O ingresso da paraense Hildelene Lobato Bahia na Marinha aconteceu por acaso, em 1997, quando concluía sua graduação pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Decidiu acompanhar seu irmão no concurso da Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (Efomm) e, para sua surpresa, conseguiu ser aprovada passando a integrar o primeiro quadro feminino do órgão. Com ela mais 13 aspirantes a oficial de máquinas e de náutica tinham o desafio de romper paradigmas e disputar posição de destaque nas salas de aula.
Foi em 2000 que Hildelene se formou. “Minha mãe ficou assustada, eu mesma fiquei, pois abri mão do curso de Ciências Contábeis que estava concluindo para ingressar numa carreira nova e ainda desconhecida para nós mulheres. No começo senti uma certa resistência por parte dos alunos que não aceitavam a presença de mulheres na sala de aula. Mas o esforço valeu a pena”.
A oportunidade de estágio surgiu na Transpetro quando cursava o último ano da Efomm. Durante o período de cinco anos, Hildelene exerceu diferentes atribuições a bordo do petroleiro Lorena BR, acumulando experiência e prática necessárias para o desafio que estaria por vir.
O convite para assumir o segundo posto na hierarquia chegou há um ano e com ele a superação de barreiras. “Havia um preconceito generalizado muito arraigado por se tratar de uma área de domínio exclusivamente masculino, mas isso foi superado. O apoio e a colaboração da tripulação que me acompanhou me encorajaram e hoje agradeço aos que confiaram e acreditavam em mim”.
A primeira imediato brasileira em navios de grande porte reconhece a relevância de sua função. “A figura do imediato é primordial, uma vez que é o elo responsável entre o comandante e a guarnição. Apesar das dificuldades, é uma função dignificante. Aprendemos a vencer as barreiras constantemente”.
De parar o tráfego
O primeiro embarque da imediato foi inesquecível. “O petroleiro estava no estaleiro e todo mundo parou de trabalhar para me ver subindo a bordo, afinal era uma mulher!” Ainda sobre o período que ficou embarcada lembra ter sentido muita falta da família e do namorado, seu grande incentivador.
Sonho a ser vivido
“Desde que me formei como oficial de náutica, meu sonho é um dia ser comandante. Acredito que em pouco tempo terei condições de ocupar esse posto. Vou agarrar a oportunidade com todas as minhas forças quando ela vier”.
Futuro da mulher
A primeira mulher imediato em um navio de tráfego comercial operado no Brasil vislumbra com bons olhos o futuro da mulher na Marinha Mercante. “Haverá muitas mulheres em destaque, em todos os segmentos de bordo e a disputa no mercado de trabalho acontecerá de igual para igual, sem estereótipos do gênero.”
Para aquelas que querem se arriscar na carreira, Hildelene aconselha: “É preciso gostar da profissão, acreditar no trabalho desenvolvido e agir com dedicação, ética e humildade”.
Observação da Editoria: Texto revisto pela reporter, utilizando a denominação "imediato" para a função da personagem, conforme alertado por leitor do saite.