Foto: Celso Martins
O oceanógrafo e pesquisador da Universidade do Vale de Itajaí (Santa Catarina), Marcus Polette, fala ao PortoGente sobre a ocupação do litoral catarinense, o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro e as estratégias do governo para ocupar o território com grandes empreendimentos. Nesta primeira parte da entrevista, Polette avalia que o estado não cumpre seu papel de isenção na gestão do território, privilegiando interesses privados em detrimento do interesse público e da sociedade catarinense.
PortoGente - Qual a sua opinião sobre o Relatório de Investimentos e Oportunidades publicado pelo governo do estado?
Marcus Polette - O Relatório de Investimentos de Santa Catarina é um produto expedito e raso elaborado no ano de 2009 para o 9th Global Travel & Tourist Summit, evento este que ocorreu em Florianópolis e que reuniu autoridades de todo o mundo a fim de discutir o setor do turismo. O produto é uma leitura amadora realizada por quem pouco conhece os desafios e as reais oportunidades de investimentos tanto para o litoral de Santa Catarina, como também para outras regiões potencialmente importantes para o turismo do estado, como é o caso da Serra, do Vale do Itajaí e do Planalto Catarinense.
PortoGente – Tem problemas?
Marcus Polette – Possui conceitos incorretos sobre o que é turismo, desenvolvimento, e ainda sobre as potencialidades existentes no território catarinense, pois não leva em consideração aspectos de natureza ambiental, social, histórico e cultural. Não passa de um produto imobiliário que foi realizado apenas considerando as oportunidades de negócios existentes quanto ao uso e ocupação do solo. Privilegia a ocupação de importantes remanescentes paisagísticos e que pode levar a problemas e conflitos diretos junto às comunidades tradicionais do nosso estado, tais como as comunidades pesqueiras, indígenas e agrícolas. Acredito ser um produto que não reflete inclusive os interesses do próprio estado, visto que este não pode expor em uma publicação oficial, e paga com recursos públicos, empreendimentos imobiliários privados, muitos dos quais sem licenciamento ambiental. Alguns inclusive estão inseridos em áreas com grande potencialidade para serem conservados para as futuras gerações. Reflete uma perda total de oportunidades e investimentos para o empresariado brasileiro e internacional que pensa de forma mais séria, mais profissional, e que pensa no longo prazo e que pretende ainda desenvolver seus projetos na ótica da responsabilidade social e ambiental.