Na segunda parte da entrevista ao Portogente, a especialista em Mudanças Climáticas e Sequestro de Carbono, Mônica Pinto, diz como os portos podem contribuir para poluir menos o meio ambiente.
* Agropecuária é a maior poluidora no Brasil
Portogente - Mesmo o incentivo à cabotagem não é suficiente para acabar com a emissão de gases poluentes, haja vista que os navios utilizam combustível fóssil. Qual a alternativa para essa modalidade de transporte?
Mônica Pinto – Embora navios utilizem combustível fóssil, o modal hidroviário é mais eficiente do que o rodoviário, não só do ponto de vista ambiental, como do econômico. A cabotagem é considerada muito promissora em razão de o Brasil apresentar 7,4 mil quilômetros de extensão de costa navegável, ao longo da qual estão às principais cidades, polos industriais e grandes centros consumidores. Pesquisa da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que responde pelo Porto de Santos, comparando a emissão de gases por navios e por caminhões, durante o período de um ano, mostra que aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono foram lançadas no ar pelos veículos de carga que trafegavam nas estradas fazendo o trajeto Santos-Fortaleza. Com a cabotagem, esse montante seria 99% menor.
Operações de transporte marítimo emitem diversos tipos de poluentes
Portogente - Como especialista em sequestro de carbono, como as empresas portuárias podem entrar no programa de créditos de carbono?
Dentre os escopos de projetos nos quais a indústria portuária brasileira teria a possibilidade de validação, me parece que o de energias renováveis é o mais promissor, mas não sei afirmar se existe algum projeto do setor em andamento na esfera do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Portogente - Quais as vantagens para as empresas e o meio ambiente?
Produção que contemple sustentabilidade ambiental é um parâmetro que hoje não se admite mais ser negligenciado. Empresas cujas operações desdenham essa lógica tendem a perder competitividade. Cidades portuárias são usualmente associadas à poluição do ar e também da água. Nos Estados Unidos, os portos municipais de Los Angeles e de Long Beach, na Califórnia, lançaram um programa com investimento de cerca de dois bilhões de dólares. O objetivo é alcançar uma redução de 45% em suas emissões de substâncias tóxicas. As principais ações incluem instalar redes elétricas nos terminais para que os navios atracados se conectem e possam desligar os motores a diesel; modernizar os guindastes que manejam a carga para reaproveitar parte da energia gasta; substituir os caminhões de transporte de contêineres por veículos mais modernos e menos poluentes; introduzir rebocadores e caminhões híbridos ou elétricos; e incentivar os navios a usar combustível mais limpo e reduzir a velocidade para entrar e sair dos portos, a fim de diminuir as emissões. Todas essas ações podem e devem ser replicadas no Brasil, com significativos ganhos ambientais, mas é preciso vontade política.