O alerta está dado e vem de uma fonte especializada no tema. De acordo com o professor universitário Fábio Giordano, coordenador do Projeto EcoManage da Universidade Santa Cecília, o nível do mar deve subir 33 centímetros até 2100. E se o homem não cuidar do meio ambiente como deve, este estrago pode atingir até 1,5 metro, o que mudaria completamente a rotina de operações no Porto de Santos.
Além de projetar o futuro, Giordano falou dos problemas atuais do cais santista em relação ao litoral paulista. Durante um seminário realizado na Unisanta, o professor explicou porque há um altíssimo nível de coliformes fecais pairando no canal do estuário, o mesmo usado pelos navios que entram no Porto de Santos. “O alto nível de bactérias deve-se ao esgoto urbano despejado no estuário, por incrível que pareça”.
Ou seja, cada vez mais se torna necessária a retirada dos moradores que se equilibram em palafitas às margens do maior porto da América Latina, como nas áreas da Prainha e Conceiçãozinha, em Guarujá, onde uma rede encanada de esgoto não passa de um sonho impossível de ser realizado, até mesmo pelo fato das áreas serem consideradas naturais e invadidas pelo homem. Leia mais na entrevista de Giordano.
PortoGente: Qual a contribuição das operações portuárias de Santos e Guarujá para a série de problemas ambientais da região?
Fábio Giordano: Hoje o maior problema não é a operação portuária propriamente dita, mas sim a problemática referente à logística que ela gera. Entre 2009 e 2020, a capacidade de operação portuária se esgotará e as ampliações no Porto serão necessárias. Neste sentido, um grande impacto ambiental nos manguezais poderá ou não ocorrer, dependendo dos cuidados ambientais com as obras.
PortoGente: Há como evitar um desastre ambiental em Santos?
Giordano: Se houver planejamento, o impacto pode ser minimizado. Temos um exemplo na modificação que recentemente sofreu o projeto da expansão portuária da Embraport. Agora, ele passou a ocupar a metade do terreno originalmente previsto, preservando-se grandes áreas de restinga e de manguezal. Tudo feito absolutamente dentro da lei, com consultas a população por meio das audiências públicas, bem como o apoio de uma consultoria técnica altamente qualificada.
PortoGente: As empresas do setor portuário tentam minimizar os problemas ambientais?
Giordano: Algumas empresas já se mobilizam para utilizar o ambiente de forma sustentável, o que é uma atitude já considerada louvável. Como exemplo, podemos citar o desenvolvimento do Projeto Mangue Limpo pela Dow Brasil na parte do porto, localizado no Guarujá. Outras empresas vêm investindo também na área de logística, como é o caso da Ecovias e das concessionárias de estradas de ferro.
PortoGente: E há debates para que essas idéias sejam difundidas?
Giordano: Sim, mas poderíamos ter mais. Algumas idéias interessantes sobre logística foram trazidas durante o segundo Megapolo, realizado em Cubatão em maio. Lá, falou-se na proposta de construção de um álcoolduto e de uma correia transportadora direto do planalto para os terminais de embarque. Sem dúvida, o aumento de eficiência da carga e descarga vai gerar menos necessidade de novos espaços e maiores áreas de manguezais serão preservadas. Assim, por exemplo, não precisaríamos de tantos pátios de estacionamento para caminhões.
PortoGente: O empresário já tem essa consciência ou o lucro fala mais alto?
Giordano: Hoje, os empresários que não se conscientizarem da necessidade de cuidados ambientais terão um grave problema com relação a aceitação de sua marca no mercado internacional. O selo verde e as ISO ambientais, como a ISO 14000, são fatores que agregam valor aos produtos transportados pelos portos do mundo.
PortoGente: O que será do Porto de Santos e da Ilha de São Vicente daqui a 100 anos?