Principal porto graneleiro da América Latina, Paranaguá (PR) é um alvo permanente de críticas dos agricultores das regiões Sul e Centro-Oeste. Neste momento, os produtores brasileiros reclamam da já habitual extensa fila de caminhões para embarcar grãos para exportação. A espera dos caminhoneiros nos arredores do porto paranaense leva até oito dias. Há fila no mar, também. Dezenas de embarcações aguardam diariamente a oportunidade de atracação em um panorama que aumenta o valor do frete e, por consequência, o Custo Brasil.
Após divulgar as obras que o senador Osmar Dias (PDT-PR) reivindica para desenvolver o Porto de Paranaguá, PortoGente procurou o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Daniel Lúcio de Oliveira de Souza, que lamentou o descaso das concessionárias de ferrovias do País, a morosidade na liberação dos licenciamentos ambientais e a falta de modernização dos equipamentos portuários disponíveis no porto que administra. Ele assumiu, ainda, que a gestão da Appa precisa de uma “chacoalhada” e que caso seja substituído sairá do comando com a sensação do dever cumprido após cerca de dois anos à frente dos portos paranaenses.
PortoGente - O que está sendo feito para modernizar os equipamentos portuários utilizados no Porto, uma reclamação da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep)?
Daniel Lúcio de Oliveira de Souza - Não tenho nenhuma reclamação formal das entidades representativas dos segmentos, mas se isto for verdade, concordo com elas. No caso do Corredor de Exportação de Grãos do Porto de Paranaguá, o atual silo público é de 1975, como todo o sistema de esteiras públicas até o cais. Temos shiploaders também desta época, com capacidade de 800 ton/hora, e shiploaders dos anos 1990, com capacidade de 1.500 ton/hora. Nos dias de hoje, queremos trocá-los por carregadores de 3.000 ton/hora e temos projetos desenvolvidos em conjunto com terminais integrados ao sistema do corredor de grãos, parceiros nesta modernização. Um novo silo público para 108.000 toneladas foi licitado e será iniciado este ano. As colocações das entidades são as mesmas que faço nas reuniões do CAP (conselho de Autoridade Portuária) de Paranaguá. Portanto, acho que estamos no caminho certo do alinhamento com as entidades e terminais.
PortoGente - Em que "pé" está a dragagem de aprofundamento do Porto? O convênio com a Secretaria Especial de Portos (SEP) para a transferência do dinheiro está resolvido? Qual o cronograma de todo o processo de dragagem nesse momento?
Daniel Lúcio de Oliveira de Souza - Só dependemos de uma coisa para licitarmos: licença ambiental prévia (LP) por parte do Ibama. O dinheiro está disponível e empenhado na SEP. Mas o Brasil tem suas esquisitices. Enquanto a maioria dos portos licita dragagem com licenças dos órgãos ambientais estaduais, no Paraná o Ibama não reconhece as licenças de nosso órgão estadual. Estamos lutando e aproveito este espaço para que o Ibama nos ouça e veja que há diferenças entre o tratamento ambiental que ocorre em Santa Catarina - licenças estaduais para tudo com a Fatma, órgão ambiental estadual - e no Paraná nos exigem do Ibama. Não depende de nós mais nada, e sim do Ibama.
PortoGente - O Paraná está caminhando para aumentar a participação do modal ferroviário no transporte de cargas ou essa ainda é uma realidade que demorará a mudar? O que falta fazer na sua opinião? Os produtores reclamam muito da ALL - que agora também encontra problemas no estado de SP, com a CPI das Ferrovias da Assembléia Legislativa. Os produtores paranaenses realmente não dispõem de um serviço ferroviário de qualidade?
Daniel Lúcio de Oliveira de Souza - Estes são os verdadeiros gargalos logísticos e não os portos, que têm problemas, mas não se comparam com o "samba do crioulo doido" que foi o modelo de privatização das ferrovias no País. Entregou-se um patrimônio público, que já era antigo, mas as concessionárias nada fizeram de novo. No Paraná não é diferente: foi a Princesa Isabel que inaugurou em 1874 a atual ferrovia que liga Curitiba a Paranaguá e a ALL só troca os dormentes colocados pelo Império. Temos uma empresa pública, a Ferroeste, que busca recursos para construir ferrovias com bitola larga e quebra deste monopólio absurdo, herança do neoliberalismo do FHC.
PortoGente – E para essa organização da logística do estado, como está vendo o imbróglio para a finalização da Estrada Boiadeira, que irá facilitar o escoamento de cargas oriundas do Centro-Oeste?
Daniel Lúcio de Oliveira de Souza - Todo investimento em infraestrutura de transporte é importante para a chegada das cargas aos portos com baixo custo. Este imbróglio desmistifica o chavão que ninguém aguenta mais ouvir é que portos são os gargalos logísticos do País. Isto é coisa de estudante nos primeiros meses de um curso de logística. Antes de chegar-se aos portos, há que se fazer uma profunda reflexão em toda a cadeia e ver questões como rodovias, pedágios, ferrovias velhas e obsoletas e o descaso das concessionárias, vide a discussão com ALL em São Paulo e no Paraná.
PortoGente - Com a proximidade das eleições, governadores e prefeitos estão abandonando seus cargos em busca de novas empreitadas eleitorais. Isso deve mudar em alguma coisa a "vida" do Porto de Paranaguá pelos próximos meses?
Daniel Lúcio de Oliveira de Souza - Espero que sim. Precisamos dar uma chacoalhada no time de gestão que temos participado, especialmente na área técnica do Porto. Não sou do tipo que varre sujeira para baixo do tapete, e quando algum jogador do time fica a desejar é hora de trocar. O Dunga faz isto com a seleção brasileira de futebol e o governador Pessuti, que assumiu o governo do Paraná dia 1º último, deverá fazer o mesmo. Caso eu seja substituído, valerá a avaliação do técnico, mas saio com a sensação do dever cumprido nestes quase dois anos à frente dos portos paranaenses.
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Atualizado em 13 de abril de 2010
Superintendente da Appa rebate críticas sobre filas de caminhões
O superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Daniel Lúcio de Oliveira de Souza, rebateu as críticas da consultora e especialista em logística para agronegócio, Elizabeth Chagas, que detonou a reputação dos portos brasileiros em programa exibido recentemente. Ela reclama que as filas para o embarque de grãos no Porto de Paranaguá na última semana são de até oito dias. O superintendente da Appa, por sua vez, afirma que as filas de caminhões entre Paranaguá e Curitiba são coisas do passado. "Hoje o caminhão só deve se dirigir ao Porto depois de cadastrar-se no sistema Carga-Online, onde fica definido qual o terminal que irá descarregar e o navio nomeado para a carga do exportador".
Excepcionalmente, pondera Oliveira, problemas na classificação dos grãos pela empresa especializada podem acontecer em caso de queda de energia, o que pode acarretar em uma "pequena fila de no máximo 10 quilômetros".
O superintendente alega que desde o dia 1º fevereiro, quando começou a chegada de mercadorias da safra de grãos no Porto de Paranaguá, somente em três dias foram registradas pequenas filas.
Quanto às filas de navios, após a dragagem de manutenção realizado em 2009 e que regularizou o Canal da Galheta, recuperando o calado de 12,5 metros, Oliveira aponta que as embarcações estão saindo a plena carga e as esperas são normais dentro dos contratos de afretamento.
"Não tenho dúvidas que o Custo Brasil está muito antes de chegar aos portos, não que estejamos prontos e perfeitos, pois temos ainda muito trabalho a fazer, mas não somos os culpados pelas ineficiências produtivas e logísticas nacionais. Antes de chegar na beira do mar, a cadeia logística e a ineficiência dos diversos modais ainda estão muito onerosos em relação aos portos, apenas o marketing deles é melhor que o nosso".
Website: www.portosdoparana.pr.gov.br