Em tempos de portabilidade de telefones, de planos de saúde e outros, também resolvi definir algo com esse sufixo. Assim inventei a insuportabilidade.
De que adianta o governo estabelecer que as empresas de Call Center devem atender em até x minutos, ou que os planos podem ser carregados de um fornecedor de serviço a outro?
Telefonei para o número indicado. Depois de muitas tentativas que davam sempre linha ocupada, finalmente consegui. Sou um felizardo. Aí começam as musiquetas e a sequência: se você quer isso aperte 1, se quer aquilo aperte 2, ou aquilo outro aperte 3. Você segue tudinho certo até que alcança uma pessoa, de carne e osso. Você explica, ela finge que escuta, e dá uma nova informação. Em geral se você conseguir falar com dois atendentes, pesquisando a mesma coisa, na mesma hora, você obterá duas informações distintas. Isto é que é criatividade!
Aí você tenta falar com o ombudsman. A resposta é que você deve tentar falar primeiro com o atendimento ao cliente da empresa. Ou seja, o ombudsman não quer escutar ninguém. Então, por que ele se chama ouvidor? (Wikipidia: nos países de língua portuguesa as palavras portuguesas "ouvidor" e "provedor" (bem como "ouvidoria" e "provedoria") são mais utilizadas como substitutas ao nome estrangeiro).
Você, com toda a paciência que consegue armazenar, liga novamente. As mesmas, ou outras opções aparecem. Quando no finalzinho vão passar a informação precisa, cai a linha. Desculpem–me, derrubam-na propositadamente. Fiz esse teste com várias pessoas em dias diferentes e o resultado é o mesmo.
Quando você consegue falar com alguém, em geral já irritado, escuta do outro lado algum ser (homus sentatus) sem educação. Você se desespera. Chora. Ri. Dá cambalhotas. Briga com a mulher ou o marido. E continua na mesma. A mercê de não sei quem, porque as empresas não têm mais cara.
Até que um dia qualquer alguém liga para você marcando um dia para solução: instalação de telefone, mudança de plano etc. Em horário comercial. Horário comercial é aquele em que mesmo tendo que trabalhar você não pode, pois alguém muito importante irá visitá-lo.
Você toma café, lê jornal na sala. Não vai tomar banho, pois pode ser que toque a campainha e ele ache que você não está em casa. Necessidades só de porta aberta e bem rapidinho. Almoço, nem pensar. Coma o resto de ontem, se houver, ou então ovo, cozido é claro, pois se você tiver que atender ao cidadão deve sair correndo.
No final do dia você se sente o mais rejeitado dos cidadãos. Ninguém apareceu. Ninguém ligou para você, nem para saber se você tinha ficado triste por estar o dia inteiro em casa, enquanto teu serviço fica acumulado, ou teus clientes são dispensados e você perdeu toda a féria de um dia inútil.
Mas desta vez você deu sorte e ele veio. Foi fazer alguma instalação na tua casa, furou um cano de gás, por engano é claro. Todos saíram desesperados. Fecha o registro do gás, grita o vizinho.
O gás você não tem mais, em compensação o telefone está instalado. Gás não é com operadora de telefone, assim o maledeto vai embora achando que cumpriu sua tarefa.
Você fica com tanta raiva que decide ligar para a Anatel ou qualquer outra agência. O telefone toca 1, 2, 3 , 4, 5...até quando você suportar. Aí você desliga. Onde estamos você, se pergunta?
Nada acontece. Mas experimente esquecer de pagar a conta no dia pra você ver. Assim, dois pesos e duas medidas. Quem deve ser o guardião da cobrança? Quem poderá nos ajudar? Chapolin Colorado? Não, não, esse é mexicano. Então, não temos super-herói para casos como esse.
Cadê o respeito ao cidadão?
Bem, até que apareceu o segundo cara honesto do Congresso Nacional: o deputado que diz que se lixa para a opinião pública. Temos aquele outro que começou a história do mensalão dizendo que havia ficado com quatro milhões de reais. De resto é uma hipocrisia só. Está insuportável a vida na sociedade moderna, brasileira.
