No seu livro “A Questão Urbana”, Manuel Castells apresenta o tema “A aceleração do crescimento urbano nas sociedades subdesenvolvidas do sistema capitalista”, chamando a atenção para a crescente atenção da sociologia ao processo de urbanização. Pode-se relacionar a crescente deterioração da qualidade de vida nas regiões de maior crescimento demográfico com a recente. De fato se o crescimento demográfico é forte o da população urbana é espetacularmente superior.
Segundo o autor, recente pesquisa sobre a relação entre progresso técnico e econômico de um lado e características demográficas de outro mostrou que a correlação é negativa, isto é, quanto maior o desenvolvimento técnico e econômico menor é o crescimento demográfico.
A urbanização atual nos países em desenvolvimento e os subdesenvolvidos não repetem hoje o processo acontecido na Europa quando de seu grande processo de industrialização.
O que acontece hoje é definido como Hiperurbanização. Ou seja, há um nível de urbanização superior ao que se poderia esperar com o nível de industrialização (quer se pense em indústrias transformadoras e produtoras de bens físicos, quer em indústrias de serviço).
A Hiperurbanização é um obstáculo ao desenvolvimento qualitativo na medida em que não há disponibilidade de recursos a serem investidos na criação de infra-estrutura, organização e oferecimento de serviços públicos, que permitam atingir o grau indispensável às grandes concentrações.
Mais crítico nesse ambiente é que se criam espaços com população de mais baixa renda, com alta taxa de desemprego. Daí se instala o ambiente favorável aos extremos, com bandidagem crescente e miserabilização de parte significativa da população.
Portanto quando se comemora a redução da taxa de desemprego há que se considerar:
· A distribuição desses novos empregos e a qualidade dos novos empregos;
· Os salários nesses novos empregos permitem melhoria na condição de vida?; e
· Se haverá geração de recursos para crescimento paralelo dos serviços públicos de tal sorte a possibilitar a integração urbana
As sociedades, entenda-se os países, são interdependentes entre si dentro do presente quadro de globalização de bens, serviços, informação e mesmo de anseios, nas sociedade capitalistas puras ou mescladas, como a chinesa. No entanto, suas relações devem ser assimétricas, não se prestando a imperialismos de qualquer ordem.
Entretanto o que se observa hoje no urbanismo nacional, tal qual se observa nas empresas nacionais é a busca do modelo que spices literis será aplicado ao nosso mercado sem a devida tropicalização.
Assim seria imperioso o estudo do desenvolvimento do nosso urbano antes de se tomar medidas de desfigurem o nosso meio ambiente nas cidades. Em algumas cidades o caos já não é mais uma visão futurista mas sim uma realidade cotidiana.
São Paulo tem o trânsito inadmissível. Diariamente milhões de pessoas gastam mais de duas horas no trajeto entre sua residência e local de trabalho. Isso, além de gerar stress pessoal, reduz a capacidade produtiva de cada indivíduo. Creio que alguma medida dessa perda seria bastante impactante do ponto de vista de perda financeira para o país.
A quantidade de poluição causada por essa imensa frota local é extremamente prejudicial ao ser humano. A coleta de lixo e especialmente seu despejo passam a ser problemas de dimensões imensas.
Santos e Guarujá não têm capacidade de manter as suas cidades limpas, e especialmente suas praias, a cada Verão. O que se tem feito?
Continua-se a copiar o modelo americano, que, mesmo lá só é aplicado em poucas cidades como Nova York, isto é, a construção de imensos edifícios, onde sequer alguns de seus moradores terão direito a uma hora de sol por dia. E as prefeituras continuam liberando esses enormes arranha-céus, apenas pela ganância de mais IPTU. Mais gente aglomerada. Pior a qualidade de vida. Puro retrato da dominação do tipo de investidor capitalista ao qual interessa apenas o retorno imediato de seus investimentos.
Por outro lado também nada se tem visto de concreto com relação a se evitar o fluxo migratório para as grandes cidades. Conseqüentemente se aumenta a pauperização, mesmo que a renda per capita do migrante do campo seja maior na cidade.
Se considerarmos que a idade média da população tem crescido é de se esperar, como apresentado pelos jornais nesta semana, que a grande São Paulo seja, até o ano 2020, a terceira mais populosa região do mundo.
Há, portanto, risco de deterioração da sociedade pela hiperurbanização. É bastante recente o movimento dentro da área industrial com a chamada responsabilidade social empresarial.
Creio que seria uma boa medida se as prefeituras adotassem também essa prática, que ademais deveria ser seu princípio básico.