O extrativismo vegetal sustentável é uma alternativa viável de agregação de renda para as comunidades locais aliada à segurança alimentar mundial e à conservação e respeito ao meio ambiente.
A atividade, segundo o último Censo Agropecuário divulgado em 2006, é responsável por 70% da produção nacional de alimentos, ou seja, mais da metade dos alimentos que vai para a mesa do brasileiro é proveniente desse setor. Mas, apesar desse dado, iniciativas produtivas encampadas por pequenos produtores e/ou povos e comunidades tradicionais, muitas vezes, não avançam devido à falta de divulgação de seus produtos e à dificuldade de alcançar os mercados regional e nacional.
O WWF-Brasil, por meio do Programa Cerrado Pantanal, desenvolve desde 2010 ações no Mosaico Sertão Veredas Peruaçu (MSVP) com o objetivo de fortalecer as cadeias produtivas do extrativismo na região e conservação de um dos biomas mais ameaçados do país. As ações também buscam aumentar a conscientização e o entendimento com relação aos desafios que os pequenos agricultores enfrentam e ajudar a identificar maneiras eficientes de apoiá-los.
A produção do extrativismo vegetal no Mosaico vem aumentando a cada ano e na última safra (2014/2015) foram produzidos e comercializados aproximadamente 17 toneladas de frutos nativos do Cerrado e de quintais (não nativos, mas presentes na região), contribuindo diretamente para uma maior conservação do Cerrado e, ainda, agregação de renda para as comunidades locais.
Segundo Julio Cesar Sampaio, coordenador do Programa Cerrado Pantanal, os números representativos do extrativismo vegetal no Cerrado são resultado de uma maior estruturação na cadeia produtiva. “O potencial produtivo de cada comunidade é reflexo do planejamento das cooperativas e associações comunitárias da região”. As pessoas que estão trabalhando com extrativismo vegetal tem tido um acompanhamento nos últimos anos, o que tem assegurado um produto com maior qualidade, aliado a um aumento na produção, quando comparado a produção atual com à produção de alguns anos atrás.
“O extrativismo na região é uma atividade importante de geração de renda conciliada com a conservação ambiental. Antes os produtos eram processados nas casas das pessoas e hoje muitas comunidades já possuem pequenas unidades de processamento. Um grande desafio que ainda persiste está relacionado com o acesso aos mercados”, afirma Luiz Carraza, secretário geral da Central do Cerrado – Rede de Cooperativas e Organizações Comunitárias do Cerrado.
A Central do Cerrado tem buscado parceiros comerciais para tentar contratos que possam dar alguma segurança para fazer um planejamento de safra. Desta forma as cooperativas agroextrativistas e as associações comunitárias podem mobilizar seus integrantes para obter um bom resultado econômico num fluxo de produção continua e crescente
Núcleo Pandeiros do Mosaico
Na última safra foram apresentados resultados importantes de produção e comercialização do extrativismo vegetal sustentável. A Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Pandeiros (COOPAE), que atua nesse núcleo, produziu e comercializou 800 kg de cajuí (cajuzinho do Cerrado) e quatro toneladas de polpa de pequi. Tudo isso comercializado com o apoio do Programa Nacional de Alimentação Escolar da Prefeitura de Januária. Também foram produzidos 1,6 tonelada de mel comercializado por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e uma grande quantidade de polpas de frutos do Cerrado, geleias e compotas comercializadas em feiras e eventos.
Núcleo Peruaçu do Mosaico
Apesar de ainda não existir uma cooperativa agroextrativista organizada foram produzidos e comercializados 800 kg de coquinho azedo, 500 kg de pequi, 176 kg de araticum e três toneladas de favela pelas associações comunitárias locais. São cerca de 200 famílias beneficiadas na região e a previsão de produção para a próxima safra é de duas toneladas de buriti em raspa; 12 toneladas de pequi em polpa; três toneladas de cagaita em polpa e três toneladas de cajuí.
Núcleo Grande Sertão do Mosaico
Nesta safra, a Cooperativa Regional Agrissilviextrativista Sertão Veredas produziu 1261 kg de coquinho azedo; 197 kg de acerola; 1664 litros de suco de laranja; 1133 kg de manga; 87 kg de tamarindo; 1660 kg de banana e 16 kg de goiaba. A produção total de frutos foi de 6,18 toneladas, sendo tudo destinado ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) Municipal e Estadual, que atende as Escolas Estadual e Municipal de Chapada Gaúcha e a Escola Estadual da Serra das Araras. Também foram produzidos 226 litros de óleo de pequi comercializados para a Empresa de Óleos Beraca, de Belém, no Pará, e 200 kg de coquinho azedo comercializados para o Empório Sitio Belo, de São Paulo.
“Fazendo uma analogia oportuna com uma árvore estamos na fase de tronco firme, raízes bem desenvolvidas e copa frondosa, porém ainda é necessário irrigar e adubar para que futuramente essa árvore busque água e nutrientes por conta própria e dê bons frutos. O extrativismo vegetal no Peruaçu tem um potencial enorme de crescimento. As comunidades estão em um nível de envolvimento surpreendente e os parceiros estão se doando incrivelmente nas ações. Temos um grupo forte que fará grandes transformações positivas”, explica Joel Araújo, da Fundação Pró Natureza, da equipe de assistência técnica e extensão rural Cerrado com apoio do Serviço Florestal.
Toda essa produção nos três núcleos do Mosaico beneficiam aproximadamente 2000 famílias e envolve uma rede de parcerias que conta com 12 prefeituras municipais da região do MSVP, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Estadual de Floresta de Minas Gerais, Central do Cerrado, Cáritas Diocesana, Funatura ATER Cerrado-FNDF, Serviço Florestal Brasileiro, Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, entre outros. Fonte: WWF-Brasil - Cerrado