A disseminação da COVID-19, o "novo coronavírus", por todo o planeta está alterando drasticamente a rotina de pessoas e de toda a sorte de negócios nos cinco continentes. O pânico é mundial e a sociedade, apesar de muitos avanços na área da saúde, continua sem priorizar um sistema global para controle de vírus. Fronteiras estão sendo fechadas, o mercado do turismo já está em colapso e o fluxo do comércio internacional diminui de modo temeroso, limitado também pela falta de contêineres para o transporte de mercadorias.
Times Square sem movimento de pessoas - Foto: Jeenah Moon/Reuters
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Enfrentar a emergência de saúde é a preocupação número um, observou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, nesta quinta-feira, dia 19 de março, sem deixar de salientar a urgência para desenvolvimento de políticas públicas no sentido de garantir "apoio salarial, seguro, proteção social, prevenção de falências e perda de empregos". No final da noite desta quinta, horário de Brasília, o "Rastreador do COVID-19" disponibilizado pelo buscador Bing, da Microsoft, apontava mais de 243 mil casos confirmados em todo o planeta, ultrapassando o índice de 10 mil óbitos conhecidos. Profissionais renomados da área da saúde alegam que o número real de casos é de magnitude maior, especialmente em regiões em que a população mais pobre não conta com acesso a testes ou tratamentos. O presidente do Hospital Albert Einstein, localizado em São Paulo, estima 15 casos não rastreados para cada paciente com contaminação confirmada.
Editorial publicado pelo The Economist reforça que a luta contra a pandemia é "para salvar vidas e a economia provavelmente apresentará escolhas angustiantes". Também neste dia 19, a China, o primeiro país a registrar casos do novo coronavírus, anunciou pelo segundo dia consecutivo que não foram detectados casos de transmissão local - outras dezenas de casos de viajantes ao País foram registrados, entretanto. É uma brisa de consolo diante do furacão que rapidamente fragiliza a economia mundial. Ainda de acordo com o The Economist, os dados de janeiro e fevereiro mostram que a produção industrial na China, cuja previsão era reduzir 3% em comparação com 2019, caiu 13,5%. As vendas no varejo não foram 4% inferiores, mas 20,5%. E investimento em ativos fixos, que mede os gastos em máquinas e infraestrutura, despencou 24%, seis vezes mais do que o previsto.
Cidade chinesa de Shenyang começaa retomar alguma normalidade - Foto: STR/AFP
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O método de supressão da disseminação do vírus parece estar funcionando na China, mas não pode ser simplesmente replicado em todo mundo, afinal contou com farto aparato estatal, blitz de fiscalização, testes em massa e até drones verificando a temperatura corporal dos habitantes. Tudo sob forte controle de liberdade e de privacidade. Outros países, todavia, utilizam algumas ferramentas, como a Alemanha que organizou "drive trhu de testes" e a Coreia do Sul, nação asiática que investiu em big data e mídias sociais para rastrear infecções e mudou a legislação para permitir ao Estado obter acesso a registros médicos e compartilhá-los sem um mandado judicial. "Em tempos normais, democracias podem achar isso muito intrusivo. Os tempos não são normais", lamenta o artigo do The Economist.
Os gastos extras calculados em trilhões e mais trilhões de dólares mandarão "às cucuias" qualquer compromisso com responsabilidade fiscal e certamente irão comprometer por anos a saúde financeira de países ricos e pobres, causando danos graves e até irreversíveis à sociedade como hoje conhecemos. Afinal, governos como o da Grã-Bretanha e o dos Estados Unidos - e aqui só citados os "poderosos" - demonstram preocupação com a falta de profissionais de saúde, aventais, máscaras, camas e ventiladores para melhor respiração dos pacientes.
Enquanto o mundo aguarda que a supressão realizada pela China e recentemente adotada por países como Itália, Espanha e França possa controlar a pandemia, é preciso considerar a possibilidade de mitigação do novo coronavírus, ou seja, uma tentativa de achatar a curva no gráfico de casos confirmados e de mortes e reduzir o impacto nas economias locais. Neste modelo, o cerceamento às liberdades seria reduzido, mas gigantes as chances da disseminação em massa acontecer algumas semanas após o levantamento das restrições, em um ciclo que necessitaria ser repetido até que a população esteja imune ao vírus ou que seja aplicada uma vacina em massa - China e Estados Unidos anunciaram importantes avanços nesta semana.
Além do sucesso do controle realizado pela China e da reação rápida das nações mais desenvolvidas, a baixa letalidade do COVID-19, as diferentes condições de organização e clima encontradas mundo afora e o intenso envolvimento do mercado global são esperanças de que a pandemia seja rapidamente superada e a economia recuperada com planejamento. Mesmo com a corrida por pesquisas e informações por parte de comunidades científicas, profissionais de saúde e autoridades mundiais, há mais incertezas do que respostas. Será um "jogo jogado", ainda que com intensidade, diariamente.