Terça, 30 Abril 2024
O vínculo entre indústria cultural, comunicação e política externa constitui objeto pouco utilizado em pesquisas na área de Relações Internacionais (RI). De forma inovadora, a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em RI da Unesp, Paola do Prado Juliano, utilizou como recurso a série 24 Horas, de narrativa antiterrorista, para elaborar seu mestrado, no qual demonstra a influência da mídia e do cinema na formulação e aceitação da Doutrina Bush após o atentado de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

Intitulado De Bush a Jack Bauer: A segurança como obsessão nos Estados Unidos após o 11 de setembro, a pesquisa capta o ambiente cultural criado após o atentado, demonstrando o quanto esse tema foi mantido em pauta, ajudando a fomentar o medo ao terror. “A novidade e a dimensão dos ataques impuseram um único tema a ser tratado durante muito tempo: terrorismo, causas, consequências e formas de combate. O governo só tratava disso, assim como os americanos e a mídia. Neste contexto nasceu a série 24 Horas, dois meses após o atentado,” destaca a autora.

Foto: imagem de internet
24horasJack Bauer é o protagonista da série norte-americana de
televisão "24", interpretado pelo ator Kiefer Sutherland

Guerra ao terrorismo
Paola lembra em sua pesquisa que a Doutrina Bush, termo utilizado para descrever a política externa após os atentados, foi um pacote de medidas antiterror, considerado agressivo e unilateral, que em tempos de paz provavelmente não teria sido aceito. A política externa da gestão Bush valorizou o uso da força e ignorou a diplomacia multilateral. “Todos os atores envolvidos – governo, polícia, exército, canais de comunicação – contribuíram para tornar os eventos ainda mais aterrorizantes. 24 Horas fez parte disso”, reforça.

O estudo destaca a ameaça terrorista como argumento central da série, exibida pelo canal de TV norte-americano Fox. Os problemas são criados por terroristas que desejam atacar os EUA por conta do seu superpoder, da força de seu capitalismo ou de sua postura de imposição da cultura pop a outros países.

Jack Bauer, o personagem principal, representa o herói americano do pós 11 de setembro, um ícone da cultura popular da guerra ao terror. O personagem é destemido para enfrentar o terrorismo, patriota, inteligente, leal, incorruptível, e defensor dos cidadãos de seu país. “As tramas da série apontam motivações diferentes daquelas que estiveram na base dos eventos de 11 de Setembro, mas o programa deu sua contribuição como potencial instrumento de legitimação da política externa adotada pelos Estados Unidos depois dos atentados – a ‘guerra ao terrorismo’”.

Foto: imagem de internet
11desetembroAtentados de 11 de setembro de 2001 criaram uma doutrina
anti-terrorista nos EUA que chegou ao entretenimento

“Na pesquisa, não se buscou estabelecer relações diretas da série 24 Horas e a formulação da Doutrina. O objetivo foi evidenciar que foram fenômenos que ocorreram juntos e em longo prazo foram se influenciando mutuamente”, comenta.

Clima paranóico
Paola lembra que as temporadas de 24 Horas foram exibidas entre 2001 e 2010, e em cada uma delas, um inimigo americano era mostrado. “Conforme se viu no terceiro capítulo, todos os inimigos terroristas não saíram da imaginação do produtor. Foram inspiradas em documentos e em declarações oficiais do governo,” analisa.

Se na ficção 24 Horas criava a fantasia do medo, na vida real a Doutrina Bush mantinha a população atenta às questões cotidianas. No plano externo, colocou em marcha as Guerras no Afeganistão e no Iraque. “Refletir sobre a relação entre esses instrumentos de mídia e a política doméstica e internacional tornou-se essencial para compreender esse mundo repleto de novos desafios e problemas e em que os canais de comunicação se tornaram não mais coadjuvantes, mas protagonistas nas análises das relações internacionais e da ciência política,” destaca a autora.

Orientador do estudo, o professor Marco Aurélio Nogueira, diretor do IPPRI, avalia que as narrativas da série 24 Horas forneciam vários ligações com a vida real e auxiliavam o diálogo crítico com certas características da política externa norte-americana. “Ou com certos traços da cultura política que inspirou aquele artifício, especialmente no momento que se seguiu ao 11 de setembro,” assinala.

Para Nogueira, o personagem central da série, Jack Bauer, não era um político, nem muito menos um formulador de políticas. Mas sua trajetória, suas obsessões, suas estratégias de luta contra os inimigos dos EUA apareciam como uma metáfora do que ocorria na realidade. “De certo modo, parodiava a mentalidade norte-americana focada na segurança a qualquer preço e na insegurança permanente como uma fatalidade,” finaliza o orientador.

Fonte: Agência Unesp de Notícias

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