Segunda, 21 Abril 2025

Os 15 mil moradores de Tabatinga, a 330 km de São Paulo, não escondem o clima de guerra com a China. Nos últimos seis anos, a economia da pequena cidade, no norte do Estado, vem sendo sustentada pela produção de bichinhos de pelúcia. As 32 empresas produzem perto de 1 milhão de peças por mês e geram quase 2 mil empregos, entre diretos e indiretos.

Mas a atividade está ameaçada pela entrada do produto chinês, favorecido pelo dólar baixo em relação ao real. Justamente agora que o bicho de pelúcia virou símbolo da cidade e começa a atrair turistas. ’’O predador que ameaça nossos bichinhos é o tigre asiático’’, afirma Denise Manzoni, da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Tabatinga. Os chineses, segundo ela, colocam seus produtos no Brasil com preços mais baixos. ’’Eles têm tecnologia, mas é uma concorrência desleal, pois usam mão-de-obra baratíssima.’’ A saída para os fabricantes do interior de São Paulo tem sido a criatividade. Os tradicionais tigre e leão foram substituídos por aves e animais da nossa fauna, como araras, macacos, jacarés e sapos. ’’Nossa ararinha virou febre e a gente nem dá conta de tantos pedidos’’, diz a empresária Mileni Eugênio Ferri Revoredo, da Nicoli Ferri.

A empresa contratou um designer, abriu um ponto-de-venda direto e passou a produzir também sob encomenda. ’’O cliente dá a idéia e nós desenvolvemos o produto’’, diz o marido e sócio de Mileni, José Santo Revoredo. Assim, venderam 55 mil bichos a uma empresa.

Outros clientes já trazem a idéia pronta. A lojista Lazara Cristina Roncari, de Franca, quer bichos na forma de puff para sentar. ’’Muita gente está procurando’’, justificou.

A empresa concorre diretamente com os chineses atendendo lojistas da Rua 25 de Março, em São Paulo, e dribla a concorrência oferecendo mix de produtos. ’’Como a importação é fechada com muita antecedência e em grande quantidade, nós temos a vantagem da novidade e do menor volume’’, diz Revoredo. Os bichinhos com cara de gente e fazendo pose são um diferencial nessa disputa.

A empresa foi buscar uma das armas dos chineses - a tecnologia. ’’Importamos deles as máquinas de cortar os moldes, que o Brasil não produz.’’ O produto é feito, predominantemente, de um tecido conhecido como plush. Os moldes são cortados, costurados e recheados com um material à base de fibra de silicone ou manta de edredon. A Nicoli Ferri passou a importar também parte dos tecidos da China. Sai 35% mais barato que o nacional, produzido em Santa Catarina, e ajuda a bancar a expansão da empresa que dobrou a produção nos últimos três anos. ’’Estamos fazendo o que eles fazem com a gente: buscamos a matéria-prima lá e agregamos valor aqui.’’

A Câmara Setorial do Bicho de Pelúcia, criada há dois anos na Associação Comercial, pretende iniciar a compra conjunta de matéria-prima para reduzir custos e aumentar o poder de negociação. ’’O ideal é comprar aqui, para ajudar também a indústria de tecidos nacional’’, disse Denise. Há 8 anos, a fabricação de pelúcia era uma atividade artesanal, de ’’fundo de quintal’’, segundo o prefeito José Luiz Quarteiro (PSB). Agora, é profissional e ocupa a mão-de-obra que ficava ociosa no período de entressafra agrícola.

Ele lembra que, durante o ciclo do café, a cidade teve população maior que a atual. Mas as crises na agricultura motivaram o êxodo. Moradores começaram a produzir bichinhos em casa para vender na vizinha Ibitinga, a terra dos bordados. Foi assim que a cidade achou sua vocação. ’’Hoje, nós somos a capital brasileira do bicho de pelúcia’’, diz o prefeito.

O ex-tesoureiro da prefeitura, Adilson Aparecido Galbiatti, deixou o cargo em 2001 para se arriscar na atividade. Começou em casa, com três pessoas. ’’Hoje, tenho 20 funcionários e 18 colaboradores terceirizados.’’ Ele repassa os moldes para as costureiras donas-de-casa que receberam treinamento e transformaram quartos em pequenos ateliês. A Terê Baby, empresa de Galbiatti, é uma das principais da cidade. Para a gestora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequena Empresas (Sebrae), Patrícia Ferrari Peceguini, Tabatinga está no caminho certo para enfrentar a concorrência. ’’Além de melhorar a produtividade, têm de usar as armas as brasileiras da criatividade e da inovação.’’

Fonte: O Estado de S.Paulo - 21 MAI 07

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