O presidente do Sindicato dos Portuários de Rio Grande, Rui Eduardo da Fonseca Mendes, afirma ao Portogente que não há crise no setor naval. Segundo ele, o Polo Naval de Rio Grande é responsável por 30% das encomendas da Petrobras (incluindo investimentos em plataformas, dique-seco, construção de cascos) gerando em cinco anos cerca de 40 mil empregos diretos e indiretos. O distrito industrial no Superporto abriga ainda os setores metal-mecânico, de energia, fertilizantes e madeireiro.
Segundo Mendes, o aquecimento do mercado demanda investimentos na implantação e na ampliação de estaleiros de médio e grande porte, aumentando o potencial da capacidade instalada projetada para os próximos anos, destacando-se o Estaleiro Rio Grande.
Mas como nem tudo são flores, Mendes aponta os gargalos na vida em sociedade, pois a região não estava preparada para o aumento de habitantes, o que tem gerado dificuldades de mobilidade urbana, déficit habitacional e outros problemas da vida urbana. Confira detalhes na entrevista:
Portogente - Na avaliação do Sindicato, o que representa para a Metade Sul a manutenção dos investimentos do governo federal no Polo Naval de Rio Grande. Existe de fato uma crise do setor?
Mendes - O ressurgimento da indústria naval promoveu mudanças significativas na economia do país. No Rio Grande do Sul não foi diferente. O setor naval além de requerer um número significativo de mão-de-obra especializada, atrai muitas empresas com interesse nesse nicho de mercado “sistemistas”, visto que é grande a demanda por serviços nas áreas de metalurgia, química e eletrônica. Isso acarreta o fortalecimento do segmento chamado de “navipeças”, que pode ser entendido como uma rede de fornecedores de peças e equipamentos destinados à indústria naval. Os investimentos no setor naval, somente por parte de negócios ligados a Petrobras, incluindo as plataformas, o dique-seco e a construção de cascos geraram em cinco anos algo em torno de 40 mil empregos diretos e indiretos. No distrito industrial, localizado no Superporto, os setores metal-mecânico, energia, fertilizantes e madeireiro também cresceram consideravelmente.
Portogente - Quais os impactos que esses investimentos causam para o desenvolvimento da região, em especial à sociedade e ao setor portuário?
Mendes - O município de Rio Grande vem atraindo inúmeros investimentos devido à implantação do Polo Naval. Se, por um lado, esses investimentos estimulam a economia do sul do Estado, por outro lado também trazem mudanças significativas na sua rotina, causando alterações estruturais e sociais. Rio Grande tem apresentado gargalos na sua infraestrutura em função do aumento populacional ocasionado pela migração devido às oportunidades de emprego no Polo Naval e começa a exibir déficits em alguns serviços. Houve uma forte demanda por serviços habitacionais, o que acabou tornando a oferta de imóveis insuficiente, inflacionando, assim, o mercado imobiliário de Rio Grande. Pode-se notar também uma precariedade no sistema de saúde e um tráfego urbano intenso, visto que o número de veículos em circulação aumentou consideravelmente. Soma-se a isso a posição geográfica da cidade, que é delimitada lateralmente por águas, o que dificulta o crescimento da mesma em termos físicos. Como a cidade nasceu comprimida numa península da Lagoa dos Patos, só poderá crescer em direção a Pelotas e também no sentido sul. Por outro lado, a construção do Polo Naval revitalizou a indústria de bens e serviços de Rio Grande e cidades vizinhas, gerando empregos diretos e indiretos, proporcionados pelo efeito multiplicador do emprego e da renda. O município de Pelotas, distante 56 km de Rio Grande, absorveu em sua rotina os reflexos da implantação e consolidação de um Polo Naval na cidade vizinha. Pela já citada escassez de imóveis em Rio Grande, muitos indivíduos optaram por residir em Pelotas.
Portogente – Há uma crise no setor? Que perspectivas o Sindicato aponta para uma política industrial e de prestação de serviços portuários mais efetiva para a região, de modo a garantir emprego e renda para os trabalhadores?
Mendes - Não há crise neste setor. O Polo Naval de Rio Grande é responsável por 30% das encomendas da Petrobras, tendo entregue em 2013 as plataformas P-55, P-58 e P-63. Até o segundo semestre do ano passado a carteira de encomendas somava US$ 7 bilhões, incluindo as plataformas P-74 (1º Projeto do EBR em São José do Norte), e as P-75 e P-77 – a serem construídas pela empresa QGI. Em relação às perspectivas, a demanda do setor de petróleo e gás por embarcações encontra-se bastante aquecida e tal situação deve se manter no longo prazo, já que a produção offshore tende a se intensificar com a exploração e a produção do pré-sal. O Plano de negócios 296 “BNDES 60 anos – perspectivas setoriais 2012-2016” da Petrobras estimou uma produção de 4.200 mbpd/dia para o ano de 2020, dos quais mais de 90% resultantes de produção no mar. Essa produção demandará a contratação de diversas sondas de perfuração, plataformas de produção e embarcações de apoio marítimo. Esse aquecimento do mercado tem ensejado investimentos na implantação e na ampliação de estaleiros de médio e grande porte, aumentando, de forma relevante, a capacidade instalada projetada para os próximos anos. Entre os projetos de novas plantas de grande porte, destaca-se o Estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul.