Quarta, 05 Fevereiro 2025
A União Européia (UE) não é um bloco econômico comum, a exemplo do Mercosul (que reúne Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela) ou Nafta (México, EUA e Canadá). Desde o seu início, a UE tinha clara a intenção de buscar a integração político-social-cultural, onde a supranacionalidade seria uma meta, em detrimento da vasta gama de identidades nacionais e regionais. Um bom exemplo é o número de línguas oficiais do bloco: 23. O modelo institucional privilegia, por intermédio de dezenas de entidades, o diálogo e o consenso.

“Antes da União Européia, não havia experiências similares, com tanto espaço para o diálogo”, diz o professor Jaime Benvenuto, coordenador do curso de direito da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e professor da pós-graduação de ciência política da UFPE. “O anseio por integração é algo que já acontece há séculos. Dentro da própria Europa, temos os exemplos da Confederação Helvética, que é o nome oficial da Suíça, e da Zollverein, uma união aduaneira que deu lugar à Alemanha pensada por Otto von Bismarck”, explica Marcelo Medeiros, coordenador de ciências sociais da UFPE.

Dois outros gigantes – um morto há 16 anos e o outro muito vivo – podem servir como comparação com a União Européia, mesmo que seja para demonstrar como os três são diferentes: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e os Estados Unidos da América (EUA). A União Soviética foi o primogênito da Revolução Russa de 1917. Em 1991, quando se desintegrou devido principalmente ao tamanho e à ferrugem, a URSS congregava 15 repúblicas, tinha quase 300 milhões de habitantes do Cáucaso ao Oceano Pacífico e ocupava uma área de 22,4 milhões de quilômetros quadrados – quase seis vezes maior que a UE. “Há uma diferença fundamental entre a URSS e a UE: nesta última, o processo se faz pela vontade soberana dos membros. Na União Soviética, como na Iugoslávia, o que houve foi uma imposição a estes Estados-satélites”, destaca Medeiros.

O fim melancólico do gigante soviético terminou por empurrar algumas de suas ex-repúblicas e países sob sua influência nas mãos da cada vez mais forte União Européia. “Quando a Guerra Fria termina, começa a incorporação dos países do Leste Europeu à UE. Para a Europa, a idéia é afastar os países da influência russa. Para estas nações, é participar de um bloco ocidental de prosperidade”, opina o geógrafo Jan Bitoun, da UFPE. A UE conta atualmente com as ex-URSS Estônia, Letônia e Lituânia, além de Eslováquia, Eslovênia, Hungria, Polônia e República Checa, que durante décadas viveram sob a Cortina de Ferro.

Com relação aos Estados Unidos, há similaridades e discordâncias. “Os EUA promoveram uma integração em torno de um ideal comum de povos migrantes. Diversas comunidades que chegaram à América – latinos, irlandeses, italianos – sempre lutaram para ocupar espaços de trabalho. Daí surgiu o ideal de prosperidade”, lembra Bitoun, reforçando a influência americana na criação da Comunidade Econômica Européia (CEE). “A formação da CEE foi também uma tentativa de fortalecer uma Europa Ocidental liberal, ligada aos Estados Unidos pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), de formar um bloco a oeste para resistir à União Soviética”, continua o geógrafo.

“A UE tende a restringir as competências dos membros em prol de competências destinadas a um nível supranacional, em um processo de federalização”, ressalta Marcelo Medeiros. “Nos EUA, havia uma tendência confederalista que queria que cada uma das 13 ex-colônias virasse um país. Os americanos conseguiram o que o venezuelano Simón Bolívar e o argentino José San Martín gostariam de ter feito na América Latina.”

Fonte: Jornal do Commercio - 26 MAR 07

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