Todos sabemos, de longa data, que a maioria dos políticos tem verdadeira obsessão pelo poder.
Tomando por base o princípio de que os governantes estão aí para servir ao povo que representam, e por isso podem ser considerados “empregados” do povo, e ganham salários pelos trabalhos prestados, seria de se esperar que não errassem. Afinal, nenhuma empresa contrata funcionários para que errem, mas para que acertem.
Parece, entretanto, que as funções estão trocadas, ou seja, que o povo está aí para servir seu amo e senhor. Deus nos céus e os governantes na terra. Versões modernas de reis e rainhas dominadores, endeusados, intocáveis, inimputáveis de penas e castigos.
Não precisamos ir longe como até à Síria, ao Irã ou à Cuba, onde um manda e todos obedecem ou morrem, ou ainda à Coreia do Norte, à Venezuela, ou a vários países africanos. Temos exemplos aqui mesmo, bem pertinho de nós.
A recentíssima ordem do prefeito de São Paulo é mais um exemplo. Ficou decretado que os munícipes devem cuidar de suas calçadas – nada de novo quanto a isso –, mas que serão fiscalizados e multados se estas não estiverem de acordo. De acordo com padrões estabelecidos em lei municipal. Acontece que a própria Prefeitura não dá o exemplo. O senhor prefeito é responsável pelas ruas que estão todas esburacadas, sem cuidados, sujas, com bueiros entupidos, luzes queimadas, postes tortos, gradis de viadutos enferrujados ou não mais existentes, jardins descuidados e, imaginem, com calçadas esburacadas e quebradas. Exatamente estas que são públicas.
O senhor prefeito deveria dar o exemplo.
Quem vai cobrar do prefeito ou da Prefeitura as multas por estas suas próprias calçadas? E a Prefeitura é rica, ao contrário de muitos munícipes que mal conseguem manter suas casas, quanto mais as calçadas. Que tal a Prefeitura pagar para quem arruma as calçadas ao invés de multar quem não arruma. Afinal, com o poder que tem o prefeito, é provável que consiga negociar bem com os fornecedores de cimento e pedras, bem mais barato que o simples cidadão que vai buscar estes produtos no varejo.
A mesma coisa acontece com a taxa de juros cobradas dos bancos. O governo reclama dos bancos privados, mas, com a mesma volúpia, vão atrás de juros exorbitantes. E não adianta baixar a Selic, que os juros para as empresas e aos cidadãos continuam abusivos.
Abusivas são a maioria dos decretos e leis. Seguem o velho ditado: aos inimigos a lei, aos amigos tudo.
O poder tudo pode.