gestão de pessoas tem se tornado um dos grandes desafios dentro das companhias com administração mais moderna e comprometida com resultados. De acordo com especialistas de Recursos Humanos (RH), as empresas precisam viabilizar um RH mais efetivo e estratégico, enfocando também seus clientes e fornecedores. “O RH trabalha com gente, mas às vezes acaba esquecendo que cliente também é gente. É necessário entender o que as pessoas buscam da sua empresa, para conseguir passar aos colaboradores a visão real das necessidades dentro dos departamentos”, afirmou o diretor presidente do CitiFinancial, Leonel Andrade.
Segundo a diretora de Desenvolvimento Organizacional do Wal-Mart Brasil, Susana Raposo, mais do que saber o que o cliente busca é fazer com que a sua equipe saiba ‘ser cliente’, ou seja, ela se coloca na posição do consumidor e entende o que irá agradar-lhe.
No setor financeiro, essa ‘regra’ também é válida, já que houve mais de 160 fusões ou aquisições nessa área nos últimos anos no Brasil. O diretor da Partner Conhecimento, Álvaro Musa, explica que este mercado está em plena evolução e que, por conta deste cenário, exige-se cada vez mais das pessoas comprometimento com o negócio.
“No dinâmico mundo financeiro, onde o crédito ao consumidor já alcança o patamar de R$ 199 bilhões, com crescimento da ordem de 20% ao ano, é natural que proliferem empresas que apostam no setor, onde o cliente e os colaboradores são peças fundamentais”, diz ele.
Para o diretor da DN Consult, Moacir Nunes, o RH passa há muito tempo por transformações. “O setor vai além de suas fronteiras quando ultrapassa as suas obrigações, cuidando de aspectos como responsabilidade social, participação na realização de parcerias e no preparo da governança corporativa”, completou Nunes.
Um exemplo claro de que o RH precisa mudar sua atuação é a pesquisa realizada pelo Instituto Dom Bosco em parceria com o Conarh, onde 383 CEOs — chief executive officer — das 500 maiores empresas para se trabalhar no Brasil dizem que em apenas 9% delas o RH definitivamente participa das decisões estratégicas das empresas. “Este dado nos surpreende e nos leva acreditar que este é um processo que será revertido em mão dupla: com o RH mostrando sua força nas organizações e com os altos executivos apostando nas idéias e ações dos recursos humanos”, destacou o presidente da Empreenda Consultoria Estratégica, Cezar Souza.
Análise comportamental
Outras duas novas tendências do setor de recursos humanos são os fatores comportamentais — que em alguns casos são mais importante que o curriculum vitae — na hora de recrutar um novo profissional, e o trabalho de aproximação da família no processo de retenção de talentos.
A análise das grandes corporações varia desde o quanto o candidato é empreendedor até os seus compromissos pessoais, como trabalhos voluntários, relação com a família, entre outras questões. De acordo com o presidente da Lexmark International do Brasil, Leonel Costa, os fatores comportamentais contam, em média, seis pontos em uma escala de zero a dez na hora de seleção. “O restante da avaliação é feita em cima do currículo. Mudamos o nosso método, pois percebemos que no passado houve algumas falhas na avaliação. A avaliação psicológica e a noção da expectativa do futuro colaborador pela empresa são mecanismos que auxiliam positivamente no processo”, afirmou Costa.
Segundo ele, a empresa investe muito em um funcionário com recrutamento e treinamento, para correr o risco de perdê-lo em curto espaço de tempo.
“Hoje, as empresas conseguem enxergar que é mais importante ter um funcionário que sabe o quer na sua profissão do que ter um colaborador que possui apenas um ótimo currículo, mas não sabe se está fazendo a melhor escolha para sua vida”, disse o presidente da Visa Vale, Newton Neiva.
“Nosso processo está mudando. Para conseguir ser nosso funcionário, a pessoa terá de se forçar como se fosse estudar em uma universidade de ponta. Os pontos-chaves para a contratação, porém, ainda serão a vocação, o comportamento adequado ao business e, finalmente, o espírito de liderança”, diz Andrade.
Retenção de talentos
A retenção de talentos e a qualificação dos funcionários têm sido um grande foco para as companhias que buscam motivar e promover os funcionários que querem vencer novos desafios, sem ter de migrar para outra corporação. “Em todas as nossas avaliações, verificamos a existência de talentos que podem ser recolocados na empresa. Os pontos mais analisados são o direcionamento para as tarefas e a assertividade”, afirmou Raposo.
Para a diretora executiva de RH do Grupo Pão de Açúcar, Maria Aparecida Fonseca, a família tem uma influência muito grande na retenção de talentos, já que o funcionário define a sua carreira, na maioria das vezes, em casa. “Antes de o selecionado escolher se quer trabalhar, eu dou uma rede e peço para ele ir a um parque e estender entre duas árvores. Naquele momento, ele já terá toda a opinião da família, mas é ele que deve decidir. Não há lugar melhor para refletir do que deitado em uma boa rede”, disse Fonseca. Ela conclui explicando que esse tipo de atitude é fundamental para o grupo, pois, nesse momento, a pessoa se compromete de fato com a empresa.
Fonte: DCI - 02 ABR 07