O encurtamento do tempo está ligado ao aumento do uso de aparelhos tecnológicos, e muitos negócios se aproveitam disso para lucrar em um sistema que tem nossa atenção como moeda
Estamos hiperconectados e sabemos disso. É estimado que, aproximadamente, metade da população mundial tenha um telefone celular. Só no Brasil, nos 12 meses do ano de 2019, foram vendidos mais de 12 milhões de aparelhos smartphone.
Mas o acesso à tecnologia é uma via de mão dupla. Enquanto conseguimos resolver diversas transações à distância, na palma de nossas mãos, estamos, também, mais distantes uns dos outros. A jornalista espanhola Marta Peirano afirma, em seu livro O inimigo conhece o sistema, que isso nos deixa mais infelizes e, ironicamente, mais improdutivos.
Entendendo o conceito e suas consequências
À grande vilã desse ecossistema tecnológico é dado o nome de “economia da atenção”. Em linhas simples, é o sistema que capta e monetiza nossa atenção. Por isso os dispositivos, que foram criados para facilitar nossa rotina, têm papel fundamental nessa economia tão particular e, ao mesmo tempo, tão presente.
É através de nossos computadores, celulares e tablets que recebemos a maior parte da informação que consumimos. As empresas, sabendo disso, disputam um de nossos bens mais valiosos: a nossa atenção. Motivadas por esse conhecimento, traçam-se estratégias para que sejamos fisgados pela tela.
Para Peirano, esse capitalismo de vigilância, como também é chamada a economia da atenção, sequestra nossos cérebros, vontades e horas de sono. A autora diz que isso afeta, inclusive, nossa capacidade de amar. Por sermos constantemente expostos a símbolos que foram pensados para nos atentarmos, parte de nossa motivação é drenada de maneira não espontânea.
A problemática dos streamings
A moeda de troca desse modelo de economia é o tempo. Ou seja, as empresas que entendem esse sistema, e se organizam para lucrar com ele, ganham quando o público usa seus produtos pela maior quantidade de tempo possível. Exemplos práticos desse ecossistema econômico incluem desde os smartphones até assinatura mensal de serviços de streaming de séries e filmes.
É por isso que, por exemplo, alguns desses serviços liberam uma temporada inteira de uma série de uma só vez. Isso é uma estratégia para que você assista quantos episódios conseguir num final de semana só. O termo para essa prática em inglês é binge watch, geralmente traduzido para português brasileiro como “maratonar”.
Ficar horas na frente de uma tela assistindo sua série favorita é prazeroso por um simples motivo: causa um loop de dopamina. Esse neurotransmissor nos faz experienciar uma sensação de alívio e recompensa e, por isso, vicia, num processo muito semelhante ao que acontece com o uso regular de drogas, por exemplo.
O mesmo acontece com o vício em jogos digitais. Para Marta Periano, na verdade, não estamos viciados em tecnologias, mas sim na dopamina. A tecnologia é apenas um meio rápido de obter acesso à sensação que esse neurotransmissor traz. Esse ciclo se torna extremamente opressor na rotina de todos nós.
Por termos, constantemente, nossa atenção disputada e, naturalmente, tentamos selecionar os conteúdos realmente relevantes, estamos desenvolvendo um medo de perdermos algo, seja uma informação ou um evento. O termo em inglês para essa sensação é encontrado na sigla FoMO, Fear of Missing Out, que se traduz literalmente, como o medo de perder.
Administre seu tempo
O tempo é um bem finito, cada pessoa tem 24 horas por dia para realizar suas atividades. Por isso, disputar o tempo dos usuários se tornou uma estratégia base para muitas empresas e a prática ganhou um termo para chamar de seu. Por isso é tão fácil entender porque tanta pressão para que se consuma informação e produtos pode gerar, por exemplo, insônia.
A maneira mais simples de evitar cair nessa armadilha é administrar o tempo bem e não tentar fazer todas as coisas num dia só. Ninguém precisa parar de assistir séries ou se desfazer do celular. O movimento consciente deve girar em torno de entender que não é necessário ver as notificações dos amigos e nem assistir uma temporada inteira de uma série num dia só.