Impossível ficar indiferente ao clima (falso ou verdadeiro) que tomou conta do Brasil desde o anúncio da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Ilídio Andrade, na tarde desta segunda-feira (10/02). À direita e à esquerda, todos levantam suas teses, suas bandeiras, seus discursos. Mais do que pensar, realmente, na vítima e em seus familiares (deixa esposa e filha), sabemos que todos viraram santos, todos têm as mãos limpas sem um pingo de sangue e todos só querem o bem do País e do “polvo” brasileiro. E a imprensa brasileira, como está nessa história? Com certeza, não cabe a ela tampouco o papel da “mocinha” deste filme.
Foto: Luis Macedo/Agência Câmara de Notícias
Cinegrafistas e fotógrafos fazem ato em frente ao Congresso Nacional pela morte de colega de trabalho
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, sintetizou o que significa mais essa morte nas ruas brasileiras: “É o caminho da dor, da destruição, da barbárie”, disse o ministro. Carvalho acredita que os protestos como exercício da democracia devem continuar ocorrendo, mas sem violência “nem do lado policial e nem do lado dos manifestantes”.
Em ato realizado no final da tarde em Brasília, o repórter cinematográfico Marcelo Ricardo Diniz reclamou que os cinegrafistas são os primeiros alvos de ataque nas manifestações. “O cinegrafista é imparcial. O colega que sofreu o atentado, ele estava de costas para os manifestantes. Até nisso ele foi profissional, porque na herança das manifestações no Brasil, é a polícia que comete excessos. É preciso lembrar que sem as imagens, não é possível ter liberdade para se manifestar. Em qualquer ato, com as câmeras desligadas, poderá descambar para uma violência sem precedentes no Brasil.”
Andrade, infelizmente, não é o primeiro a perder sua vida pela intolerância e pela violência que se espalham pelas ruas do País nos últimos tempos.
Nas cenas desses crimes – alguns, infelizmente, que a imprensa não faz questão de divulgar – muitas impressões digitais.