Terça, 14 Mai 2024

Num artigo anterior, Sociedade Just in Time, Mercado Just in Time, abordei aspectos das relações entre empresas no atual estado da arte da globalização. Agora gostaria de esticar essa discussão para um campo ainda mais complexo, a capacidade de demanda da sociedade de países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos dentro do atual modelo de globalização.

 

Desde a primeira revolução industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII, continuando com a segunda revolução industrial com a produção em série no século XIX, o desejo dos empresários é aumentar as vendas, aumentar a produção, crescer a sua empresa e geralmente ficar mais rico.

 

O crescimento das sociedades anônimas, com muitos proprietários de partes das ações, não diminuiu esse ímpeto nas empresas.

 

O crescimento industrial durante esse tempo trouxe no bojo um crescimento do número de empregos e a necessidade de aprimoramento dos antes operários do campo para operários das indústrias.

 

Com esse processo cresceu a população com capacidade de compra, exigindo sempre mais qualidade, e comprando individualmente mais quantidade.

 

Foi um tempo em que as empresas tinham orgulho de dizer que completavam tantos anos de existência; em que seus funcionários ganhavam presentes quando completavam 10, 20, 30 anos de empresa. Não vestiam a camisa da empresa, a própria pele era da empresa. Evoluíam técnica e administrativamente dentro dela; faziam gosto que ela progredisse.

 

Quando havia alguma crise, a última coisa a ser mexida era no quadro de funcionários. Sempre escutei dizerem que o mais importante para qualquer empresa é seu capital humano.

 

Os sindicatos tinham força e conseguiram muitos benefícios para os operários das empresas. Cada ano mais.

 

O governo, especialmente de países em desenvolvimento, criou mais impostos sobre o lucro, e mais impostos sobre o capital humano.

 

Se, por um lado, nos países desenvolvidos o custo maior das empresas era a mão-de-obra bem paga, com capacidade de compra, o que estimulava cada vez mais o círculo vicioso de crescimento das empresas, por outro lado, nos países em desenvolvimento o elevado custo da mão-de-obra não era função de ótimos salários, mas de altos impostos.

 

Enfim, em ambos os casos, era justamente o capital humano, orgulho das empresas, o seu maior custo, em geral.

 

Finalmente se nos apresenta a globalização, resultado de convenção em Washington, feita pelos países ricos, preocupados com os outros, ou simplesmente conseqüência natural da evolução sócio-política temperada fortemente com avanços da ciência. Máquinas deveriam substituir os homens para garantir aumentos ainda maiores de produção. Além disso, eram, ao final das contas, mais econômicas que os homens.

 

As festas comemorativas de 20 e 30 anos continuavam. Ao final delas o homenageado era despedido pelos bons serviços prestados. Em seu lugar era contratada a máquina pintada de verde ou cinza, quase sempre.

 

E a produção aumentava. Falsamente as empresas ainda diziam que o mais importante era o capital humano. Talvez erro de minha interpretação. Talvez fosse o capital dos donos, que são, ora bolas, também humanos.

 

Eis que um dia aparece a China, com seus miseráveis seres humanos, ganhando quase nada.

 

Uma vez perguntei a um gerente de uma indústria chinesa se seus funcionários estavam satisfeitos em ganhar 30 dólares por mês. Ele disse, muito, e explicou: os chineses moravam no campo, tendo um lugar onde morar, comida que eles mesmos plantavam e/ou o governo fornecia, roupa dada pelo governo e não reclamavam (puxa parece bolsa família, mas não é), agora eles estão nas empresas que lhes dão alojamento, refeição, uniforme, e ainda trinta dólares. Sensacional.

 

O resto do mundo precisava ser mais competitivo. Mais gente nas ruas sem emprego e mais máquinas.

 

As empresas se enervam. Precisam obter resultados rápidos. Seus acionistas reclamam. Precisa vender mais! Precisa vender mais caro!

 

Como? Reclamam seus funcionários. Não há perdão. Troca-se o gerente de vendas por que a empresa não vende. Troca-se o funcionário qualificado pelo desqualificado e mais barato. Nada. Troca-se outra vez, e mais outra.

 

De repente a empresa começa a prosperar. O novo gerente ou diretor é saudado como herói. No ano seguinte volta o drama da falta de venda e novas trocas. E esse gerente ou diretor perde o emprego.

 

Os empresários perderam a capacidade de análise? Talvez, boa parte deles sim. Se esqueceram que o mercado é muito flutuante nos países não ricos. Esqueceram que os funcionários atuais, menos qualificados, ganham muito menos que os anteriores, não só na sua própria empresa, mas em todas.

 

Se ganham menos, gastam menos per capita. Se gastam mais per capita, é porque compram mais coisas, mais baratas.

 

Volta o drama. O mercado compra, mas só coisas baratas. Mais coisas chinesas. Lápis, borracha, estojo, porta–retratos, camisas, calças, copos, bolsas, daqui a pouco automóveis. Menos as famosas porcelanas chinesas, essa são caras.

 

Corta mais custos, menos salários. Cai a qualidade dos produtos, cai a qualidade dos serviços prestados.

 

Toda América latina sofre desse mal. Do México, trabalhando na fronteira com os Estados Unidos, ao Chile. Nessa semana se reuniram os mais ricos e pediram para que a China reveja sua moeda, artificialmente desvalorizada.

 

De que adianta? E a Índia? E o México?

 

O problema é muito sério. As pessoas não têm mais vínculo, não trabalham por algo comum. Trabalham para si próprias isoladas.

 

Não há mais tanta carteira assinada com bons salários. O solado é conseqüência de produtividade, não apenas do próprio trabalhador, mas de toda uma corporação, isto é, de um trabalho de equipe. Cadê a equipe?

 

Enquanto isso, na Europa, as empresas preservam seus funcionários. E essas mesmas empresas, aqui, em terra de índio, miserabilizam as pessoas.

 

Cabe uma opção, bem conhecida por aqueles que estudam mercados: trabalhar com produtos diferenciados, alta qualidade, empenho em pesquisa, ou trabalhar com produtos de baixo custo usando mão-de-obra barata e competindo em preço.

 

No Brasil, pelas suas características, há lugar para ambas. Porém, ultimamente só vejo apelo ao que é mais barato.

 

Creio que é preciso repensar o modelo industrial, e o governo federal deve ser o mentor e o impulsionador.

 

Será que foi para isso que se queria o ministério do planejamento futuro, ou planejamento estratégico?

 

Aliás, existiria o planejamento do passado ou o planejamento operacional?

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