“A maioria das pessoas associa blockchain à moeda digital bitcoin. Mas, na verdade, blockchain [corrente de blocos, em tradução literal] é uma tecnologia virtual que pode ser usada para criar redes com os mais diversos propósitos.” Esta foi a definição dada à Agência Fapesp por Percival Lucena, líder de pesquisas em blockchain no laboratório da IBM do Brasil. O pesquisador citou como exemplo o rastreio de alimentos, desde a produção das matérias-primas na unidade agropecuária até as prateleiras dos supermercados.
Lucena falou sobre o uso de blockchain em vários segmentos da economia durante o evento “Blockchain e Segurança de Dados”, realizado em 4 de novembro no âmbito do Ciclo de Palestras ILP-Fapesp.
Resultado de uma parceria entre o Instituto do Legislativo Paulista (ILP) e a Fapesp, as palestras do ciclo são realizadas mensalmente na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), com o objetivo de divulgar pesquisas científicas e tecnológicas para legisladores, gestores públicos e pessoas interessadas.
José Damico, fundador da empresa Compplied Computação Aplicada, outro palestrante do ciclo, detalhou a definição. “A blockchain funciona como um livro-razão digital compartilhado, que permite o registro sequencial de todas as atividades de interesse de uma cadeia de usuários. Qualquer integrante da cadeia pode ter acesso ao banco de dados”, disse.
O pesquisador lembrou que, inicialmente, a blockchain foi usada para registrar as transferências, saldos e transações feitas com criptomoedas. “O compartilhamento dos dados e a validação das operações por parte de todos os participantes da cadeia permitem, por exemplo, que uma transferência de criptomoeda seja validada sem a necessidade de intermediação de uma única entidade todo-poderosa, como um banco, que atesta se a transação foi feita ou não”, afirmou.
Mas esse tipo de uso inicial, que motivou a criação do conceito da blockchain, não é o único possível. Damico enfocou especificamente o uso da tecnologia nas movimentações e transações agrícolas.
Marcos Simplício, professor de computação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), explicou que, como o próprio nome indica, a estrutura de uma blockchain é baseada no encadeamento de blocos.
“Basicamente, o que a tecnologia faz é garantir uma certa ordenação de dados que são ali colocados. Os blocos ficam encadeados em uma certa ordem. E cada bloco tem alguma informação a ser verificada, dependendo da aplicação. Isso evita, por exemplo, que alguém consiga passar duas vezes a mesma moeda, mesmo sendo ela digital”, disse.
“Com o tempo percebeu-se que a implementação canônica das blockchains não oferece anonimato verdadeiro. Há aplicações para as quais a privacidade também é necessária. Mas blockchain resistente a ataques à criptografia tradicional ainda é algo que está em amadurecimento”, disse Alexandre Braga, pesquisador do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (IC-Unicamp), que tratou especificamente do tema da segurança nas cadeias de blocos.
* José Tadeu Arantes | Agência Fapesp