Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), os mais de 7 milhões de veículos automotores são responsáveis por 63% do material particulado presente na poluição atmosférica. A conclusão é da pesquisa do Instituto de Física (IF) da USP, que analisou 400 amostras de material particulado coletadas em quatro pontos da RMSP, entre 2011 e 2013. O trabalho de mestrado do pesquisador Djacinto Aparecido Monteiro dos Santos Junior também aponta que a concentração atmosférica de material particulado é 35% maior durante o inverno, período menos favorável a dispersão de poluentes no ar.
O estudo foi orientado pelo professor Paulo Artaxo, coordenador do Laboratório de Física Atmosférica (LFA) da USP, e utilizou dados do projeto FONTES, patrocinado pela Petrobras, com parceria entre o LFA e o Departamento de Química da PUC-Rio. “A pesquisa também procurou caracterizar o conteúdo de carbono do material particulado”, diz Santos Junior.
Foram coletadas cerca de 400 amostras de material particulado em quatro estações amostradoras com características distintas (Congonhas, Cerqueira César, Ibirapuera e Cidade Universitária), entre meados de 2011 e final de 2013. “O material foi coletado em filtros que foram analisados em laboratório”, relata o pesquisador, acrescentando que “foi determinada a composição química detalhada do material particulado, tanto na fração orgânica quanto inorgânica, como sulfatos e nitratos”.
A partir da aplicação de modelos receptores (análises estatísticas baseadas na covariabilidade das concentrações de alguns desses compostos), foi possível identificar e quantificar as principais fontes poluidoras responsáveis pelos níveis de material particulado. “Parâmetros meteorológicos fornecidos por estações de monitoramento da Cetesb operadas nas mesmas localidades foram utilizadas para auxiliar a interpretação dos resultados”, afirma Santos Junior.
Emissões veiculares
A análise dos modelos receptores verificou um impacto médio de 63% nas emissões de material particulado atribuídos ao setor veicular. “Em todos os locais de medição, o material apresentou concentrações e composição química bastante semelhante, indicando que ele é razoavelmente uniforme na atmosfera da RMSP”, aponta o pesquisador. “As concentrações de material particulado fino foram cerca de 35% maiores durante o inverno, quando as condições meteorológicas são menos favoráveis à dispersão de poluentes, tendência já apontada por outros estudos”.
Santos Junior ressalta que existem ainda incertezas no processo de quantificação das fontes de material particulado na RMSP. “Além das emissões diretas de material particulado, os veículos também emitem diversos compostos orgânicos na fase gasosa que podem ser processados na atmosfera resultando na formação adicional de material particulado, os chamados aerossóis orgânicos secundários, cujos processos de formação ainda são fonte de incertezas”, destaca. “Por isso, o estudo terá continuidade visando entender os principais processos físico-químicos de produção, transporte e transformação de partículas de aerossóis na atmosfera”.
A poluição do ar, especialmente em ambientes urbanos, tem sido associada ao agravamento de doenças respiratórias, cardiovasculares e neurológicas. Os grupos mais afetados são crianças, idosos, gestantes e portadores de doenças cardíacas e respiratórias crônicas. “No caso do material particulado, ao serem inaladas, as partículas são depositadas em diferentes regiões do trato respiratório”, afirma o pesquisador. “A profundidade dessa deposição é maior quanto menor o diâmetro dessas partículas, o que justifica a importância de se quantificar as fontes de material particulado fino, com partículas de diâmetro inferior a 2.5 micrometros”.
De acordo com Santos Junior, programas de controle da poluição do ar por veículos, como o PROCONVE/PROMOT, estabelecem prazos, limites de emissões e exigências tecnológicas para veículos automotores, a fim de reduzir e controlar as emissões veiculares. “No entanto, medidas focadas apenas no controle das emissões de veículos individuais não são suficientes”, observa. “É importante que a melhoria na mobilidade urbana e a poluição atmosférica sejam questões tratadas de modo integrado. Cabe observar que a ampliação da rede de metrô e melhorias na qualidade do transporte coletivo têm impacto direto na qualidade do ar em regiões como a Grande São Paulo”. Agência USP de Notícias