Nos dias de hoje é difícil imaginar a obstrução de vias públicas, que prejudica e até inviabiliza a mobilidade das pessoas e, principalmente, das que têm algum tipo de deficiência física, como os cadeirantes. Em tempos de tantas inovações e tecnologias avançadas, de meganavios, de guindastes ultramodernos, é quase voltarmos à pré-história vermos enormes postes de concreto plantados em vias urbanas. Essa foi a "solução" adotada para sustentar a linha de alimentação de energia do terminal da Brasil Terminais Portuários (BTP), no Porto de Santos (SP). Esse trecho é a principal via de circulação de pedestres ligando a parte central e noroeste da cidade santista.
Situados na principal avenida de entrada do município, pela qual flui um intenso e pesado trânsito de veículos, esses postes transformaram o local em um palco de conflito desrespeitoso entre o porto e a a sociedade local. Trata-se de uma solução construtiva de baixa qualidade, que precisa ser reparada o quanto antes com o envelopamento subterrâneo dos cabos, hoje suspensos.
Caso a ser debatido
Como estudo de caso de insucesso a ser debatido no WebSummit Portogente 2017, três fatores serão destacados: construir em calçadas barreiras que obrigam cadeirantes descer e subir as calçadas em uma avenida da cidade de tráfego intenso e pesado; poluir a imagem da paisagem histórica de uma cidade com vocação turística e princípios de governança corporativa enganosos. Há que se discutir também o papel da prefeitura local.
Para ser coerente com a alegada “cultura da sustentabilidade e segurança das pessoas em seu DNA”, como consta nos princípios fundamentais da BTP - uma joint-venture entre dois grupos de operadores portuários, a APM Terminals e a Terminal Investment Limited (TIL) -, a operadora portuária precisa cuidar que a sua atividade com contêineres não crie problemas para quem vive na cidade e, dessa forma, contribuir para uma relação harmônica entre a vida do porto e a vida urbana.
No trecho dos postes que sustentam os cabos da BTP, um cadeirante, por exemplo, tem que zigue-zaguear entre exíguos espaços ou disputar passagem na pista junto com os carros, motos, ônibus e carretas.
No mundo em que se busca a sustentabilidade não se pode delimitar o planejamento de um terminal portuário à área do seu terminal. No seu entorno, existe uma dimensão humana que é um tópico do planejamento importante e não pode ser esquecido nem desprezado. No caso da linha de energia da BTP fica claro que, alinhada à estratégia de competitividade da empresa, a economia na execução do projeto foi realizada lançando a perda na qualidade de vida do cidadão.
Os princípios fundamentais de uma empresa se constituem na primeira apresentação exigida por um mercado universal que tem a sustentabilidade como meta rígida para preservar a qualidade de vida no Planeta. Portanto, tais referências não podem se constituir em discursos de letras mortas, incoerentes com o seu modo operacional de insucesso, como parece ser o caso da BTP.