Importar produtos, para o Brasil, via transporte marítimo, nunca foi tarefa fácil. As taxas são elevadas, a distância, também, e a falta de suporte e infraestrutura, dos portos tupiniquins não é segredo. Contudo, dentro de tantos agravantes e fatores de desestimulação, para os empresários e investidores brasileiros, a burocracia, que esse negócio exige, ainda é o principal entrave. O comandante de um navio estrangeiro, que desembarque no Brasil, precisa entregar, nada menos, do que 190 informações para as autoridades brasileiras. Informações essas, que podem ser enviadas para órgãos, como, a Receita Federal, a Anvisa, a Polícia Federal e a Marinha Brasileira, retardando, em dias, o processo.
Na hora de deixar o país, o drama continua. Em média, treze dias são gastos, no país, para a exportação de um contêiner. Desses, seis são destinados ao preenchimento de papeladas e documentação. Para se ter uma ideia, o país onde se menos leva tempo, nesse processo, Cingapura, exige, apenas, um dia de espera. Nos Estados Unidos, esse tempo, também, é ínfimo: dois dias.
Por essas razões, o preço para se exportar um contêiner, no Brasil, é bem mais do que o dobro do preço cobrado no continente europeu. Se lá, o preço varia entre US$ 1.000 e US$ 1.030, aqui, a taxa para exportação ultrapassa a casa dos US$ 2.200. Somase isso, às filas quilométricas, a falta de logística integrada, as filas de caminhões, esperando espaço para descarregar, a necessidade de esperar horas para embarque e desembarque de mercadorias, no pátio, que teremos a receita do insucesso e da incompetência dos portos brasileiros.
O empresário Gilberto Gaspar, CEO da empresa Instrutoy Pisos, especializada no fornecimento de pisos de segurança, tapetes e estrados de borracha, para ergonomia e produtividade no trabalho, enfrentou, recentemente, problemas com produtos importados do exterior. Para ele, o grande problema dos portos brasileiros é a burocracia: “A dificuldade de conseguir a rápida liberação do contêiner é grande. As informações eram desencontradas, e aquantidade de papeladas que precisava providenciar, para garantir que ele (o contêiner) fosse liberado era enorme. Muito tempo e dinheiro gastos, que prejudicaram a empresa, mas que prejudicam, principalmente, a economia do país, no geral”, declarou Gilberto.
Casos, como o enfrentado por Gilberto, só deixam explícitos os problemas que os portos brasileiros enfrentam. O maior deles, então justamente,o porto de Santos sofre com a sobrecarga e a falta de investimentos precisos, em melhorias, de todo o sistema. Apesar do recorde, em movimentações de cargas, o porto de Santos acumula filas e mais filas de caminhões, nos seus principais acessos. Mais um resultado da complicada burocracia. Caminhões e navios parados significam estagnação e prejuízos, para o consumidor, para as empresas e, o mais importante, para a economia do país, que perde, em média, de 40 à 50 mil dólares, por embarcação retida nos portos. Prejuízo, esse, que acaba parando na conta da população.
Mesmo com a promessa de investimentos na casa dos 1.5 bilhão de reais, a partir do ano que vem, vindos do PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento), as mudanças viárias, na região dos portos, são bem mais urgentes.