Apesar do baixo porcentual de atrasos em vôos ontem no País (de 5,1%, até as 19h47) e da avaliação de que o plano de emergência adotado sexta-feira se mostrou eficaz, oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) evitaram decretar o fim da crise iniciada com a operação padrão de controladores, na terça-feira. Para a Aeronáutica, o grande teste deve ocorrer hoje, dia da semana com maior concentração de vôos. “Vencemos só a primeira etapa”, resumiu um oficial. Ele reconhece que muitos ajustes terão de ser feitos até o fim de semana, que marca o início das férias de julho.
Segundo militares ouvidos pelo Estado, o sistema está com “força suficiente” para absorver o afastamento, anunciado na sexta, de 14 controladores do centro de Brasília (Cindacta-1) rotulados como “lideranças negativas”. Embora menos experientes no setor, sargentos de Defesa Aérea, que normalmente monitoram só vôos militares, estão aos poucos fazendo o sistema voltar à normalidade.
Os oficiais admitem que, enquanto veteranos monitoravam até 14 aviões ao mesmo tempo, os novatos não devem imprimir o mesmo ritmo, o que pode levar a atrasos e a retenções de vôos. Mas garantem que não há risco à segurança de vôo, que sempre teve prioridade. “Não somos irresponsáveis”, disse um oficial.
O comando está atento para uma eventual derrota na Justiça ou uma reação dos sargentos. “Sabemos que toda ação tem uma reação. Se um dos punidos conseguir um habeas-corpus na Justiça comum, isso pode ser ruim internamente”, disse um oficial lotado no Rio.
Depois de anunciar o plano de emergência na sexta-feira, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, passou o fim de semana de plantão, acompanhando o desenrolar da crise. Embora “satisfeito” com os resultados alcançados, pediu cautela e atenção, pois “ainda existem muitas barreiras a serem vencidas”.
Com o isolamento das “lideranças negativas”, a Aeronáutica está convencida de que os controladores passarão a trabalhar dentro das regras militares, sem fazer “corpo mole” ou questionar ordens. Os oficiais disseram que estão em vigor as regras do militarismo e militares não têm horário de trabalho, mas tarefas a cumprir.
No fim do turno da manhã, o comandante do Cindacta-1, coronel Eduardo Raulino, reuniu-se com os sargentos. Segundo pessoas presentes ao encontro, avisou que o “clima é de guerra” e “o inimigo pode estar ao lado”, referindo-se a algum controlador insurgente. De acordo com as mesmas fontes, Raulino disse que, daqui para a frente, “o turno será o adequado ao cumprimento da missão, e não marcado em horas”.
No sábado, pelo menos dois controladores tiveram de permanecer no Cindacta-1 após cumprirem o turno de 8 horas. “Isso pode acontecer esporadicamente neste momento mais crítico”, confirmou um oficial ouvido pelo Estado. “Ninguém vai manter controladores trabalhando 24 horas.”
Fonte: O Estado de S.Paulo - 25 JUN 07