O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, está com o discurso de qualificação profissional na ponta da língua. Em recente passagem em Santos, para o lançamento da segunda fase do Consórcio Porto da Juventude, na segunda-feira (30), Lupi repetiu o discurso, mas desta vez adequando ao local. A qualificação do trabalhador portuário se transformou em item fundamental para uma “sociedade moderna e um porto organizado”, nas palavras do próprio. O que concordamos, é claro. Afinal, qualificação profissional deve significar melhores empregos, melhor remuneração, respeito e segurança no trabalho. O pacote deve vir completo, afinal não adianta qualificação sem emprego.
Mas voltando à “sociedade moderna” e ao “porto organizado” do ministro Carlos Lupi, nunca é demais lembrar que apenas qualificar o operário não basta para que o sistema portuário brasileiro, em especial o Porto de Santos, tenha o desenvolvimento que merece. E precisa. Os nossos portos, ministro, transbordam problemas de infra-estrutura. Os famosos “gargalos”.
A atividade portuária é um setor bastante complexo. Ela envolve fatores como a sazonalidade e o ciclo de safras, o que torna a qualificação profissional bastante específica. Enquanto Carlos Lupi diz pensar dia e noite na qualificação para “ocupar os espaços de empregabilidade que surgem naturalmente”, os trabalhadores avulsos vêem o mercado de trabalho ficar cada vez mais reduzido, o mesmo para a remuneração. Direito trabalhista, como vale transporte, por exemplo, simplesmente é luxo para essa categoria de trabalhadores.
Os postos de trabalho não surgirão “naturalmente” como quer o ministro. Fica clara a imprescindível presença de vocação portuária para qualificar, criar postos de trabalho e melhorar as condições de operação em portos de grande magnitude como Santos. Um porto eficiente e moderno passa, sim, pela qualificação do trabalhador, mas, também, pela capacidade de gestão de quem está na linha de frente das companhias portuárias.