O crescimento do setor de transportes se constitui em um enorme desafio para a gestão ambiental em todo o mundo. Os deslocamentos por terra, mar e ar são responsáveis por um quarto da emissão mundial de dióxido de carbono (CO2). Nas regiões portuárias, que registram grande circulação de caminhões e embarcações marítimas, o nível de poluição atmosférica já alcança índices alarmantes. Medidas como renovação da hoje desgastadíssima frota de caminhões e incentivo a projetos de crédito de carbono são fundamentais para que o desenvolvimento econômico não acarrete sérios passivos à saúde da população. Estudos de saúde recentes indicam que o alto nível de poluição tem aumentado o risco de doenças como câncer, diabetes e asma.
Segundo estatísticas do Departamento Nacional de Trânsito (Denatram), o Brasil, em março deste ano, contava com uma frota de 1.866.908 caminhões, com idade média de 17 anos, mais do dobro do que o aceitável, que gira em torno de 7 anos. Conscientes da gravidade do fato e das muitas décadas em que o tema foi tratado como secundário, as autoridades do setor já buscam soluções para reverter esse panorama. O Banco de Desenvolvimento Nacional (BNDES) mantém, desde dezembro do ano passado, o Programa de Financiamento a Caminhoneiros (Prócaminhoneiro). A intenção é financiar a aquisição de equipamentos novos e reduzir a idade da frota para 6,5 anos até 2013.
Frota nacional de veículos | |
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Veículos leves | 30.364.216 |
Caminhões | 1.866.908 |
Caminhonetes | 2.681.040 |
Motocicletas | 9.774.341 |
Ônibus | 381.461 |
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Fonte: Denatram - março/2008 |
No entanto, o desafio não está apenas em colocar veículos novos rodando País afora. A atividade de transporte é, de qualquer forma, uma grande poluidora do ar e nociva à saúde dos seres humanos. O estudante de Administração em Gestão Ambiental no Senac São Paulo, Ulysses Valery de Almeida, apresentou à reportagem de PortoGente uma tese da doutora em Ciências, Daniela Bacchi Bartholomeu, que esclarece números alarmantes sobre a emissão de CO2 no ar dos grandes centros de circulação de caminhões.
No estudo (leia material completo), Daniela aponta que cada veículo pesado emite 770 gramas de CO2 a cada quilômetro rodado ou 3,140 gramas por quilo de combustível queimado. A partir desse dado, é possível notar que a concentração da “fumaça preta” nas principais regiões portuárias do Brasil é bastante alta. Se considerarmos os 10 mil caminhões que a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) indica que circulam por dia no Porto de Santos, o principal da América Latina, são emitidos 7.700 quilos de dióxido de carbono por quilômetro rodado. Com o tráfego intenso nos 365 dias de cada ano, o resultado é um ar cada vez mais carregado de substâncias altamente geradoras de problemas respiratórios e grandes contribuintes para o efeito estufa.
As emissões de CO2 de veículos de transporte terrestre e aéreo no Estado de São Paulo já superam, e muito, as emissões das indústrias, as antigas vilãs da polução atmosférica, especialmente as instaladas no pólo industrial de Cubatão (SP), apontado, apesar das melhorias, como um dos locais mais poluidores do planeta. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado, os veículos de transporte, aí incluindo a imensa frota paulista de automóveis, geraram mais de 43 milhões de toneladas de CO2 no último ano. E a tendência desse aumento também tem sido registrada nos demais estados brasileiros. Para comparação, a Cosipa, principal siderúrgica nacional, emite cerca de seis milhões de toneladas por ano (leia mais).
Todos os efeitos causados pela circulação de veículos são resultados da demanda da atual sociedade, cada vez mais dependente da troca de mercadorias – transporte de carga – e do deslocamento individual, em detrimento ao transporte público de massa. Dessa forma, a saída não é culpar os veículos e sim adotar iniciativas que corrijam o curso da crescente poluição atmosférica. No caso do Brasil, a concentração do transporte nas rodovias é um aspecto bastante negativo tanto em termos de poluição como de eficiência logística. O modal ferroviário ficou décadas sem se desenvolver e o aquaviário ainda encontra desconhecimento e resistência para sua adoção.
Os investimentos em infra-estrutura de transporte também precisam ser elevados no País. Ainda na tese da Dra. Daniela Bartholomeu, é possível detectar que rodovias em melhores condições de conservação resultam em maiores benefícios econômicos e ambientais. Ela atesta que nos experimentos realizados para a pesquisa, houve uma redução entre 0,22% e 6% no consumo médio de combustível, dependendo da conservação das rotas observadas, e de 18,7% no gasto com manutenção do caminhão quando o veículo utilizado na pesquisa percorreu a rota em melhores condições de conservação.
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