Transformar um complexo portuário que hoje conta com sete berços no hub port no Atlântico Norte é o objetivo do presidente da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), João Castelo Ribeiro Gonçalves. Ele, que já foi governador do estado, aposta na profundidade natural de 27 metros e na posição geográfica privilegiada do Porto do Itaqui para torná-lo um porto concentrador e distribuidor. Para isso, está abrindo licitação para um plano diretor que compreende até o ano de 2040, prevendo que o terminal do Maranhão abrigará 34 berços e liderará todas as principais estatísticas entre os portos do País.
Em entrevista exclusiva, Castelo ressaltou ao PortoGente que os portos são instrumentos fundamentais para a política pública da Nação. “Privatizar porto nem pensar!”. Segundo ele, o Estado tem condições de dotar a logística portuária brasileira de eficiência, desde que busque recursos em parcerias com a iniciativa privada. E é o que a atual gestão busca fazer em Itaqui. “Nós estamos preparando a transformação da Emap em uma S.A. (sociedade anônima). Assim, vamos receber muito capital de risco. Muita gente quer investir em projetos como esse (o plano diretor até 2040). Será extraordinário”.
PortoGente – Embora Itaqui esteja se preparando para os próximos 30 anos, qual a perspectiva da Emap para as operações portuárias em um curto espaço de tempo?
Castelo – A perspectiva é a melhor possível. Itaqui tem uma posição geográfica altamente privilegiada, com condições naturais que nenhum porto no mundo tem. O canal que dá acesso a Itaqui tem 27 metros de profundidade e 1.800 metros de largura. Itaqui tem um porto abrigado com 1.073 hectares de retroárea.
PortoGente – E esse espaço de retroárea já está todo ocupado?
Castelo – Temos cerca de 4.300 hectares ao lado da poligonal (porto organizado), no qual estamos elaborando um novo projeto para a implantação de um grande distrito industrial. Nosso objetivo é transformar Itaqui num porto concentrador e distribuidor. Com os trabalhos (na ampliação) do Canal do Panamá para passar navios maiores, chamados de pós-panamax, Itaqui será privilegiado. É o único porto do Brasil que hoje recebe navios de 40 mil toneladas.
Para Castelo, Itaqui será o porto mais importante do Brasil. "É questão de tempo e de investir".
PortoGente – Com a ampliação do Canal, Itaqui espera se beneficiar com a diminuição das distâncias para grandes pólos econômicos?
Castelo – Hoje, em comparação com outros portos importantes, a distância em relação à Europa e aos Estados Unidos já é muito menor. A diferença do Itaqui para Paranaguá é de nove dias; para Santos é de sete dias; para outros são oito dias. Nessa média, calculando que um navio opera a 50 mil dólares por dia e somando ida e volta, são 800 mil de economia.
PortoGente – Mas já estão preparando novas relações comerciais com a Ásia, por exemplo?
Castelo – Sim, o Porto tem que se preparar. Temos um plano diretor que visa à preparação do Porto para os próximos 30, 40 anos. Isso para quando o Canal de Panamá estiver concluído, Itaqui já estar em parte pronto em sua estrutura para receber toda a demanda, pois na hora em que acontecer isso (a ampliação do Canal) o comércio mundial vai triplicar. Os armadores mundiais, inclusive, estão muito preocupados porque em todo Caribe existe um crescimento de 25 a 30% de vendavais, ciclones e tempestades, o que é perigoso. Os armadores já estão à procura, no Atlântico Norte, de uma área que seja tranqüila e no qual tenha um porto abrigado para concentrar cerca de 700 mil TEUs. E nós temos tudo isso. Nós queremos preparar o Itaqui para ajudar o País no fortalecimento da balança comercial e na geração de muitos empregos.
PortoGente – Para o senhor, planejamento é imprescindível?
Castelo - Estamos pensando à frente para não ser pegos de surpresa. Quando chegar o momento em que o Canal do Panamá estará pronto e, também, com a agroindústria do Maranhão muito forte, temos que estar preparados. Hoje, nós já somos, em tonelagem, o porto que mais exporta no Brasil, com 12,5 milhões de toneladas a mais do que Santos. Aqui se movimenta alumínio, soja, ferro gusa, e tudo isso dá uma quantidade de carga muito grande.
PortoGente – Mas falta ser o primeiro porto em contêiner.
Castelo - Itaqui também está sendo preparado para isso. Para ser o hub port para o Atlântico Norte. Eu reputo, sem tirar o mérito de todos os portos brasileiros, Itaqui como o porto mais importante do Brasil. É questão de tempo e de investir.
PortoGente – Mas, para isso, não são necessários mais incentivos para a utilização da cabotagem e do modal hidroviário?
Castelo - Nós já estamos acelerando o desenvolvimento do Porto. Com os recursos do PAC (Pacote de Aceleração do Crescimento), vamos acelerar a reforma de alguns berços e a construção de outros. A Emap é uma empresa pública de direito privado. Um convênio de 50 anos entre a União e o estado do Maranhão. Nesse tempo, estamos preparando a transformação da Emap em uma S.A. (sociedade anônima). Assim, vamos receber muito capital de risco. Muita gente quer investir em projetos como esse (o plano diretor até 2040). Será extraordinário.
PortoGente – Já que o senhor falou no PAC e no governo, como é a relação da Emap com a Secretaria Especial de Portos (SEP)?
Castelo - É a melhor possível. Nós assinamos com o ministro dos Portos, Pedro Brito, convênios que, com a contrapartida da Emap, somam mais de R$ 200 milhões. Vamos, também, buscar recursos privados de investimento. Não de empréstimo, mas de investimento e de capital de risco, porque todo mundo quer investir num projeto como esse. Somente recursos públicos não dão conta de toda a necessidade. O governo enxergou em boa hora que para o País crescer tem que cuidar de portos, ferrovias e rodovias. Mas como lá atrás cuidou pouco, o dinheiro para cuidar e ajeitar tudo agora é muito grande.
PortoGente - O senhor acredita que o governo tem condição de dar eficiência necessária aos portos?
Castelo – Claro. Se conseguir os recursos necessários para acabar com os gargalos que existem, atinge a eficiência. Não em curto prazo, porque é uma matéria complexa, que não pode resolvida da noite para o dia. Basta dizer que isso é um problema secular. Os portos brasileiros abriram há duzentos anos, e há cem anos já devíamos estar modernizando. Veja a situação do Porto de Santos, que é o mais importante do País. Ele está com problemas gravíssimos. Foram imprensando o Porto e hoje ele está com problemas de retroárea, o que é delicado. O governo, para resolver esses problemas, precisa de muitos recursos; tem que buscar o setor privado que queira participar como parceiro. Agora, privatizar porto nem pensar!
PortoGente - A diretriz dos portos têm que ser pública então?
Castelo - Tem que ser pública. Porto não pode ser privado. Se houver necessidade de uma grande empresa, em determinado local, ter seu terminal privado, ela pode conseguir uma autorização e construir. Mas o porto público é prioridade, porque atende todo mundo. O privado termina fazendo com que haja monopólio e monopólio não ajuda País nenhum a se desenvolver.
Website: www.portodoitaqui.ma.gov.br
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