

Pascoal Carneiro – A CUT é uma central sindical que ainda tem um papel para jogar. Mas eu acho que os companheiros do campo majoritário às vezes confundem o papel do governo com a central sindical. Eu acho que é uma crise de identidade.

 

Debate Sindical – O que seria essa crise de identidade?

Pascoal Carneiro – Eu acho que leva a confundir determinado papel da autonomia do movimento sindical, de saber o que representa, porque o governo representa o Estado, ele representa todas as classes sociais e a central sindical representa uma classe, a classe dos trabalhadores. E o que confunde os companheiros da Articulação é que eles acham que fazer mobilização, levar povo para rua é fazer oposição ao governo. No nosso ponto de vista, você pode apoiar o governo e pressionar nas ruas pelas reivindicações históricas ou imediatas dos trabalhadores. Isso não confunde com fazer oposição ao governo não.

Fonte: PortoGente

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

Deixe sua opinião! Comente!