Impossível formular qualquer previsão de rumo do Brasil enquanto não se der o resultado definitivo das eleições à Presidência da República. Mais obscura fica essa questão quando o líder das pesquisas tem como símbolo da sua campanha disparar uma arma de fogo. Esse cenário beligerante preocupante passa uma impressão de que surge uma alienação entre os grupos sociais e indivíduos que passam a considerar o outro um estranho e uma ameaça. Infelizmente, falta um discurso que faça entender a conjuntura e as ações necessárias para superar as adversidades.
Por que um capitão reformado, não tão aceito dentro das forças armadas e que por 28 anos vem exercendo mandato político sem expressão, pode resolver os complexos problemas do Brasil com um discurso com ênfase em dar tiros? Será uma reprise do Collor eleito com o ippon nos marajás, golpe perfeito e mortal das artes marciais? Bem provável que essa confusa realidade seja consequência do impacto da tecnologia da Internet e suas redes sociais na política, conjunto com uma total decomposição do sistema político do Brasil.
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No entanto, essa desordem é a grande oportunidade de mudanças no meio das trevas em que vivemos. É preciso também considerar que essa crise ocorre em dimensão global, acima dos problemas brasileiros. Nesse cenário mundial de relacionamentos multilaterais teremos que construir nossos instrumentos e fortalecer nossas instituições para promover justiça e esperança. É um pacto que não se consegue edificar com clichês econômicos de impacto do tipo reinstituir a CPMF e cortar 13º salário do trabalhador. E sempre é bom lembrar que não se consegue enganar a todos todo o tempo.
O fato do nosso produto não estar ainda bem posicionado no comércio internacional exige esforços para alinhar o País com a dinâmica e pressões de competitividade, bem como dar respostas às mudanças do mercado e ter sucesso no ambiente comparativo. Trata-se de uma série de fatores que abrangem a produção inovadora, logísticas ágeis, regulação, fomento e negociação comercial. Fatores que se constituem a base da economia e que constroem o valor da moeda. Será que o Posto Ipiranga tem combustível suficiente para o Brasil vencer esse desafio?
Findadas as eleições dominadas pelo marketing eleitoral, a recorrente frustração dessas esperanças de campanha vai erodindo a legitimidade. A resignação vai sendo substituída pela indignação. A elite do dinheiro e seus comandados na vida intelectual que dominam a classe média não consegue atingir as classes populares menos influenciáveis por esses mecanismos. Este conflito é o que se vive hoje no Brasil, por conta de um presidente mal acabado. Num mundo de redes digitais, onde todos podem se expressar, a greve dos caminhoneiros deixa o recado.