Terça, 04 Fevereiro 2025
 Há 30 anos ele é trabalhador do cais santista. Já viveu a perda de colegas de trabalho, testemunhou acidentes de companheiros e vivencia diariamente a insegurança do Porto de Santos. Presidente do Sindicato dos Operários Portuários de Santos (Sintraport) entre 1989 e 1995, Carlos Eduardo da Silva, o conhecido “Jarrão”, critica a falta de fiscalização nos terminais do maior porto do hemisfério Sul.

 

Diante das seis mortes só neste ano, o trabalhador da capatazia justifica o alto índice de acidentes fatais. “O que está acontecendo, basicamente, é essa busca desenfreada em atingir metas absurdas de produtividade. Não houve nenhuma mudança estrutural em nível de como se opera nem de aparelho. As duas coisas que estão crescendo são a produtividade e os acidentes. São duas coisas que correm paralelas. A produção pode e deve aumentar, mas não tem que trazer esse rastro. A questão da fiscalização praticamente não existe”.

 

A Delegacia Regional do Trabalho (DRT) já informou que vai atuar de forma mais contundente nos terminais e, se for preciso, poderá até interditar áreas. O órgão com atribuição de fiscalizar as condições de segurança e trabalho conta com cinco auditores fiscais para todo o Porto de Santos.

 

A delegacia quer Cipa’’s mais atuantes e determinou, ainda, que os trabalhadores passem por cursos de capacitação e treinamento dentro dos terminais. Jarrão rebate essa saída da DRT. “É muito fácil cobrar o trabalhador. Te enchem de curso, palestra...isso tudo é inócuo. Vai dar treinamento e capacitação mas não vai dar autoridade. É muito complicado ter uma Cipa que não seja tendenciosa. Como você vai imaginar uma orientação de uma Cipa que não tem o avulso participando da eleição? Você pode ter um cara da Cipa que participa do Grêmio, faz a churrascada, é do escritório. Como é que o terminal vai digerir a possibilidade da permanência de um avulso integrar a Cipa?”

 

Jarrão questiona a atuação dos fiscais e, principalmente, da subdelegada do trabalho. “Será que o camarada que faz a fiscalização é conhecedor da operação? Qual a força que ele tem de paralisar uma operação por conta da segurança? Você se pergunta quantas vezes a delegada foi in loco constatar... quantas visitas ela fez aos terminais? Isso vai dando um certo descrédito, desânimo...qual foi a vez que houve um resultado prático?”

 

O portuário afirma que a consciência sobre os perigos e riscos das operações é de conhecimento da maioria dos colegas de profissão. E que os trabalhadores não visam somente a produtividade como muitos pensam. Para ele, a categoria só não pára a operação por medo e falta de respaldo das autoridades. “O lado consciente fica fragilizado porque não tem respaldo de ninguém... somos meros trabalhadores. Você só se sente seguro quando se tem um respaldo legal que deve vir da DRT. Quanto tempo leva para vir o fiscal depois que ele é comunicado? Qual é a rapidez que o trabalhador comunica uma operação e a fiscalização atua? Essa ala do cara consciente vai perdendo força. Ele pensa da seguinte forma: vai me adiantar chamar para quê?”

 

Ainda com tantas críticas e reclamações, Jarrão acredita que poderá haver uma mudança, o que depende principalmente da DRT. “Nós temos esperança, mas está centralizada em quem pode, em quem deve, na nossa cabeça em quem está nomeado para cuidar disso. Para gente é o Ministério do Trabalho. Em curto prazo nós vamos continuar com essa situação de sorte”.

Fonte: PortoGente - 03 JUL 07

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