Terça, 04 Fevereiro 2025

Ver o próprio negócio ultrapassar a barreira dos primeiros anos de vida e crescer intensa e rapidamente pode parecer o cenário dos sonhos para qualquer empresário. A expansão acelerada, no entanto, nem sempre é sinônimo de sucesso. Para as pequenas empresas, isso também traz riscos e desafios que, se não forem bem administrados, trazem conseqüências desastrosas - e irreversíveis - para o negócio.

’’Quando a empresa passa a crescer a 50%, 60% ao ano, todos os problemas surgem de uma só vez’’, diz Paulo Veras, diretor-geral do Instituto Endeavor, entidade sem fins lucrativos de apoio ao empreendedor. A falta de dinheiro para financiar o crescimento é o primeiro desses entraves. Mas, segundo Veras, não é o mais grave.

Ele explica que, quando a empresa cresce demais, pode perder o controle de qualidade do produto e diminuir a qualidade do atendimento. ’’Essa negligência é fatal para o negócio’’, alerta. ’’Por isso, talvez seja a hora de pôr o pé no freio e vender ou produzir um pouco menos, até se estabilizar.’’

Reduzir o ritmo do crescimento não foi uma decisão fácil para os empresários cariocas Cello Macedo e Marcelo do Rio. Donos da microcervejaria Devassa, criada em 2002, que há três anos cresce a taxas de 100% ao ano, eles optaram por limitar a produção de cervejas em garrafa para este ano.

Além disso, há meses recusam propostas para levar os bares da marca para outras cidades - hoje, eles têm bares no Rio e em São Paulo. O objetivo é não ultrapassar os 50% de expansão em 2007. ’’Queremos crescer com qualidade para não perder o padrão que fez o nosso sucesso’’, diz Macedo.

O crescimento acelerado - e inesperado - da microcervejaria passou por cima de qualquer planejamento. ’’Cada dia surgia uma surpresa diferente’’, diz o empresário. Para atender aos pedidos que aumentavam, as máquinas foram sendo adaptadas, com a anexação de novos tanques. Também foi preciso contratar mais gente do que estava previsto.

A contratação de pessoal para atender às novas demandas é uma das ’’novidades’’ que deve receber maior atenção do pequeno empreendedor. Segundo o coordenador do Centro de Empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas, José Augusto Corrêa, a falta de treinamento ou de uma seleção rigorosa resulta em funcionários que não compreendem a filosofia da empresa. ’’Eles podem pôr em risco a imagem que a companhia custou tanto a construir.’’

FASE COMPLICADA

’’O estágio em que a empresa deixa de ser pequena e começa a crescer é dos mais complicados’’, diz o norte-americano Bo Burlingham, autor do livro Pequenos Gigantes, sobre as armadilhas do crescimento empresarial nos pequenos negócios.

Segundo ele, na expansão exagerada, todos ficam insatisfeitos: o cliente por não ter o serviço que quer, o fornecedor por não conseguir ajustar-se às novas demandas e o empregado por ser exigido mais do que estava preparado. ’’Toda a cultura da companhia é contaminada.’’

Não existe, porém, fórmula para fugir desses perigos. Para Corrêa, da FGV, o empreendedor é quem deve definir o ritmo de crescimento da empresa. ’’É preferível ir devagar, mas caminhar para o sucesso, do que simplesmente obedecer à velocidade do mercado .’’

Segundo Burlingham, para evitar os problemas do crescimento, basta o empreendedor se manter atento aos riscos e não relaxar. ’’Caso contrário, ele será um forte candidato a se tornar vítima.’’

ALERTA VERMELHO

Capital de giro:
O empreendedor acha que pode vender sempre mais. Mas o capital que entra é insuficiente para financiar os pagamentos futuros. Dessa forma, pode faltar dinheiro para financiar o crescimento

Produção: A estrutura física da empresa não comporta o crescimento. Se não for possível ampliar, pode ser necessário limitar a produção

Insatisfação: A empresa pode não estar preparada para o aumento no número de clientes, prejudicando a qualidade do atendimento. O nível de satisfação dos consumidores cai e muitos deixam de comprar

Despreparo: Aumento da demanda exige mais funcionários. Muitos começam a trabalhar sem treinamento, alheios à filosofia da empresa

Erros: Com o crescimento, há necessidade de se produzir mais e de imediato. Com muito trabalho a fazer e sob pressão, funcionários cometem erros mais facilmente

Perda de fornecedores: Muitos não estão preparados para atender ao aumento da demanda exigido pela empresa

Fonte: O Estado de S.Paulo - 22 MAI 07

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