Antes de fechar a questão em favor da derrubada da cláusula que obriga os parceiros do Mercosul a negociar em conjunto a assinatura de acordos de livre-comércio, o Itamaraty deveria avaliar muito bem as consequências para a indústria nacional da flexibilização do bloco, que permitiria aos demais sócios fechar tratados bilaterais de forma isolada. Assim, a Argentina poderia fechar um acordo com a China, reduzindo a zero a alíquota de produtos manufaturados que o Brasil exporta para aquele país. Isso significaria a perda de mercado para setores como o calçadista e o de máquinas e equipamentos, que são grandes exportadores para a Argentina.
Quem faz a importante ponderação é o presidente da Fiorde Logística Internacional, o incansável observador do mundo comerical e logística brasileiro Milton Lourenço. Segundo ele, ao que parece, "o governo interino entendeu que a Argentina tem sido o principal obstáculo para que o Brasil firme um número maior de acordos. De fato, por intermédio do Mercosul, o Brasil assinou só três acordos de livre-comércio com economias pouco representativas – Egito, Palestina e Israel. Desses, o único que está em vigor é com Israel". E prossegue: "É de se reconhecer que a negociação para um acordo de livre-comércio com a União Europeia (UE), que se arrasta desde 1999, não tem avançado em razão da resistência argentina."
Ele acredita que sem depender da Argentina, o governo brasileiro espera lograr em pouco tempo a assinatura de vários acordos bilaterais, principalmente com Canadá, Japão, Coreia, Efta (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) e, em especial, com a UE.