Todos reclamam dos produtos chineses. Os empresários afirmam que os preços por eles praticados beira o dumping. Os consumidores dizem que a qualidade dos produtos é muito inferior à dos similares nacionais. O governo indica que eles estão tirando empregos de brasileiros.
Mas não é só de produtos chineses que o mercado está abarrotado. Há os coreanos, os indianos, os alemães, os italianos e os outros. Nada de mais em se encontrar tantos produtos importados nas nossas gôndolas. A questão que se deve colocar é qual a capacidade de competir das empresas localizadas no Brasil. Afinal, além de um custo logístico grande, ainda temos como barreira comercial o imposto de importação agindo contra os importados e, finalmente, o dólar em condições normais.
Não se pode imputar todo o sucesso dos chineses apenas no custo da sua mão de obra. Eles ainda desfrutam de pagar muito menos pelas matérias primas, pois compram em quantidades enormes e constantemente. Tudo isto é consequência de uma política governamental de produção e exportação que implantaram há alguns anos, portanto não é sorte de algumas empresas apenas. Além de custar menos, os chineses também trabalham mais.
Há um fator produtivo do qual pouco ou nada se fala: a questão cultural do brasileiro no trabalho.
Sim, afinal todas cadeias produtivas são movimentadas por pessoas, e se essas não são mais produtivas é, em parte, por conta de como trabalhamos e como fazemos a gestão dos processos. É comum ver como cada um acha que entende de tudo, chegando mesmo a contrariar orientações científicas.
Exemplo: um engenheiro calcula o traço de um concreto usando sistema computacional elaborado, mas o operário, que diz que aprendeu com seu pai, faz do jeito que gosta. Também nas áreas administrativas há uma enorme perda de tempo, de qualidade de serviço e de dinheiro.
Isto não acontece com os maiores concorrentes globais. Nem pensar em falar de serviço com um alemão no final de semana, mas menos ainda em discutir futebol durante o expediente. Uma ordem dada a um funcionário chinês é obedecida. Aqui, é no mínimo questionada ou difícil de ser aceita. Parte por falta de educação e parte por questão cultural: chefe é contra funcionário; patrão contra empregado; branco contra preto (especialmente depois que o governo anterior decretou oficialmente o racismo por conta das cotas); nordestino contra sulista; pobre contra rico; e agora gente com diploma de faculdades duvidosas “se achando” nas empresas.
Pior é o desânimo no trabalho, a falta de querer aprender, a cultura do deixa estar prá ver com fica, ou ainda, o “sempre fiz assim”. Quando o lucro despenca por conta de maior competição bate o desespero nos gerentes que não acham alternativas. Será que só vamos mudar este estado quando mais empresas fecharem as portas? É preciso um choque de gestão já.