Quarta, 24 Abril 2024

O 6º capítulo do estudo "Baixada Santista - Aspectos Geográficos", editado pela Universidade de São Paulo (USP) em 1965, intitulado "Povoamentos e Caminhos nos séculos XVI e XVII", uma obra de Pasquale Petrone, aponta que: “segundo Frei Gaspar, o primitivo sítio de São Vicente teria sido no fim da praia de ‘Tararé’ (hoje Gonzaguinha), junto ao mar, alguma coisa distante do porto de Tumiarú". Mais adiante, o mesmo texto descreve que "no ano de 1542, já não existia a casa do Conselho e a povoação se tinha mudado para o lugar onde hoje existe". Isso em virtude da destruição da primitiva povoação pela ação do mar.

Diz-nos, ainda, o estudo de Pasquale Petrone que: "Martin Afonso teria mandado abrir uma estrada que começava em São Vicente, seguia pela praia de "Tararé", continuava pela Embaré e ia finalizar no sítio quase de fronte do rio Santo Amaro"

Prestes Maia chama atenção para o fato de que "os danos freqüentes, que a avenida e algumas propriedades marginais sofrem ainda hoje, confirmam que a praia entre a Ilha Porchat e a Ponte Pênsil é muito sujeita a tais ataques" e que "possivelmente, o desastre histórico não resultou dum verdadeiro maremoto, mas apenas de uma ressaca forte".

Por outro lado, na "História da Marinha do Brasil", publicada pelo Serviço de Documentação da Marinha, numa interpretação do "Diário de Pero Lopes", feita pelo comandante Eugenio de Castro, conta: "a esquadra de Martim Afonso adentrou na Baía de São Vicente pelo canal localizado entre a Ilha do Mude (Ilha Porchat) e a de São Vicente". E, conforme observações de Fernando Cardim, em 1585, "a vila de São Vicente foi rica, agora é pobre por se lhe fechar o porto de mar a barra antiga, por onde entrou com sua frota Martim Afonso de Souza”.

Tais afirmativas são relevantes para se entender o que poderia ter ocorrido e que ainda deve ocorrer, em termos de circulação de água, assoreamento na Baía de Santos e erosão na de São Vicente. Assim, entendemos que

1. A corrente fluvial e de vazante do estuário de São Vicente tinha como direção principal a que passa entre os morros da Prainha e Barbosa - Ponte Pênsil e entre o morro do Voturuá e a Ilha Porchat. A direção secundária seria a que, tendo a mesma origem, passaria entre a Ilha Porchat e a Praia de Paranapuã (Garganta do Diabo).

2. Essa corrente principal, após a passagem pela Ilha Porchat, tenderia a tomar a direção Sul. Teríamos, então, em algum ponto da Baía de Santos, a superposição dessa corrente, com aquela, de mesma natureza, procedente do estuário de Santos.

3. A corrente secundária de São Vicente sofreria os efeitos da corrente proveniente da plataforma marítima em sentido contrário, ensejando uma zona de quebra de energia, provavelmente localizada na baía de São Vicente ou até mesmo no Mar Pequeno.

4. Com o fechamento do canal natural entre a Ilha Porchat e o Morro do Voturuá, tendo ocorrido seu bloqueio total na década de 1950, a corrente principal represada origina uma corrente reversa capaz de erodir a praia do Gonzaguinha. Essa nova corrente, cuja intensidade sofre os efeitos de maré, podendo ser exacerbada na conjugação de marés de sizígia com ventos sul ou sudeste e grandes precipitações pluviométricas, retorna em direção à Ponte Pênsil, "lambendo" toda a praia do Gonzaguinha, gerando, nessas ocasiões, refluxos de água nas margens que se assemelham aos que ocorrem na zona de rebentação de ondas. Aqui, no entanto, a grande diferença: "se na onda, como vimos, não há movimentação d’’água neste caso, é só movimento. Se há dissipação de energia na arrebentação da onda, neste caso é o efeito da ação dinâmica da energia que provoca a arrebentação".

Por outro lado, no seu retorno, essa mesma corrente se soma à secundária, projetando a zona de quebra de energia já na barra de Santos, o que ocasiona a deposição de sólidos, sobretudo nas praias de Itararé e Paranapuã. O "engordamento" significativo e muito rápido, verificado em especial na praia de Itararé, parece não deixar dúvidas sobre esse processo.

As medidas adotadas com a construção de espigões junto à praia, aparentemente sem embasamento técnico na época de sua implantação, para redução das erosões da praia do Gonzaguinha de certa forma surtiram os efeitos desejados ao desviar, ao máximo possível, a direção da corrente principal no sentido da secundária. Aumentando, entretanto, o ritmo do assoreamento da praia de Itararé.

Creio ter esclarecido, segundo meu entendimento, os fenômenos ocorridos quando da destruição do antigo povoado da vila de São Vicente e o veiculado pela TV. Sem ondas!

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