Domingo, 24 Novembro 2024
publicado originalmente pelo site Publico, de Portugal

As autoridades australianas deram luz verde ao plano de dragagem de três milhões de metros cúbicos de sedimentos do fundo marinho da Grande Barreira de Coral, que prevê a posterior deposição do material no leito do parque. Esta aprovação era o que faltava para transformar o terminal de Abbot Point no maior porto de carvão do mundo, apesar do protesto dos ambientalistas.

A decisão foi tomada pela Autoridade do Parque Marinho da Grande Barreira de Coral (GBRMPA, na sigla em inglês), responsável pela protecção da maior e mais famosa barreira de recifes de coral do mundo, situado na costa norte do Estado de Queensland. O plano de dragagem e de expansão do porto de águas profundas de Abbot Point tinha sido já aprovado em Dezembro pelo governo federal.

Foto: Patrick Hamilton/Reuters

Porto australiano terá a capacidade aumentada em até 70%

O porto, gerido pela North Queensland Bulk Ports e explorado pelo grupo indiano Adani, está em funcionamento desde 1984 e serve sobretudo para a exportação de carvão. O plano de expansão prevê a dragagem de três milhões de metros cúbicos do leito marinho para permitir a entrada de mais seis navios, aumentando a capacidade de exportação do porto em 70%.

“A área a dragar fica na zona exclusiva do porto e não dentro do parque marinho”, esclarece a entidade responsável pela protecção da barreira de coral, na sua página na Internet. No entanto, o material retirado do fundo do mar será depositado no parque, a 25 quilómetros do porto.

“É importante sublinhar que a área aprovada para a disposição dos sedimentos é composta por areia, silte e argila, e não contém recifes de coral nem leitos de algas marinhas”, afirma a GBRMPA, numa nota citada pela imprensa australiana. A operação estará sujeita a “rígidas condições ambientais”, acrescenta. Os testes já feitos aos sedimentos que serão dragados não revelaram quaisquer vestígios de contaminantes, garante.

O presidente daquela entidade, Russel Reichelt, justifica que a decisão reflectiu a visão de que “o desenvolvimento portuário ao longo da linha de costa da Grande Barreira de Coral deve ser limitado aos portos existentes”. Por estar em funcionamento há 30 anos, o porto de Abbot Point está em vantagem em relação a outros portos existentes na zona, uma vez que exige menor investimento e manutenção.

Corais em perigo, avisam ambientalistas
Na comunidade científica surgiram duras críticas ao projecto. No início deste mês, 233 cientistas assinaram uma carta dirigida à autoridade que gere o parque a pedir que o plano fosse rejeitado, por considerarem que pode danificar a barreira de coral.

Também os ambientalistas estão contra, alegando que a operação põe em risco a vida marinha existente no parque, o turismo e a indústria da pesca, bem como a classificação como Património Mundial da UNESCO, obtida em 1981. E lembram que os sedimentos finos podem “viajar” até 80 quilómetros, ou seja, podem chegar a zonas ricas em coral.

“Pode não haver recifes de coral no local exacto onde vai ser feita a deposição, mas haverá certamente recifes de coral num raio de 80 quilómetros e estes com certeza ficarão em risco”, afirmou Felicity Wishart, da Sociedade de Conservação Marinha Australiana, citada pelo jornal The Australian.

A Grande Barreira de Coral estende-se ao longo de 2600 quilómetros na costa de Queensland e tem quase 3000 recifes de corais, cerca de dez por cento do número total de recifes existentes no mundo inteiro. No ano passado, a UNESCO ameaçou colocar a Grande Barreira na lista de locais em perigo – ou mesmo excluí-la da lista de sítios classificados como Património Mundial da Humanidade – se nada for feito para proteger o litoral até Junho deste ano.

Um estudo do governo australiano realizado em 2011 mas só publicado em Julho de 2013 revelou que, nos últimos 28 anos, o recife perdeu metade dos seus corais, mas foi na última década que se acentuou essa perda: 37% desde 2005. O documento atesta que “os recifes de coral costeiros estavam em más condições”.

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