Nunca o Porto de Santos gerou tanta discussão entre os moradores de Cubatão. O motivo da divisão de opiniões entre os munícipes é a instalação de dois pátios de contêineres no Jardim Casqueiro, bairro considerado por muitos como o último sinônimo de tranqüilidade na cidade, devido a sua localização afastada dos centros comercial e industrial do município.
A cidade de Cubatão pode ser uma alternativa para a falta de espaço na área portuária, já que no município vizinho ao maior porto da América Latina será construído um estacionamento de caminhões com capacidade para cinco mil veículos. O problema é que Cubatão fica sobre uma extensa área de mangue, tipo de solo que não permite o tráfego de veículo e cargas pesadas.
No momento, dois pátios de contêineres serão instalados, sendo um deles em frente ao Bolsão 9 e o outro perto da pista sul da Via Anchieta, às margens do Rio Casqueiro. Há 15 dias o Ibama suspendeu as obras dos dois pátios, alegando falta de documentos que provem a segurança da obra e sua legalidade.
Para Hélio Muniz Filho, o Nego Hélio, do Movimento Trabalho e Cidadania de Cubatão, o projeto é mais que um pátio, mas sim um campo de trabalho para soldadores, pintores, operadores, caldeireiros e ajudantes. “Seria incalculável a quantidade de famílias que se beneficiariam com o pátio. Graças ao Porto, poderemos ter mais renda em nossa cidade”.
Alguns moradores do Casqueiro discordam dessa opinião. Uma evidência disso é o acampamento montado na encosta da Anchieta, onde cerca de 200 pessoas fazem vigília para impedir a instalação dos pátios. Um dos participantes do acampamento, Bráulio Ferreira, diz que não seriam gerados mais que dez empregos, quantidade irrisória perto dos transtornos que um pátio de contêineres causaria ao bairro. “Esse pátio traria, além do movimento absurdo de caminhões de carga pesada, pessoas que buscariam, dentre outras coisas, diversões baratas, destruindo completamente o bairro e acabando com sua característica de um local familiar e tranqüilo”, justificou. Para ele, Cubatão pode auxiliar o processo de expansão do Porto de Santos, mas em áreas próximas a Cosipa e demais indústrias, longe do centro urbano.
Nego Hélio reclama da falta de visão das autoridades e dos moradores do Casqueiro quanto ao problema dos pátios de contêineres e sua relação com a regionalização do Porto de Santos. “Se houver essa regionalização do porto, como que Cubatão vai chegar na mesa de negociação? A primeira vez que se precisou do município para a expansão do porto, ouviu-se um não”, indigna-se.
Já Ferreira protesta contra a prefeitura, por – segundo ele – não ter ouvido a opinião da população e ter oferecido isenção total de impostos pelos próximos dez anos para os donos dos pátios. “Nem pai pra filho faz isso. O nosso prefeito, que tem uma casa lá na beira da praia, também deve cuidar muito bem do patrimônio dele, e não gostaria de ter na porta de sua casa um pátio de contêineres ou qualquer outra atividade que viesse a perturbar o sono dele ou desvalorizar seu imóvel”, ironiza.
O prefeito de Cubatão, Clermont Castor, em entrevista exclusiva concedida semana passada ao site PortoGente, disse que a intenção original ao aceitar os pátios na cidade era a possibilidade de gerar emprego e renda, e que nada poderia ser feito por ele. “Não estou de um lado nem de outro. Estou a favor da lei”, finaliza.
O administrador regional do Casqueiro, Pedro Gomes, enfatiza que nada poderia ser feito pelo executivo municipal, pois a Lei do Solo de 1998, permite a instalação de qualquer tipo de comércio no Casqueiro. No entanto, Gomes afirma que a lei sofrerá mudanças em breve, passando a proibir a instalação de terminais de contêineres, “especialmente em bairros como o Casqueiro, que literalmente fica sobre o mangue”.
Outro ponto que gera discordância é a possível desvalorização do Jardim Casqueiro. Nego Hélio diz que o pátio fica fora da área verde do local, mas sua versão é refutada por Mathias de Oliveira, que também acampa em frente ao terreno do pátio. “Os animais que moravam no mangue estão morrendo, e com o cheiro de carne podre, aumentou a quantidade de urubus na região. Me diz se isso é bom para Cubatão?”, pergunta.
“Isso se tornou um palanque eleitoral do PT no município. Eles querem vetar o projeto porque moram no bairro, como se o Casqueiro pudesse gerar alguma coisa. Eles vão querer um flat no bairro? Não há como escolher investimentos, o pátio de contêineres seria muito bom. Infelizmente, em Cubatão alguns políticos são partidários do lema ’quanto pior, melhor’, o que é lamentável”, desabafou Nego Hélio.