Outro dia recebi um desses e-mails que circulam pelo País. Apresentava a relação de todas as bolsas que os governos, especialmente o Federal, vêm criando e mantendo ao longo do tempo, principalmente no governo Lula, que optou pelo social.
Ao final, em tom jocoso, porém ao mesmo tempo preocupante e desanimador, há o seguinte comentário: “experimente estudar, trabalhar e pagar os impostos para ver o que te acontece”.
No mesmo perfil surge agora a bolsa cultura. Mais um monte de dinheiro público que vai ser distribuído graciosamente. Sou totalmente a favor que o povo tenha mais cultura: que vá mais ao teatro, ao cinema, a shows decentes, a balé, a concertos, que visite bienal, etc, etc.
Não sou, porém, a favor de mais bolsas-dinheiro. Para que todas essas bolsas existam e cheguem aos destinatários é necessário, obviamente, um batalhão de administradores públicos, sentados em seus escritórios, e subtraindo então parcela desse próprio dinheiro. Também são necessários contratos com empresas particulares para emissão e distribuição dos cartões, ou outras formas de bolsa, o que inegavelmente implica em mais gasto, que são subtraídos também do pacotão que poderia chegar aos necessitados. Sem contar que a cada transação com empresas uma parcela dos contratos corre o risco de ir para dentro das roupas íntimas deste ou daquele político ou administrador.
Assim, de bolsa em bolsa, cresce a participação do governo na economia. Como a maioria dessas bolsas é federal, cresce concomitantemente o poder de mando do governo, podendo cada vez mais influenciar no resultado das eleições.
Eu gostaria de lançar um desafio: caso o PT não ganhe as eleições para Presidência da República, em 2010, e caso o presidente eleito do outro partido mantenha as bolsas existentes, será que a bancada do PT vai continuar apoiando essa loja de bolsas?
Não é a toa que a oposição está chiando e muito. É clara a manobra eleitoreira dessa nova bolsa, nesse momento.
O que o governo deveria garantir é a possibilidade (e obrigatoriedade) de todas as crianças frequentarem boas escolas - com professores ganhando bem, sem precisar recorrer a dois ou mais empregos - e de receberem educação completa, envolvendo música e educação física de alto nível, independentemente de onde estiverem.
Deveria garantir saúde de bom nível para todos e segurança de ir e voltar vivo.
O resto é questão de competência e não de amamentação eterna. Em curto tempo não seria mais necessário esse pacote de bolsas nem mesmo o discriminatório percentual para entrar na faculdade, para este ou aquele tipo de gente. A continuar desse jeito, daqui a pouco teremos a cota mínima para japoneses nos clubes de futebol brasileiros, ou quota para baixinhos nos times de basquete ou vôlei.
O assunto de bolsas socorro se assemelha aos impostos e taxas. Como o número dos que pagam corretamente impostos é pequeno, e não garante a receita para tudo o que os governos precisam, sobra ao governo tomar a decisão mais simples: aumentar impostos.
Porém, com essa atitude alguns pagadores fogem, não pagam, pois seus rendimentos não o permitem. Logo na próxima chance o governo aumenta ainda mais os impostos para os que restaram.
Isso também, como no caso das bolsas, necessita ser administrado tanto nas empresas como nos governos, o que implica em custos que não tem mais valia.
Também nesse caso a criação de um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) no lugar de vários impostos poderia contribuir para simplificação de todos os processos e barateamento dos produtos e serviços.
Enfim, o que devemos reclamar é que o governo atue onde efetivamente o social é mais importante: na educação e na saúde, para aumentar o nível educacional do povo e permitir atendimento adequado nos hospitais e laboratório.
Será que a máxima dos romanos ainda prevalece: dar pão e circo ao povo que ele fica quieto e satisfeito?
