Terça, 14 Mai 2024

Quando estava na faculdade de engenharia havia uma brincadeira de calouros que se chamava almoço a menos 1. Começava-se o almoço palitando os dentes ou usando o fio dental, depois tomando o cafezinho, depois comendo a sobremesa, depois o prato principal, seguindo da salada.

 

Obviamente tudo isso feito embaixo da mesa para configurar realmente uma total inversão de valores.

 

Isso era uma brincadeira, mas nunca mais deixei de saber o que significa uma inversão de valores e tão pouco o que é elevar algo a menos 1 (no rigor da ciência, potência negativa).

 

Essa semana, ao visitar o Paraná, recordei–me desses trotes. Numa reunião com muitas pessoas se discutia e se estudavam meios de melhoria de processos produtivos, de tal sorte a tornar as empresas nacionais, ali representadas, mais produtivas, mais competitivas.

 

Competitividade e produtividade eram as palavras mais utilizadas pelos presentes. Todos formados, trabalhando e ansiosos por progredir. Gente muito jovem, outros nem tanto mas com objetivos claros de atingir pontos mais altos no disputadíssimo mercado global.

 

Soube que alguns vinham de famílias pobres, que lutaram para manter seus filhos nas escolas, etc, etc.

 

Em outras conversas, fora desse ambiente, contatei pessoas que em tempos idos, moravam na roça e se deslocavam, a pé, alguns quilômetros por dia, para freqüentar a escola de primeiro grau, enquanto que os professores vinham a cavalo.

 

Se isso não me emociona, pelo menos me deixa a sensação prazerosa de estar diante de lutadores, de gente persistente, com objetivos claros e honestos para sua vida. Nesse ponto de vista tanto aqueles da sala de reunião como aqueles roceiros, ou antigos roceiros, tinham o entusiasmo de viver, e lutavam por melhorar a sua vida e a de sua família.

 

No caminho percorrido de carro, pelas lindas paisagens do local, com áreas plantadas muito bem cuidadas e por áreas de preservação bem mantidas, deparei com vários grupos de sem-terra.

 

Como podem sem-terra estar acampados em frente de propriedades tão produtivas? O que estariam fazendo naqueles lugares?

 

Perguntando aqui e ali, para gente do lugar, fiquei informado que vez por outra, em ações coordenadas nacionalmente, eles invadiam pedágios, abrindo suas cancelas; que eles recebiam cestas básicas do governo; que em alguns poucos lugares públicos, como beiras de estradas, plantavam alguma coisa.

 

O que me chamou muito a atenção foi a precariedade de suas moradias. Sequer favelas muito pobres são tão miseráveis como os locais onde eles habitam. No entanto, são locais menos imundos que as favelas. Não vi favelas nas cidades por onde passei. Perguntei se havia muito desemprego na região. A resposta foi que, em geral, havia sempre emprego, para aqueles que o procurassem, mesmo que fossem empregos menores.

 

Aí, não entendi mais nada. Ou melhor, me lembrei da inversão de valores. Como, num local com baixa taxa de desemprego, pode haver gente que acampa à beira de estrada pedido terra, de graça, e ainda recebendo ajuda de bolsa família?

 

Por que essas pessoas não procuram empregos? Afinal a maioria do povo não tem terra própria, mas tem emprego.

 

Há uma proposição de caráter psicológico que afirma que um ser humano maltratado, sendo cuidado e apoiado pode se transformar em boa pessoa .... ou em vagabundo. Será só isso, eu me perguntava? 

 

De repente, no meio das conversas, veio parte da resposta. Há gente que tem dinheiro, e que se faz passar por sem-terra para poder receber de graça aquilo que muitos outros lutam a vida intera e ao final continuam sem possuir. Um grande pedaço de terra. Pior escutei que muitos recebem sua terra e a vendem, entrando em outro grupo mais distante para nova reivindicação.

 

Há portanto um avacalhamento do movimento. Há uma manipulação de vontades, uma exploração dos menos esclarecidos e o pior a criação de mais um grupo gigantesco de gente a comer e beber (mesmo que mal e pouco) as custas dos governos sem nada contribuir para a si e muito menos para a sociedade.

 

O que essa gente tem a mais ou melhor que milhões de outros trabalhadores ou desempregados honestos que sofrem todos os dias? A única coisa que me ocorreu foi lembrar que uns moram nas cidades enquanto outros no campo. No campo?

Esses que eu vi moram nas vizinhanças de cidades, distância suficiente para se ir a pé, e com linhas de ônibus na frente de seus alojamentos. Portanto poderiam trabalhar, mesmo que fora da terra. 

 

Alguns podem argumentar que eles são gente da terra e de lá devem tirar seu proveito. E todos os bravos nordestinos que saíram de suas terras para trabalhar nas cidades?

 

Há portanto uma inversão de valores. Está tudo elevado a menos 1.

 

Deveriam ser oferecidos empregos para essa gente para ver quais efetivamente querem progredir . Por que não experimentar?

 

PS: Também sou sem-terra, pelo menos no conceito de terra produtiva. Moro em apartamento e meu pedaço de área comum mal daria para uma única árvore de jabuticaba. Devo por isso me juntar ao MST?

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